terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ratzinger - Tereza Cruvinel

O CNJ, presidido pelo ministro Joaquim Barbosa, sabe do que fala quando quer proibir patrocínios a eventos de juízes: em 2003, um congresso da AMB foi patrocinado pelo Banco do Brasil, com a verba da Visanet que, segundo o STF, foi desviada para o valerioduto

Há quase 600 anos um papa não renunciava ao trono de São Paulo, o que ajuda a explicar a perplexidade dos católicos (e não católicos) de todo o mundo com a decisão de Bento XVI. Aconteceu em 1415, quando Gregório XII renunciou no auge de uma crise, o Grande Cisma do Oriente, para garantir a unidade. O Vaticano enfrentava o poder concorrente de dois papas dissidentes, o de Avignon (França) e o de Pisa (Itália). As poucas renúncias anteriores também tiveram motivação política, como a de Ponciano, que se tornara prisioneiro do Império Romano, ou a de Bento IX, abatido por denúncias de corrupção. Na Igreja também se faz política, e como! Por isso, o mundo busca uma outra razão, além da idade, para a renúncia de Ratzinger, um alemão conhecido pela racionalidade. Não se conhecendo outra, as apostas recaem sobre a ideia de que ele se antecipou para poder controlar a própria sucessão.

O fato de que ele não estará entre os cardeais que elegerá o novo pontífice pouco significa. O importante é que ele deixa o cargo com prestígio e autoridade suficientes para cabalar votos e influenciar opiniões. Se isso ocorrer, teremos mais um papa conservador e dogmático. Aqui no Brasil, dom Raimundo Damasceno, de Aparecida, citado pela imprensa entre os cinco "papáveis" brasileiros, disse ontem em entrevista coletiva que, seja quem for o escolhido, ele manterá os fundamentos do pontificado de Ratzinger, como inflexibilidade no celibato, valorização da família nuclear e oposição à união entre pessoas do mesmo sexo. Entre os cinco, o mais progressista e dom Claudio Hummes, que celebrava missas para os grevistas liderados por Lula em 1979. Mas, por mais conservador que seja, o futuro papa enfrentará o problema da perda de católicos para outras religiões, que deve ser enfrentado com maior abertura e sintonia com o mundo. Um dos efeitos da renúncia de Ratzinger, eleito em 2005 aos 78 anos, pode ser a escolha de um cardeal mais jovem, assegurando um pontificado mais longo e estável.

Estrategista, ele foi até no anúncio da renúncia: ao fazê-la durante o carnaval, festa essencialmente profana, obrigou o mundo inteiro a fazer uma pausa para pensar no sagrado e na Igreja.

Dez anos no poder

Quis também o calendário que a data de criação do PT, 10 de fevereiro, caísse no domingo de carnaval e passasse quase em branco. Apenas o ex-presidente Lula fez um registro em seu perfil no Facebook. Mas não só para escapar do carnaval o partido este ano mudou a data e o formato da celebração. Vai casar o aniversário com os dez anos no poder. Ou "dez anos de mudanças para o Brasil", como prefere dizer o líder na Câmara, José Guimarães. Rui Falcão, presidente do partido, fala em "dez anos de governo democrático e popular". Nome oficial à parte, a dupla celebração terá vários eventos, começando pelo grande ato do dia 20, em São Paulo, com a presença da presidente Dilma Rousseff, além da de Lula. Dois dias antes, na Câmara, por iniciativa da bancada, será aberta uma exposição iconográfica cobrindo os 33 anos de história do partido, com exibição de documentos históricos, fotografias e vídeos. Treze seminários, informa o líder, serão realizados nas cinco regiões do país, começando pelo de 2 de março, em Fortaleza. Eles acontecerão paralelamente às viagens que Lula fará pelo Brasil, permitindo sua participação no encerramento, sempre que possível. Nesses seminários, segundo Nobre, o PT fará um balanço das "transformações do Brasil iniciadas com Lula e continuadas por Dilma" e a defesa do legado de Lula. Servirão também para produzir os primeiros subsídios para a atualização programática prevista para o congresso do ano que vem.

Não está dito mas, com estes eventos, o PT tenta virar a página dos tempos amargos trazidos pela denúncia e pelo julgamento do chamado mensalão, que cravaram uma chaga moral no partido que nasceu comprometido com a ética. Só com discursos e seminários, não conseguirá isso. Continua pendente a tarefa pedida por Lula, de produção de uma contranarrativa às teses da CPI dos Correios e da Procuradoria Geral da República, acolhidas pelo Supremo. Mas uma coisa, pelo menos, o infortúnio já produziu: uma unidade interna raramente vista nestes 33 anos. Na recente troca de guarda no Congresso, os petistas não brigaram por comissões e cargos de liderança. A reeleição de Rui Falcão para presidente parece assegurada e, mesmo assim, os petistas trabalham para evitar o lançamento de um concorrente pela única tendência disposta a fazer isso: a Mensagem ao Partido, ligada ao governador Tarso Genro.

Reprimenda nos juízes

Na semana passada, o Conselho Nacional de Justiça colocou em pauta uma resolução proibindo que eventos de juízes e magistrados recebam verbas de patrocínio, de entes públicos ou privados. As três entidades que representam os meritíssimos e meritíssimas — Ajufe (Associação dos Juizes Federais), AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) e Anamatra (Associação de Magistrados da Justiça do Trabalho) querem ser ouvidas sobre o assunto. O Conselho, presidido por Joaquim Barbosa, sabe do que está falando. Segundo reportagem da revista Retrato do Brasil, mostrando o verdadeiro destino dos recursos da Visanet que segundo o Supremo foram desviadas para o Valerioduto, até a AMB recebeu parte dele, sob a forma de um patrocinio de R$ 200 mil do Banco do Brasil/Visanet (cartões Ourocard) ao Congresso Nacional da Magistratura, que reuniu mais de 3 mil juízes em Salvador, em 2003.

Fonte: Correio Braziliense

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