segunda-feira, 4 de março de 2013

Quinze anos de tiroteio verbal

O último confronto direto nos palanques foi em 1998 e, desde então, os ex-presidentes mantêm os embates públicos. A menos de dois anos da disputa ao Planalto, eles intensificam as críticas às gestões tucana e petista

Karla Correia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o seminário do PT em Fortaleza, na última quinta-feira, para fazer uma mea culpa do partido em relação ao mensalão. “Somos seres humanos, alguns de nós podem cometer erros, é verdade.” Dito isso, voltou as baterias para a oposição. “Nós não vamos permitir que ninguém jogue em cima de nós a pecha que eles carregaram a vida inteira do jeito de fazer política”, afirmou. Na mira estava o antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem trava uma batalha verbal. A 19 meses do pleito de 2014, as discussões públicas já dão o tom do que será o embate em torno da sucessão presidencial.

A antecipação da disputa presidencial trouxe Lula e Fernando Henrique de volta como protagonistas na arena política, 15 anos depois da última vez que se enfrentaram diretamente nos palanques, nas eleições de 1998. Eleito em 2002, Lula ganhou musculatura política e se tornou o maior cabo eleitoral do PT na última década. Vitorioso em 1998, Fernando Henrique seguiu caminho inverso e passou a ser escondido por seu partido, o PSDB, nas campanhas presidenciais seguintes. Nunca perdeu, contudo, o papel de articulador político dentro da legenda. “Esconder FHC foi um erro estratégico que custou muito caro ao PSDB e, agora, o partido está concentrado em recuperar esse legado de oito anos de governo tucano sob o comando dele”, diz um cacique tucano próximo a FHC.

É em busca dessa “herança bendita” que FHC tem se lançado em viagens. Em Belo Horizonte, durante evento do PSDB mineiro, rebateu uma recente afirmação de Dilma, de que o governo petista não herdou nada da gestão tucana. “O que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu”, disparou, para logo depois acusar o PT de “usurpar” o projeto tucano. “Quem não tem projeto é quem está no governo, porque eles pegaram o nosso. Agora mesmo estão discutindo a privatização da distribuidora de energia elétrica. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpação de projeto.”

Padrinho da provável candidatura de Aécio Neves (MG) ao Planalto, Fernando Henrique tem organizado encontros do senador com economistas para formular o embrião de um programa de governo tucano para 2014. Edmar Bacha, um dos “pais” do Plano Real, é frequente nessas reuniões, assim como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Os esboços do programa e as falas públicas têm se concentrado meticulosamente em pontos considerados fracos da atual gestão, como segurança pública, saúde e o fraco crescimento da economia. No próximo dia 12, o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas deve lançar um livro passando um pente fino na saúde financeira da Petrobras. Fernando Henrique estará presente, com a metralhadora apontada para o governo Dilma.

O discurso de Fernando Henrique é cuidadosamente preparado para enfrentar uma tática que já deu certo por duas vezes para os petistas: a transformação da eleição em uma espécie de plebiscito, onde mais do que escolher entre candidatos, o eleitorado é instado a apontar se deseja ou não a continuidade de um modelo. “Quem teme a comparação é o outro lado. Eles ficavam sem dormir quando eu falava ‘nunca antes na história do Brasil’”, disse Lula, na última quinta.

Fonte: Correio Braziliense

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