sexta-feira, 22 de março de 2013

Entrevista - Jarbas busca apoio de Serra e do PMDB para Campos

Raquel Ulhôa

Jarbas sobre Campos: "A pecha de direita não pega, tem formação de esquerda enaltecida por Lula e sua marca tem sido a ousadia"

BRASÍLIA - Após 20 anos de rompimento, hoje o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) está empenhado e "inteiramente à vontade" na articulação da candidatura do governador Eduardo Campos (PE), presidente do PSB, à Presidência da República em 2014. O envolvimento é tanto que ele tentará atrair o ex-governador José Serra (PSDB) para o projeto, se a situação de "desconforto" do tucano no partido continuar.

"Acho que está no meu papel fazer isso. Quando a gente entra numa luta, entra para isso. Agora, vou respeitar a questão dele. Se ele se ajusta diante do PSDB, passa a ser ouvido e se torna uma voz no partido, não cabe a mim tentar puxar o Serra. Só posso fazer isso se ele estiver numa situação de desconforto. Aí eu faço", disse o senador, em entrevista ao Valor.

Amanhã, o senador oferece jantar para Eduardo Campos em sua casa em Recife, reunindo lideranças de vários segmentos, empresários, amigos e artistas.

Valor:O senhor se reaproximou de Eduardo Campos no fim de 2011 e em 2012 apoiou o candidato dele a prefeito de Recife, Geraldo Julio (PSB). Agora está empenhado na construção da candidatura dele a presidente da República?

Jarbas Vasconcelos: Totalmente integrado.

Valor: Desde que assumiu o Senado, em 2007, o senhor é dissidente do PMDB e atua na oposição. Apoiou os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin para presidente. Por que agora não se engajar na campanha de Aécio Neves?

Jarbas: O próprio PSDB sequer está pacificado, unificado. Tem enorme dificuldade para se movimentar e ter um candidato que represente o partido no seu conjunto. Eu, em Pernambuco, tinha de escolher um adversário. Lutava contra o PT e contra o PSB, representado pelo presidente nacional e governador do Estado, Eduardo Campos. A gente estava conversando sobre uma possível coligação para 2014. A situação à qual o PT levou a cidade do Recife em 2012, de estrangulamento e contestação pela população, com o prefeito rejeitado pelo próprio partido, fez com que a gente antecipasse para 2012 uma coligação. O doutor Ulysses [Guimarães] dizia que a gente não pode ter muitos adversários, tem que saber escolher quem que você vai enfrentar. Foi o que fiz em Pernambuco.

Valor: Foi uma circunstância local. Mas por que abandonar a aliança nacional com o PSDB?

Jarbas: Mantive a mesma posição regional e nacional. É uma coisa estratégica para mim. Não foi fácil, porque eu tinha disputado uma eleição em 2010 e tinha sido esmagado nas urnas. Mas tinha que escolher um adversário e escolhi o PT.

Valor: As divergências políticas com Campos foram superadas?

Jarbas: Tinha muita coisa de pessoal pelo meio, muita birra, mas, afinal, a gente lutou junto [no passado], jogou pedra no mesmo local, foi combatente da ditadura. Fizemos parte da Frente Popular do Recife. Fui prefeito duas vezes. A primeira vez fui apoiado por ele e pelo avô, Miguel Arraes. Afinal de contas, fomos pemedebistas. Na prática, foi um reencontro nosso, após 20 anos separados. Voltamos a militar juntos. Estou inteiramente à vontade. Não fiz nenhuma barganha, ele não assumiu nenhum compromisso comigo, de reeleição ou não [para o Senado]. Nem eu assumi compromisso com ele.

Valor: Mas seu projeto natural é reeleição no Senado.

Jarbas: É...

Valor: Por que Eduardo Campos é boa opção? Com qual discurso ele fará oposição à presidente Dilma Rousseff, se ajudou a elegê-la?

Jarbas: Veja, a oposição continua desarticulada, sem unidade. Na única vez em que a gente se organizou, no período anterior, quando fui chamado pelo DEM e pelo PSDB a sentar numa mesa mais ampla, tivemos certa organicidade e derrubamos o chamado imposto do cheque [CPMF]. A gente nunca mais fez isso. Para tentar desestruturar isso que completou uma década de poder, a gente tem que contar com dissidência dentro do arco de forças deles. E a pessoa ideal é o governador de Pernambuco.

Valor: E por quê?

Jarbas: Primeiro porque a pecha de direita nele não pega. Tem formação de esquerda clara, respeitada e enaltecida por Lula. E a marca dele tem sido a ousadia. Percorreu um caminho da modernidade, atrai o setor empresarial e formadores de opinião pública de classe média, que reconhecem que o Brasil avançou, mas por um caminho tortuoso e incompleto. Houve melhoria de renda, as políticas sociais avançaram, mas o Brasil continua ruim na educação e péssimo na saúde. E a qualificação do emprego ainda é muito complicada. O Brasil precisa de ousadia, modernidade, competitividade, investimento em educação. O governador tem feito isso no Estado. Em Pernambuco lutava contra o PT e o PSB, mas a gente tem que escolher o adversário, foi o que fiz

Valor: O discurso, então, será o de avançar mais que Lula e Dilma?

Jarbas: Ele percebeu que essa coisa [governo do PT] é precária. Eu nunca vi Eduardo dizer que Lula e Dilma deixaram de avançar. Ele diz que participou disso aí [da eleição dos dois], que o país avançou, mas poderia ter avançado muito mais. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o Brasil poderia ter avançado muito mais, se não fossem as loucuras de Lula. A mais recente culminou com a insanidade de lançar Dilma à reeleição com tanta antecedência, prestando um desserviço ao Brasil. Não havia necessidade de fazer isso agora, que Dilma está caminhando com as próprias pernas. Com esse lançamento, ele embaraça Dilma, porque o que ela fizer a partir de agora vai parecer eleitoral. E arrastou a oposição, debilitada e frágil, para essa luta. A oposição nem é articulada nem é forte. Não faz nenhum mal dizer isso. Eduardo surgiu muito em cima desse quadro. O Estado não pode ser instrumentalizado como está sendo. É justo o que fizeram com a Petrobras? A Petrobras pode até ter tido algum desvio em governos anteriores, mas não dessa monta, assim como o BNDES está sendo usado para dar dinheiro para empresas precárias.

Valor: Outros pemedebistas insatisfeitos com o atual comando do partido podem aderir a Eduardo Campos?

Jarbas: Vou ajudar nessa questão do PMDB. Há algumas pessoas inconformadas com a última convenção do PMDB [que reconduziu o vice-presidente da República, Michel Temer, para a presidência da legenda], que não foram contempladas. Pessoas que têm história dentro do partido, como as do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Mato Grosso do Sul. Vou tentar reunir essas pessoas e levá-las para ouvir Eduardo, o que ele pensa do Brasil, porque é dissidente do governo e porque acha que pode fazer mais. Acho que está todo mundo interessado em ouvir. É uma avalanche de pessoas interessadas em conversar com ele, ouvi-lo.

Valor: Por que não optar por Aécio?

Jarbas: A gente [da oposição] já demonstrou que não tem força. A gente já foi de Serra e Alckmin, mas o PSDB sequer faz a tarefa de buscar unidade, pacificar. O problema não é restrição a Aécio. Se o PSDB, o maior partido da oposição, não tem pacificação, como é que quer ter um candidato que atraia e unifique a gente?

Valor: Aécio e Serra tiveram uma conversa de três horas. O senhor não acredita em entendimento?

Jarbas: Acho que estão tentando, mas isso devia ter sido vencido, superado. Está tarde.

Valor: As dificuldades da candidatura de Aécio são maiores?

Jarbas: Aécio foi vítima da desarticulação da oposição de um modo geral e dos desencontros do PSDB. Ele não vai mudar o seu estilo. É uma pessoa cordata, civilizada, que jamais vai ser agressivo, contundente. Se ele tivesse encontrado uma oposição mais organizada, dura e combatente, e um partido modificado, é bem provável que tivesse despontado.

Valor: Eduardo Campos pode conquistar boa fatia da oposição?

Jarbas: Sim. Ele não iniciou a jornada, mas está no portal de uma estrada grande, rica e bonita, e vai depender muito dele e da gente, de quem estiver junto dele. Vamos ter um ano muito difícil em 2013, tanto a oposição como Dilma. Ela talvez muito mais que a gente, porque tem a caneta e o poder. A gente vai conviver com a inflação dando sinais de recrudescimento e falta de controle, um Produto Interno Bruto que foi vergonhoso e, se não tiver cuidado, se repete. Tem o problema da industrialização do país, precária, e a falta de competitividade. E o pior, o quinto problema: a questão pontual como ela comanda a área econômica. A economia de um país emergente e continental como o Brasil não pode ser administrada de forma pontual. Tem que ter planejamento estratégico, uma pessoa que fale menos do que o ministro da fazenda e um Banco Central mais centralizado. E tem a falta de investimento no setor elétrico. Imagine se esse país estivesse crescendo a todo vapor? Teria racionamento há muito tempo. Os portos e aeroportos não funcionam, as estradas estão intransitáveis, não tem estrada de ferro. Na proporção que [essa situação de dificuldades] crescer, havendo uma perspectiva de poder, ninguém vai se iludir. Pesquisa de opinião dando Dilma lá em cima não vai mexer com ninguém. Eduardo é uma alternativa concreta.

Valor: Ele é pouco conhecido e o partido é pequeno, enquanto o PSDB, mesmo dividido, é maior, já ocupou a Presidência da República, governa Estados importantes. Como compensar isso?

Jarbas: Eduardo está num partido menor, num conjunto de forças menor, mas o tempo é favorável a ele. A gente já analisou isso. É bem dotada, inteligente, ousada. Sabe que vai ter tempo de debate. É importante ter as outras candidaturas, como Aécio e Marina Silva, para provocar o segundo turno. No segundo turno vai ser uma leitura interessante. A pergunta será: você quer continuar com isso aí, que avançou, mas não o suficiente?

Valor: E o ex-governador José Serra, de quem o senhor é amigo e sempre foi aliado político, está fora do processo eleitoral?

Jarbas: Não. Não acho que esteja fora do jogo, mas tem que ser buscado. Ele não teve um tratamento adequado após a eleição. Não tenho por que fazer ataques ao PSDB, mas estou dando minha opinião. Sou aliado e amigo. O PSDB está na obrigação de resolver isso, pacificar. Vou a São Paulo falar com ele em dez ou 15 dias. A gente tem uma deficiência grande de quadros. E quem tem uma pessoa como Serra nas suas hostes - e não estou falando só do PSDB, mas da oposição - não pode deixá-lo à margem. Serra tem que opinar, ser ouvido. Já disse e reitero: se tem um brasileiro preparado para dirigir o país, é Serra. Se ele vai ser ou não candidato à Presidência pela terceira vez, é outra coisa.

Valor: Se ele apoiar Aécio, vocês não estarão no mesmo palanque?

Jarbas: Estaremos apoiando candidatos diferentes. Mas farei o possível para ficarmos juntos.

Valor: Acredita que pode atraí-lo para o projeto de Eduardo Campos?

Jarbas: Está no meu papel tentar fazer isso. Quando a gente entra numa luta, entra para isso. Agora, vou respeitar a questão dele. Se Serra se ajusta diante do PSDB, passa a ser ouvido e a ser uma voz dentro do PSDB, não cabe a mim tentar puxá-lo. Não vou puxar uma pessoa com a capacidade e a dimensão do Serra para vir para o meu lado. Só posso fazer isso se ele estiver numa situação de desconforto. Aí eu faço. Mas espero que ele supere esses problemas dentro do partido.

Fonte: Valor Econômico

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