segunda-feira, 6 de maio de 2013

Balança comercial - Rombo da indústria chega a US$ 100 bi

Diferença entre importações e exportações é maior em eletrônicos, químicos e carros

Setor, que chegou a ter superávit de US$ 5,2 bilhões em 2006, sofre com baixa produtividade, custos elevados de produção e câmbio desfavorável

Com a baixa produtividade, os custos altos e a concorrência de importados, a indústria brasileira acumula déficits comerciais bilionários. O resultado do segmento de manufaturas (cujos vilões são os produtos eletrônicos, químicos, têxteis e o setor de automóveis) passou de superávit comercial de US$ 5,2 bilhões em 2006 para déficit de US$ 94,9 bilhões no ano passado. Em 2013, segundo fontes do governo e analistas, a diferença entre as importações e exportações desses produtos vai atingir US$ 100 bilhões. No setor têxtil, por exemplo, o déficit aumentou 1.834% nos últimos sete anos. Para Fernando Pimentel, diretor da Abit, representante do setor, "a carga tributária continua subindo, a energia elétrica é a terceira mais cara do mundo, a infraestrutura melhorou pouco e a educação é um calcanhar de aquiles.”

Buraco de US$ 100 bi na indústria

Vilões do déficit do setor de manufaturas são eletrônicos, químicos, têxteis e carros

Eliane Oliveira

Balança comercial no vermelho

BRASÍLIA - Problemas estruturais da indústria brasileira - como baixa produtividade, custos altos e perda de competitividade - afetam fortemente a balança comercial brasileira e levaram o segmento de manufaturados a acumular déficits bilionários nos últimos sete anos. O resultado do setor passou de um superávit comercial de US$ 5,2 bilhões em 2006 para um déficit de US$ 94,9 bilhões no ano passado. E o mais preocupante é que a tendência continua sendo de alta. Segundo estimativa de fontes do governo e de analistas do setor privado, em 2013, a diferença entre importações e exportações desses produtos industrializados deverá superar a cifra de US$ 100 bilhões.

Destacam-se nesse resultado os setores químico, têxtil e confecções, autopeças, bens de capital, automóveis e eletroeletrônicos. Nesses segmentos, o déficit cresceu US$ 71,5 bilhões nos últimos sete anos. Pulou de US$ 23,4 bilhões em 2006 para US$ 94,9 bilhões em 2012. Isso revela que os produtos com maior valor agregado se tornaram os grandes vilões do comércio exterior. Em têxteis e confecções, o aumento foi de 1.834%. O déficit pulou de US$ 275 milhões em 2006 para US$ 5,3 bilhões em 2012.

Segundo Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit, entidade que representa a indústria têxtil, o saldo negativo esperado para este ano ficará em cerca de US$ 5,8 bilhões.

- Há um somatório de fatores que vão além do câmbio. Ao longo dos últimos anos, não houve qualquer mudança profunda e a longo prazo para melhorar a competitividade. A carga tributária continua a subir, nossa energia elétrica é a terceira mais cara do mundo, nossa infraestrutura melhorou pouco e nossa educação continuou sendo um calcanhar de aquiles - disse Pimentel.

Infraestrutura é gargalo

Ele destacou que, embora as indústrias nacionais estejam investindo em torno de US$ 2 bilhões por ano, não conseguem suportar a concorrência dos asiáticos, em especial China e Índia. O setor já pediu ao governo algum tipo de medida de proteção, para que consiga recuperar parte do espaço tomado pelos importados. Também estuda entrar com ação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra 27 tipos de subsídios aplicados pelo Estado chinês.

- Costumo dizer que não estamos concorrendo com empresas, mas com governos que subsidiam empresas - disse o dirigente.

Na avaliação do economista Fabrizio Panzini, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), não será surpresa se este ano o Brasil registrar déficit comercial, apesar das projeções mais otimistas no mercado, inclusive da CNI. Os custos das empresas crescem e os preços dos importados são inferiores aos praticados pelos fabricantes nacionais.

- Fortes aumentos dos custos de produção, que têm como fator preponderante salários dos trabalhadores na indústria, provocam essa situação. Medidas que deveriam ter sido tomadas pelo governo para melhorar a competitividade não foram adotadas e agora a balança comercial do país sofre as consequências - disse Panzini.

Assim como Pimentel, Panzini citou como obstáculos à competitividade os gargalos de infraestrutura e logística e a falta de estímulo à formação de quadros profissionais mais adequados à necessidade da economia. Destacou ainda a elevada carga tributária que persiste, apesar das desonerações realizadas.

A diretora de Comércio Exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Denise Naranjo, disse que o câmbio é tão prejudicial às indústrias do setor que, por causa dele, as tarifas de importação são anuladas. Segundo ela, enquanto a produção nacional é a mesma desde 2008, as importações só cresceram, e o déficit do setor subiu de US$ 8,5 bilhões para US$ 28 bilhões, uma alta de 229%. Os principais mercados fornecedores de químicos ao Brasil são a União Europeia (UE) e os EUA.

- Já identificamos crescimento da participação dos países asiáticos no total de importados, de 10% em 2000 para 17% em 2010 - ressaltou.

Técnicos do governo lembraram que o setor químico foi contemplado, recentemente, com a desoneração de PIS/Cofins. O próximo a ser beneficiado com reduções tributárias, inclusive PIS/Cofins, Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), é o segmento de vestuário.

Associação: câmbio é problema estrutural

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Eletroeletrônicos (Abinee), Humberto Barbato, disse que o câmbio passou a ser um problema estrutural. Segundo ele, não há mais no Brasil produção de componentes como displays e semicondutores. O déficit em eletroeletrônicos mais do que triplicou, passando de US$ 10,4 bilhões para US$ 32,5 bilhões.

- Além disso, eletroportáteis, como ferro de passar roupa, secador de cabelo e liquidificadores, praticamente deixaram de ser fabricados no país e agora vêm da China - acrescentou Barbato.

Os setores de autopeças e de automóveis saíram de superávits comerciais de, respectivamente, US$ 1,868 bilhão e US$ 2,683 bilhões, para déficits de US$ 17,4 bilhões e US$ 5,8 bilhões. A concorrência com os importados prevaleceu.

- Do jeito que as coisas estão, o déficit desses setores deverá chegar a US$ 100 bilhões - estimou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.

Ele lembrou que as commodities são responsáveis por cerca de 70% das exportações brasileiras, o que compensa o déficit dos manufaturados. São produtos cotados em bolsas internacionais que não entram apenas na categoria de básicos, como soja e minério de ferro. Por exemplo, suco de laranja e açúcar refinado, classificados como manufaturados, são superavitários.

Petróleo e derivados também pesam no déficit, mas ainda não é possível fazer estimativas, tendo em vista que no ano passado as compras externas realizadas pela Petrobras não foram contabilizadas no prazo e, por isso, vão inflar números do primeiro semestre. Pelos dados disponíveis, as importações desses itens atingiram US$ 35,3 bilhões em 2012 ante US$ 15,2 bilhões em 2006. O Ministério do Desenvolvimento informou que compras externas de petróleo e derivados atingiram US$ 14,4 bilhões nos quatro primeiros meses do ano, valor que leva em conta registros atrasados.

No período, a balança comercial do país acumulou o maior déficit da história: US$ 6,150 bilhões. No ano passado, a balança comercial teve superávit de US$ 19,4 bilhões, o menor desde 2002.

Fonte: O Globo

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