quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quatro perguntas para Luiz Gonzaga Belluzo

A presidente Dilma pediu ao senhor e aos seus colegas conselhos sobre como o BC deve reagir à persistência da inflação?

Fomos convidados a avaliar a proposta de criação de um fundo de reserva dos membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). É claro que o comportamento da inflação, a necessidade de proteger e estimular a indústria, em dificuldade há 30 anos, e o cenário internacional foram avaliados. A obsessão de analistas e da imprensa em cobrar uma alta de juros virou uma doença, um samba de nota só, uma visão de prazo curtíssimo.

O senhor não acha que a evolução do IPCA e as respostas do BC geram ainda mais incertezas?

É verdade que a economia está crescendo pouco e isso é um problema. Mas as perspectivas mais amplas não são tão ruins. Estamos sujeitos ao contexto internacional, que não é bom. Pela primeira vez, começamos a ter noção do que está acontecendo aqui e que respostas estão sendo dadas. Desde a instituição do regime de metas, o Banco Central tem tido dificuldade em atingi-las.

Isso significa que domar a inflação continua sendo um desafio além da política de juros?

Sim. Mesmo após a instituição do câmbio flexível, do maior controle fiscal e das metas, que garantem a estabilidade, a inflação se mostra resistente. A média dos últimos 15 anos, de 5,8%, deixa claro que os índices ainda são influenciados por um resquício de indexação que não permite quedas maiores. Em todo começo de ano, há pressões dos hortifrutis. O vilão da vez é o tomate. O sistema de formação de preços segue uma lógica na qual há todos os agentes econômicos querem indexar pela maior taxa.

Seria o caso de o BC mexer na meta de inflação e ajustá-la à realidade?

Isso acabaria gerando uma expectativa mais negativa. De forma acertada, o Banco Central tem deixado claro que continua caminhando em direção à meta usando os instrumentos que tem. Mas cumprir a meta na paulada provocaria uma desaceleração muito forte da economia. A situação é bem diferente da que vivi quando estive no governo. Na época, os preços se orientavam pela correção monetária, formando uma catraca com salários. É pena que alguns colegas meus leiam tão pouco e façam análises que levam muitos a embarcar em equívocos.

Fonte: Correio Braziliense

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