segunda-feira, 29 de abril de 2013

Aliança para governar ou coligação eleitoral? - Alberto Goldman

É perigoso o caminho que vem sendo seguido pela presidente Dilma Rousseff para enfrentar e vencer as eleições do próximo ano. Terá consequências ruins para o país.

No início de seu mandato a presidente aglutinou uma ampla frente de partidos políticos, para obter apoio da maioria no Congresso Nacional, sem levar em conta a capacitação dos escolhidos para dirigir ministérios e demais órgãos importantes da administração pública federal. Não levou em conta nem os compromissos dos seus aliados com o interesse público, nem a sua vida pregressa. Assim governou por dois anos sendo obrigada, diversas vezes, a exonerar dirigentes, ou por sua incompetência, ou pelo surgimento de denúncias de corrupção. Isso debilitou, indiscutivelmente, a capacidade de gestão do conjunto do governo central, levando à sua paralisia ou a ações inadequadas com consequências sobre o país.

No período subsequente, já tendo como foco as eleições colocadas no horizonte, Dilma passou a compor a sua equipe de forma a ignorar, ainda mais, a capacidade dos escolhidos para enfrentar os enormes desafios a que o país vem sendo submetido: organizou-a, explicitamente, com pessoas e partidos como se constrói, não uma aliança para governar, mas uma coligação eleitoral. Vale dizer, ao invés de um ministério, com seus diversos órgãos de planejamento e execução, temos uma verdadeira coligação eleitoral que vai enfrentar as eleições no próximo ano.

Nesses termos, não há qualquer hipótese do governo enfrentar os desafios que temos implementando as necessárias medidas que teriam resultado a médio e longo prazo. O que lhe interessa é, apenas, promover ações que tenham resultados a curto prazo, para outubro de 2014, ainda que efêmeras, quaisquer que sejam as consequências para o país nos anos vindouros.

Para isso não se inibe em agir no sentido de impedir a presença de mais partidos que possam se contrapor à aliança majoritária, poucos meses depois de ter incentivado a constituição de partidos que pudessem compor em sua base de apoio, não para a realização de programas em benefício da população, mas para constituir a próxima coligação eleitoral. A mesma lei que lhe serviu antes, não lhe serve mais. Vai também nessa linha o aumento desmedido de ministérios, cargos e órgãos públicos, para cooptar novos aliados e fidelizar os antigos e a conivência com figuras de padrão moral duvidoso para compor o seu governo.

Enfim vale fazer o diabo, como já confessou, para vencer.

A ditadura militar – da qual não tenho saudades - era dura e violenta. Os militares usavam os atos institucionais e os instrumentos de repressão de forma clara, aberta, e isso nos facilitava a sua denúncia. Esse governo que aí está age de forma sub-reptícia, mas obtém os mesmos resultados, através da compra pura e simples da adesão pela entrega de pedaços da administração, quando não através da distribuição de dinheiro, como já se constatou, para que os petistas e seus aliados realizem o banquete que desejarem. Adesão política, ideológica, zero.

O resultado, além do desvio de recursos públicos, é uma administração caótica, de resultados medíocres. Estão aí a retração da indústria, a inflação, a destruição da capacidade estatal de planejar e produzir ( vide petróleo e energia ) , os nós logísticos em todos os segmentos ( rodovias, ferrovias, aeroportos, portos ), a qualidade da formação educacional estagnada, o mau atendimento na saúde da população e assim por diante. E quando a presidente tenta, em um lampejo de estadista, aprovar um projeto que permita modernizar as operações portuárias, fica refém da bandidagem dessa mesma aliança que construiu.

Dilma se demitiu do seu compromisso de administrar o Brasil. Partiu para o seu projeto básico: a sua reeleição. Assim estamos caminhando até o final do seu mandato. Que espero, sendo o seu primeiro, seja o seu último, para o bem do Brasil.

Fonte: Blog do Goldman

Nenhum comentário: