sábado, 4 de maio de 2013

Dona Dilma e seus shows televisivos - Alberto Goldman

Durante 12 minutos, e pela décima terceira vez, ouvi um pronunciamento, com direito à trilha sonora, da presidente Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e televisão, entre o Jornal Nacional e a novela. Até fiquei em dúvida se não era uma nova novela, “Salve Dilma”. Desta vez despejou uma série enorme de temas – educação, royalties, emprego, inflação – e dezenas e dezenas de números, que transmite aos que ouvem a impressão de inteligência, seriedade e conhecimento. Torna-se difícil até analisá-los de imediato e essa talvez tenha sido, justamente, a sua intenção. Em termos do número de aparições, está dando um show sobre o seu antecessor.

Sobre a inflação, quase que de passagem, ela diz: “É mais do que óbvio que um governo que age assim e uma presidenta que pensa desta maneira não vão descuidar nunca do controle da inflação. Esta é uma luta constante, imutável, permanente. Não abandonaremos jamais os pilares da nossa política econômica, que têm por base o crescimento sustentado e a estabilidade.”

Pois ela já abandonou, já demoliu os tais pilares construídos antes do período petista. Ou será que índices acima de 6% são índices razoáveis nessa conjuntura em que o crescimento da economia, no ano passado, não chegou a 1%. A nossa inflação é uma das maiores e o nosso crescimento um dos menores do universo. Caso raro!

Entre os números que ela citou me chamou a atenção a “criação, em 10 anos, de 19 milhões de empregos com carteira assinada”. Aí fui ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o CAGED, operado pelo governo federal. E o que vejo? Em dez anos, de 2003 a 2012, o Brasil criou…14.520.658 empregos com carteira assinada. A presidente inchou o dado em 4,5 milhões de empregos. Para ser exato e detalhado conforme o CAGED informa, entre 0 e 2 salários mínimos, criaram-se 20.375.683 empregos, mas acima de 2 salários mínimos perderam-se 5.855.025 empregos! O saldo é o número acima citado de empregos criados: 14,5 milhões, não 19 milhões.

Além disso, é grave, mas naturalmente a nossa presidente não explica: os empregos criados são de mais baixa qualificação e os perdidos são os de melhor qualificação. Isso é coerente com o baixo crescimento econômico: criação maior de empregos nas áreas de serviços que menos exigem do ponto de vista de qualificação e criação menor, ou até perda, de empregos mais qualificados na indústria de transformação.

Com tempo iremos analisando os demais pontos do pronunciamento.

Fonte: Blog Goldman

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