segunda-feira, 8 de abril de 2013

A eleição de Arturo Frondizi em 1958 – Caio Prado Jr.

As eleições de Arturo Frondizi para Presidente da Republica da Argentina, e, sobretudo a grande maioria de sufrágios populares que o candidato vitorioso logrou reunir, assinalaram um dos máximos acontecimentos internacionais dos últimos tempos, e tem para os países latino-americanos em geral, e nós brasileiros em particular, um grande significado.

Representam por isso uma lição de que precisamos tirar proveito. Trata-se em primeiro lugar de uma autêntica vitória popular, não apenas no sentido de terem apoiado e sufragado a candidatura Frondizi, as forças legitimamente populares – o operariado, os trabalhadores do campo, as classes médias, a intelectualidade democrática e progressista --, mas também, e sobretudo, porque Frondizi, tanto a sua pessoa como político militante, como seu programa nas atuais eleições, representa e traduz fielmente aquelas forças.

Noutras palavras, não se trata no caso da eleição de Frondizi, como tão freqüentemente acontece (e nós brasileiros conhecemos isso muito bem), de um simples amalgamento ocasional e improvisado de forças eleitorais reunidas à ultima hora através de manobras demagógicas de bastidores, cambalachos políticos e promessas demagógicas à boca das urnas.

Trata-se da vitória de um pensamento que já vem há muito se caracterizando e definindo na opinião popular, e que encontrou no candidato eleito sua expressão. O programa eleitoral de Frondizi se acha desde longos anos na ordem do dia da política argentina. Faltavam-lhe apenas forma adequada e clara definição na consciência coletiva do país – justamente aquilo que a candidatura Frondizi lhe concede.

Consiste esse programa essencialmente nos seguintes pontos: o desenvolvimento da Argentina na base da estruturação de uma economia nacional – isto é, liberta do imperialismo; -- e a democratização do pais, tanto político,como social, isto é, a efetiva participação na vida política de todas as camadas da população, e a segurança dos direitos populares, em particular daqueles que permitem ao proletariado e ao povo em geral lutarem livremente por melhores condições de vida e maior participação na riqueza do país e bem-estar econômico.

São esses os princípios fundamentais do programa de Frondizi. E o candidato legitimamente os encarnava – é essa a expressão adequada – porque não foram forjados por ele às vésperas da eleição e para o fim delas. Trata-se de princípios pelos quais ele se bate há longos anos, em livros, na imprensa, nos comícios políticos, no Parlamento... Frondizi é visceralmente um democrata e um nacionalista (...).

Agora, e pode-se dizer que pela primeira vez em plano tão alto, se acende uma clara luz no confuso e sombrio cenário da política latino-americana: uma ideologia politicamente vitoriosa, claramente definida e delineada, e sem vacuidades, pensamentos ambíguos e saídas dúbias; sem ressaibos demagógicos, sem pretensões paternalistas e caudilhescas, ou tessitura compadresca, sem visos de mendicância ou de chantagem para com aliados opulentos.

Uma ideologia política, em suma, limpa, honesta e de alto nível, longamente amadurecida na consciência de um povo que depois de atravessar as duras provas e pagar muito caro seus erros passados, encontrou afinal um rumo; e por suas próprias forças colocou à frente para nesse rumo o conduzir, o seu concidadão mais representativo, pelo valor intelectual e passado político, daquela ideologia. “Foram isso as eleições argentinas, e é nesse magnífico exemplo que nos devemos mirar”.

Cf. “As eleições argentinas”, Revista Brasiliense nº. 16 março-abril de 1958.

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