segunda-feira, 6 de maio de 2013

Entrevista - Miro Teixeira confirma que quer concorrer ao Governo do Rio

Mauricio Athayde

As discussões que vêm sendo travadas pelos pré-candidatos nas mídias estão dando o tom da próxima eleição. No entanto, o clima político que começa a tomar conta do país parece não levar em conta o prazo para a próxima campanha eleitoral, que só começará dentro de um ano e dois meses.

Embora haja tempo de sobra para os eleitores conhecerem seus candidatos, o debate em torno de propostas sempre será salutar, seja em que tempo for. Atento a toda essa movimentação, o Jornal do Brasil decidiu abrir espaço para os pré-candidatos ao Governo do Rio de Janeiro para que possam expor seus planos para uma possível administração do Estado. A primeira entrevista será com o mais recente a lançar seu nome ao cargo: o deputado federal Miro Teixeira (PDT).

Miro reafirma sua intenção de ser candidato, colocando seu nome à disposição do PDT. Mas ressalta que vai aguardar uma decisão do partido sobre uma candidatura própria. Surpreendendo o meio político do Rio, Miro se lançou ao Governo do Estado após mais de 30 anos de sua primeira e única vez em que disputou o cargo, sendo derrotado por Leonel Brizola, em 1982. Cauteloso, evitou fazer críticas aos possíveis adversários e destacou que defende a maior liberdade possível para qualquer candidato a qualquer cargo. 

Leia abaixo a entrevista.

Jornal do Brasil – O lançamento de sua candidatura altera completamente a disputa que vem se desenhando no Estado, inclusive com grandes possibilidades de tirar votos de outros candidatos, principalmente do PMDB, que está no governo e que seu partido integra. Na sua opinião, quais as chances da sua candidatura enfrentar outros candidatos que aparecem muito bem nas pesquisas?

Miro Teixeira – A questão a ser encarada diz respeito primeiro ao PMDB, que está no poder e, é claro, que tem uma candidatura muito forte e o PDT participa do Governo. Essa é uma questão que precisará ser discutida no PDT. A minha proposta é exatamente essa. Penso que nosso partido precisa ter candidato próprio, que desde 1998 não temos. O Luppi foi empurrado a assumir uma candidatura, empurrado inclusive por mim, para que o partido tivesse seu candidato. Mas ele não teve nem chance de fazer campanha porque era véspera da convenção. Quanto ao enfrentamento eleitoral, isso faz parte da disputa política que será tratado com a maior serenidade da minha parte, e penso que o debate será muito útil, principalmente para o Rio de Janeiro, pela qualidade dos concorrentes.

JB – O partido, optando pela candidatura própria, terá que entregar os cargos ao Governo. Em que momento o senhor acha que essa discussão deve ser feita pelo PDT?

Miro – Será uma deliberação do partido. Hoje, por exemplo, temos a nível nacional o PSB participando do Governo Dilma e o Eduardo Campos se colocando como candidato à Presidência da República. Os partidos participam de governos que não são chefiados pela sua legenda, mas não entregam a personalidade.

JB – Mas no caso do Eduardo Campos, está havendo um grande mal-estar entre ele e a presidente Dilma. Por conta dessa possível candidatura, as relações estão bastante estremecidas. O senhor não acha que isso pode ocorrer também entre o PDT e o PMDB aqui no Rio?

Miro – Eu não acredito que esteja havendo estremecimento nas relações entre Eduardo Campos e a Dilma porque seria desconsiderar a visão democrática de nossa presidente. Ela é uma pessoa que se formou politicamente lutando contra a ditadura e certamente não proporia a restrição da vida própria dos partidos. Então, eu não vejo esse estresse entre a Dilma e o Eduardo Campos por conta da candidatura dele. O PSB tem dado os votos ao Governo em matérias relevantes. Tem participado intensamente dos debates políticos, sempre do lado da Dilma. Eu não vejo no Parlamento nenhuma alteração do convívio entre o Governo e o PSB por conta da candidatura dele. No nosso caso, chegará um momento que os nossos secretários terão que deixar mesmo os cargos para se desincompatibilizar.

JB – Sua candidatura vem agora, mais de 30 anos depois da primeira e única vez que se candidatou ao Governo do Rio. Como está sendo visto pelo PDT essa sua disposição em ser candidato e como o senhor mesmo está conduzindo a colocação do seu nome como pré-candidato para o partido?

Miro - Acho tão relevante termos uma candidatura própria que a minha proposta foi de uma prévia. Eu não sou candidato de mim mesmo. Não me apresento dessa forma ao partido. Coloco a tese de que o PDT precisa ter um candidato. Disse isso recentemente, num pequeno comício na Cinelândia, em louvor à memória de Leonel Brizola, e quando desci do palanque um pequeno grupo me abordou e afirmou: “Você fala mas não topa ser o candidato”. E eu disse: “Topo. Claro que topo”. Após esse diálogo foi que surgiu minha candidatura. Defendo ainda que nós precisamos ter candidatura própria não só aqui no Rio de Janeiro, mas em todos os estados. Pedi ao partido uma prévia, com os militantes votando. E o militantes também podem decidir ter ou não candidato e até apoiar um candidato de outro partido. Com essa manifestação ampla de nossos quadros, ficarei absolutamente tranquilo. Não fico tranquilo com a deliberação de algum pequeno grupo que diga que nós não vamos ter candidato.

JB – Que grupo seria esse?

Miro – Qualquer grupo, não sei. De qualquer grupo. Se for uma deliberação do conjunto do partido, do coletivo, eu no dia seguinte estarei engajado na decisão que o partido tomar. Só não entendo por que um partido não queira ter candidatura própria. Pode até ter outro candidato, mas tem que fazer a prévia e na prévia eu me inscrevo.

JB – Sua possível candidatura também altera o palanque à disputa presidencial. Como o PDT não tem até agora nenhum candidato à Presidência da República, o lançamento de seu nome poderia ser mais um palanque para a presidente Dilma, o terceiro levando-se em conta a atual base de sustenção. Como seria esse apoio?

Miro – Não percebo que essa deliberação possa ser tomada por mim. Essa deliberação é do partido e no caso seria uma decisão em âmbito nacional, porque o apoio a algum candidato ou lançamento de candidatura própria decorre de uma deliberação da Convenção Nacional. Mas ainda temos muito tempo. Houve o vazamento da minha conversa com a direção do partido aqui no Rio para fazermos a prévia e houve também esse episódio da Cinelândia. Portanto, tudo vai depender da Convenção Nacional do partido. Hoje, considero um luxo o cenário de candidatos que temos à Presidência da República. A começar pela presidente Dilma, Marina Silva, Eduardo Campos, Aécio Neves e, não se sabe mais quem virá. Há quem fale até do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, embora ele não tenha se manifestado em nenhum momento. É um plantel de candidatos de orgulhar qualquer país. O que não podemos ter são barreiras às candidaturas. Os conchavos para segurar a competição acabam ofendendo a democracia.

JB – O senhor está se referindo ao projeto sobre a criação de novos partidos que agora tramita no Senado?

Miro – Não. Estou falando em relação ao que é útil para a evolução democrática do Brasil. Em relação a esse projeto, eu votei contra. Primeiro votei contra sua urgência e depois votei contra o projeto. Não se pode tolher a possibilidade de organização partidária em condições de competição. Nós estaríamos no pior dos mundos se tivéssemos um arranjo legal que impedisse o surgimento de candidatos. Sou inclusive favorável a ter no Brasil a figura da candidatura independente, como há nos Estados Unidos. Devemos pensar em ter essa possibilidade, não para essa eleição, é claro. Acho que faria um grande bem à democracia e ao país essa candidatura independente. Acho que é bastante razoável um cidadão sem filiação partidária, que possa arregimentar um determinado número de assinaturas em pelo menos um terço aos estados brasileiros, e submeter seu nome à apreciação nacional. Por que não? Hoje a legislação não permite isso. Acho que um dia teremos essa figura em nosso meio político, assim como também acho que um dia o voto não será obrigatório, aliás como é hoje. Não há voto obrigatório no Brasil. O que é obrigatório é a presença do eleitor que pode votar ou não; anular o voto, votar em branco. Enfim, o que temos é a obrigação da presença do eleitor.

JB – Caso o senhor venha realmente a ser o candidato do PDT ao governo do Rio, sua campanha poderia ter como um dos principais focos a educação, tema que era bastante caro para o ex-governador Leonel Brizola?

Miro – Educação é um ponto de convergência de todos os candidatos e todos os políticos. É uma marca nossa, assim como a escola de turno integral, que também é uma marca nossa e que deve ser vista não apenas como um direito que as crianças têm, mas um dever do Estado. Com a escola em tempo integral a criança estará melhor habilitada a organizar sua própria vida, a ganhar sua própria vida, a progredir, avançar e não apenas sobreviver com uma bolsa do Estado. Como dizia o Betinho, irmão do Henfil, “quem tem fome quer um prato de comida”. Isso não pode ser ignorado e nem desconsiderado. Uma discussão de programa de governo deve ser travada ao longo de uma campanha. No Rio de Janeiro muitas áreas são prioritárias, como saúde e educação, e eu destacaria o transporte. A mobilidade é extremamente importante no Estado. É preciso inovar na solução de certas regiões do Estado e que só se resolve com o entrosamento da administração estadual e dos municípios. A educação é prioritária, mas não é a única.

JB – Como o senhor avalia hoje a política que vem sendo adotada para essas áreas: educação, mobilidade, saúde, entre outros? Qual a sua opinião?

Miro – Não há essa linha divisória do tempo. Penso que tudo evolui. Por exemplo, o Brasil teve uma inflação enorme e veio o controle monetário que, inclusive, foi reconhecido internacionalmente. Depois disso veio o Lula, que criou uma série de programas a partir desse equilíbrio. Depois veio a Dilma e foi mais adiante. Então, não é por ser um candidato ao Governo do Estado que eu vou desqualificar administrações recentes. Não. Há aspectos positivos como há também aspectos negativos, assim como haverá nas próximas administrações. Na questão da saúde, percebemos muitas mobilizações da área médica em favor da melhoria dos serviços nos hospitais. É muito interessante e avançado nesses movimentos classistas que não reivindicam exclusivamente salário, o que poderia ser também. Mas estamos vendo a luta para se voltar a fazer transplantes em alguns hospitais, para se ter melhores equipamentos e melhoria do atendimento à população. Na área de educação há uma questão delicada. É preciso entender que as escolas são prédios, são paredes. A escola na verdade é o professor. Um professor é capaz de salvar a vida de um aluno, o seu futuro. A escola, portanto, é o professor. É preciso que tenhamos essa cultura e a partir daí, se buscar a melhoria das condições de trabalho dos professores. Hoje há uma clara recuperação do ensino público. Estamos vendo uma razoável quantidade de alunos que saem das escolas públicas e vão para as universidades mostrando um bom desempenho. Esses resultado vêm de uma base que foi construída ao longo do tempo e que não foi graças a grandes programas estaduais, nem aqui no Rio e nem em outros estados. Essa base foi construída porque existe uma coisa chamada “vocação do magistério”. É isso que permite se obter esses resultados. Acho que criar novas condições de aperfeiçoamento do magistério vai acrescentar ao que já existe. Acho ainda que esse aperfeiçoamento deve ser aplicado não apenas ao magistério mas ao serviço público de uma forma geral, com a profissionalização dos serviços, acabando com essa farra de indicações políticas. É preciso que o servidor público tenha acesso aos cargos que permita uma remuneração maior pelo seu próprio mérito. Mas a meritocracia que acabo de defender é uma expressão que está sendo aplicada de maneira equivocada em alguns lugares.

JB – E quanto à segurança que vem sendo vista pela população do Estado como algo já consolidado. Esse, com certeza, será um dos pontos de maior importância da pauta política para o eleitorado. Como o senhor vê essa questão?

Miro – Acho positivo o conjunto de iniciativas do secretário Beltrame. Mas, usando as palavras dele mesmo, é preciso investimento em outras áreas para essas comunidades pacificadas. É preciso colocar escola, é preciso dar saúde, hopitais. É preciso levar os equipamentos sociais a essas comunidades. Se colocar só polícia, o que não é pouco, em algum momento vai dar errado. Esse é um programa que precisa se sofisticar, tem que ser ampliado, indo além do estágio atual. Alcançar o estágio atual foi um grande avanço, mas não pode parar nele.

JB – Como o senhor vê a composição com outros partidos diante da possibilidade de receber apoio no segundo turno e, por outro lado, como seria seu apoio a um candidato, caso o senhor não vá para o segundo turno?

Miro – Essa discussão só será travada por mim, embora publicamente, dento do partido. Se eu não colocar toda a minha confiança numa possibilidade do partido avaliar o que é melhor, eu estarei sendo arrogante, que é algo distante da minha pessoa. Não cogito ter fórmulas acabadas para o que vai se passar. Como dizia um velho filósofo, a realidade é superior ao conhecimento.

Fonte: Jornal do Brasil

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