quarta-feira, 1 de maio de 2013

Contas do governo: Superávit fiscal é o pior em 3 anos

A economia para pagar juros caiu 33% no 1º trimestre, a R$ 30,7 bi, pior resultado em três anos. Analistas veem as contas públicas deterioradas

Economia para quitar juros é a menor em 3 anos

No 1º trimestre, superávit de governos e estatais somou R$ 30,7 bilhões. Analistas veem deterioração nas contas públicas

Gabriela Valente, Martha Beck

BRASÍLIA - As contas públicas se deterioraram no primeiro trimestre e encerraram o período com o pior desempenho dos últimos três anos. A economia do governo para pagar os juros da dívida pública - o superávit primário - ficou em R$ 30,7 bilhões, queda de 33% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Só em março, com superávit primário de R$ 3,5 bilhões, o recuo foi de 66% sobre o mesmo mês de 2012.

O resultado - que inclui o esforço feito por União, estados, municípios e estatais - foi suficiente para reduzir levemente dívida líquida, que caiu de 35,6% para 35,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). Mesmo assim, especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que o Brasil vem piorando seu desempenho fiscal e está em desvantagem na comparação com outras economias emergentes como China, Rússia ou Índia.

Expansão de gastos não turbinou PIB

Eles lembram que o governo tem adotado uma política de expansão dos gastos públicos para turbinar a economia. Mas o investimento não reagiu como esperado e o crescimento do PIB ainda não ocorreu de forma significativa. Este quadro, combinado com a crise internacional, está afetando a arrecadação e tornando difícil alcançar a meta de superávit primário.

A estratégia expansionista se reflete na dívida bruta, que vem crescendo e está em 59,2% do PIB. Na metodologia internacional, é de 54,9% do PIB. Na China, o índice é de 31,7% do PIB e na Rússia, de 12,2%.

- A dívida bruta é um dos indicadores que investidores analisam quando olham para os mercados onde querem apostar - afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Para o especialista em contas públicas Mansueto Almeida, o país não está à beira da crise fiscal, mas a recente deterioração trava o crescimento. Ele lembra que o governo tem feito transferências bilionárias para os bancos públicos, como o BNDES, para elevar o financiamento de investimentos, às custas do aumento da dívida.

- Não há perigo de insolvência, mas o aumento da dívida nos faz manter a alta carga tributária, que faz do Brasil um país caro, onde a indústria sofre para competir com o resto do mundo.

O economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, lembra que a carga tributária também se deve às despesas do país, muito elevadas. Os gastos com pessoal, por exemplo, equivalem a mais de 4% do PIB. A Previdência Social consome 7%.

- A curto ou médio prazo, o Brasil pode acabar perdendo investimentos devido a uma percepção do mercado de que o quadro fiscal do Brasil piorou- alerta.

Os dados divulgados ontem pelo BC mostram que o setor público poupou R$ 89,7 bilhões nos últimos 12 meses, equivalente a 1,99% do PIB. A meta fixada pelo governo é de R$ 155,9 bilhões, 3,1% do PIB. A poupança feita nos últimos 12 meses não foi capaz de pagar todos os juros da dívida pública do período. Faltaram R$ 127,5 bilhões para fechar a conta. Assim, o déficit nominal ficou em 2,83% do PIB. Segundo o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, a queda do superávit primário no trimestre reflete as desonerações do governo. E, como há uma defasagem entre a aceleração do crescimento e o aumento de ganhos na arrecadação, o superávit ainda não cresceu.

- A política fiscal está mais sólida. A nossa dívida já chegou a 60% do PIB e está em 35,5% do PIB. Em termos estruturais, nossa situação é muito mais robusta.

Fonte: O Globo

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