sexta-feira, 8 de março de 2013

Cabral rompe contratos: Rio suspende pagamentos até solução para royalties

Após derrubada do veto presidencial, Cabral diz que merenda também está ameaçada.

Governadores de estados produtores de petróleo vão recorrer ao Supremo para recuperar perdas.

No dia seguinte à votação no Congresso que derrubou o veto da presidente Dilma Rousseff e estabeleceu uma nova distribuição para os royalties do petróleo, o governador Sérgio Cabral suspendeu todos os pagamentos do estado, mantendo em dia apenas salários de servidores e transferências a municípios. A decisão atinge da compra de merenda escolar e material hospitalar a investimentos e viagens.

Só ontem, deixaram de ser pagos R$ 82 milhões, de um total de R$ 470 milhões previstos para este mês. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse que deverá cortar 10% das despesas de custeio, e o de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que está "praticamente pronta" uma ação contra a decisão do Congresso.

Pagamentos suspensos

Sem royalties, Cabral garante apenas salários e corta demais despesas, de merenda a investimentos

Henrique Gomes Batista, Roberta Scrivano e Renata Cabral

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA O Rio já sofre com a perda dos royalties do petróleo: ontem, o governador Sérgio Cabral (PMDB) determinou a suspensão de todos os pagamentos do estado, mantendo em dia apenas salários de servidores e transferências a municípios. A decisão do governador ocorre no dia seguinte à derrubada, pelo Congresso, dos vetos da presidente Dilma Rousseff à lei que fixou novas regras de distribuição dos recursos do petróleo, inclusive para campos já licitados. Os cortes, que pegaram de surpresa até secretários de governo, serão indiscriminados e atingirão da mesma forma o pagamento de merenda e material hospitalar, investimentos, viagens e mobiliário, por exemplo. Apenas ontem deixaram de ser pagos R$ 82 milhões, de um total de R$ 470 milhões previstos para este mês.

- É o caos para o governo do Estado, é o caos para os seus municípios. Eu não consigo compreender o que leva a se tomar uma decisão dessa (a derrubada do veto) que não resolverá o problema de nenhum estado brasileiro, de nenhum município brasileiro, e leva a falência um governo do Estado e muitas das prefeituras do Estado - disse o governador ontem pela manhã, afirmando que os recursos do petróleo significam até um quarto da receita líquida de seu governo.

Como a nova regra de distribuição dos royalties ainda depende da publicação da derrubada dos vetos no Diário Oficial, a queda na arrecadação não é imediata. Por isso, a determinação da suspensão imediata do pagamento de despesas pelo governador Cabral está sendo interpretada por interlocutores como um instrumento de pressão, já que o estado irá ao Supremo Tribunal Federal contra a lei dos royalties.

A Secretaria da Fazenda afirmou, em nota, que a suspensão ocorre por tempo indeterminado. "A Secretaria de Fazenda informa que suspendeu todos os pagamentos agendados para hoje, com exceção dos relativos a despesas de pessoal.(...) Os pagamentos estão suspensos até que se tenha clareza do fluxo de recursos com que o Estado poderá efetivamente contar para honrar seus compromissos", explica. O órgão, contudo, não informou quais contratos já foram afetados e quais serão as consequência da suspensão destes pagamentos, tanto no fornecimento de serviços, como no impacto com multas e juros. A princípio, segundo fontes do governo, a suspensão ocorrerá pelo menos até que o STF comece a avaliar o caso.

Cortes e desequilíbrio em ES e SP

No Rio, a perda de receitas está estimada em R$ 75 bilhões até 2020. Apenas este ano, o estado perde R$ 1,4 bilhão, e os municípios, R$ 1,5 bilhão. Já o governo do estado e os municípios capixabas perderão R$ 10 bilhões até 2020, cifra próxima do prejuízo do governo paulista e de seus municípios no período (R$ 10,6 bilhões), segundo cálculos de especialistas.

De acordo com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), haverá um ato político para marcar a entrega das ações diretas de inconstitucionalidade (Adins) contra a nova lei. Cada estado terá seu próprio processo. Casagrande planeja ir pessoalmente ao encontro do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, ao lado de Cabral e do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), quando aproveitarão para conversar com o ministro sobre a causa. Apesar de dizer que está confiante em uma decisão liminar no STF, Casagrande também já planeja cortes.

- Vamos ter que cortar 10% de nosso custeio e parte de nossos investimentos com recursos próprios. Isso afetará o povo capixaba. Somente de custeio seria algo em torno de R$ 200 milhões . Não vamos cortar salários, saúde ou educação, mas outros serviços que vão prejudicar a população - disse.

Em São Paulo, Alckmin disse que a ação que será proposta pelo governo contra a nova divisão dos recursos do petróleo está "praticamente pronta" e terá como base de argumentação o desequilíbrio orçamentário que a mudança das regras causará aos estados e municípios produtores de petróleo.

- Os estados e municípios já contam com os recursos dos royalties no PPA (Plano Plurianual) e na lei orçamentária. Mudar essa regra, tirar esses recursos agora causará um desequilíbrio. É possível ter uma nova regra mas para novos contratos. Vamos defender esse argumento - disse Alckmin .

O secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, criticou a derrubada do veto e disse que "nem a racionalidade nem a melhoria da vida dos brasileiros foram a centralidade desse processo". Sobre a decisão de Cabral, de suspender os pagamentos governamentais, Aníbal disse que "há razão na medida".

- O Rio tem hoje uma participação expressiva dos royalties, que é de bilhões, não milhões. Não sabemos o quanto o estado se preparou para uma decisão assim. Nós podemos encarar essa decisão como uma coisa preventiva, um freio de arrumação - afirmou.

O secretário de Desenvolvimento do estado do Rio, Júlio Bueno, lamentou a derrubada do veto e classificou a atitude dos parlamentares que representam os estados não produtores como oportunista e imediatista:

- Agora, o Supremo terá que resolver. Se ele mantiver o veto, aí é sentar e chorar. Mas temos a presidente Dilma do nosso lado, que alegou inconstitucionalidade. O que levou (os estados não produtores) a brigar pelos royalties foi o imediatismo e o oportunismo, além da carência de recursos

União pode elevar repasses ao Rio

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que o Congresso "se apequenou" ao rejeitar os vetos de Dilma. Paes disse que a cidade não terá suas finanças paralisadas pela decisão, já que a arrecadação dos royalties fica entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões, e garantiu que substituirá os recursos para obras.

- Tenho certeza que o Supremo vai fazer justiça e impedir que esse assalto, essa tunga, aconteça no Rio de Janeiro.

Em Brasília, fontes da área econômica afirmam que o governo federal não vai deixar o Rio "à mingua", caso o estado perca a questão no STF. O principal argumento para um possível apoio do Planalto é o fato de a população sofrer com as perdas dos royalties. O caminho cogitado é aproveitar os convênios que o estado tem com o governo federal. A ideia é incrementar os repasses por essas vias.

A decisão anunciada ontem por Cabral, de suspender os pagamentos, foi mal recebida na equipe econômica. Na avaliação de interlocutores, a medida só piora a situação do estado, porque os fornecedores não têm culpa e podem entrar com ações contra o governo.

Fonte: O Globo

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