sábado, 2 de março de 2013

Crise com PMDB no Rio divide petistas

Lindbergh propõe que partido entregue cargos no governo Cabral, elogiado por Dilma

Cássio Bruno

Em mais um capítulo da crise entre PMDB e PT no Rio, provocada pelas eleições de 2014, o senador petista Lindbergh Farias afirmou ontem que vai propor ao partido entregar os cargos da legenda no governo do peemedebista Sérgio Cabral. O PT ocupa as secretarias estaduais de Meio Ambiente e de Assistência Social, com Carlos Minc e Zaqueu Teixeira, respectivamente. Lindbergh está em Japeri, na Baixada Fluminense, desde quinta-feira, na chamada "Caravana da Cidadania" e ficará na cidade até hoje.

Horas depois, porém, na inauguração do Hospital municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, a presidente Dilma Rousseff elogiou a parceria política com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes.

- A partir do momento em que o Sérgio Cabral foi eleito nós conseguimos fazer uma parceria de qualidade. E eu tenho muito orgulho dessa parceria. Aí, depois, você (Sérgio Cabral) trouxe o Eduardo Paes, e a parceria ficou muito melhor porque era o governo federal, o governo estadual e a prefeitura. Muitas vezes as pessoas acham que o problema é de dinheiro. Problema não é só dinheiro. O problema é (não) ter parceiros da qualidade do governador e do prefeito como eu tenho tido aqui no Rio - destacou Dilma.

A presidente aproveitou que ontem o Rio completava 448 anos e disse:

- Queria desejar um feliz aniversário ao prefeito Eduardo Paes, ao governador Sérgio Cabral e ao vice-governador Pezão.

Em Fortaleza, onde participa do encontro do Diretório Nacional, o presidente do PT, Rui Falcão, também enfatizou a aliança "muito forte" no Rio com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. Uma aliança que, segundo ele, avançou com a eleição do vice-prefeito petista Adilson Pires. Sobre a proposta de Lindbergh de entrega dos cargos, disse que não há nenhuma iniciativa da direção do partido nesse sentido.

- Ninguém falou para ele ou para o partido sair (do governo de Cabral) - disse Falcão. - Queremos manter essa aliança, não só pela eleição da Dilma, mas pelo desempenho dessa aliança. Cada partido tem legitimidade para lançar seu candidato, o processo final vai depender da evolução da conjuntura - disse o dirigente petista, para quem também há espaço para duas candidaturas que, lá na frente, "podem virar uma só":

- Num eventual segundo turno contra uma terceira força, um pode apoiar o outro.

Pré-candidato ao governo do Rio, Lindbergh quer o apoio da aliança nacional PT-PMDB. Cabral, no entanto, escolheu o vice-governador Luiz Fernando Pezão para concorrer. Sem acordo, os peemedebistas fluminenses ameaçam não pedir votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff caso o PT mantenha a candidatura do senador. Em jantar, quarta-feira, no Rio, Cabral pressionou o ex-presidente Lula a convencer Lindbergh a desistir, mas não conseguiu um compromisso.

A proposta de Lindbergh de entregar os cargos será debatida na próxima semana com o PT estadual. O senador, no entanto, descartou propor o mesmo em relação à administração do prefeito Eduardo Paes, também do PMDB. Lindbergh argumentou que o partido é representado pelo vice-prefeito Adilson Pires, eleito na chapa de Paes no ano passado. Na prefeitura, o PT comanda as secretarias municipais de Ação Social, com o próprio Pires, e de Habitação, com Pierre Batista.

- Vamos discutir isso (a entrega dos cargos) dentro do partido e saber como vai evoluir toda essa crise - disse o senador.

Carlos Minc afirmou que está à disposição do PT, apesar de achar a medida fora de hora:

- Essa discussão está precipitada. Mas fui eleito deputado estadual, tenho mandato. Qualquer decisão do PT, eu apoio. Não me apego a cargos.

Já Zaqueu Teixeira não quis polemizar:

- Tenho responsabilidade com a gestão da secretaria. Não vou entrar nessa discussão política.

Em Japeri, Lindbergh visitou um canteiro de obras do Arco Metropolitano, rodovia que vai ligar Itaguaí a Itaboraí, passando por municípios da Baixada Fluminense. A obra, atrasada desde 2010, é uma das principais bandeiras na pré-campanha de Pezão. A previsão é que fique pronta em março do ano que vem, a sete meses das eleições. No local, Lindbergh conversou com os operários.

- É uma obra importante para o desenvolvimento econômico do Rio. Mas é preciso que evitem a ocupação desordenada no entorno - disse o petista.

O senador não se encontrou com Dilma, que estava no Rio ontem. Ele mandou recado para a presidente pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Lindbergh não queria criar constrangimento, já que Cabral e Pezão estariam ao lado de Dilma, como de fato ocorreu. O senador declarou ainda não haver chances de Lula pedir a ele para retirar a sua candidatura.

- Sabe qual é a chance de o Lula pedir para eu tirar a minha candidatura? É zero! - afirmou.

A "Caravana da Cidadania" teve ajuda do próprio Lula, de acordo com Lindbergh.

Fonte: O Globo

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