quinta-feira, 23 de maio de 2013

O jogo nos estados - Tereza Cruvinel

Os partidos brasileiros são nacionais, mas abrigam uma soma de interesses na política real de cada estado, embora isso não signifique que sejam artificiais ou "de mentira". Trata-se de herança da República Velha, dominada por partidos regionais com forte influência nacional. Ela subordina, ainda hoje, a própria eleição presidencial aos arranjos estaduais. Olhemos, pois, para o que vem ocorrendo nos estados. Em muitos deles, estão surgindo movimentos contraditórios com os alinhamentos nacionais, indicando dificuldades tanto para a presidente Dilma Rousseff como para o concorrente da oposição, Aécio Neves, bem como para o governador Eduardo Campos, do PSB.

Desencontro no Rio

Nas últimas horas, a sucessão do governador Sérgio Cabral voltou ao noticiário com o aviso que ele deu ao comando peemedebista, no jantar de anteontem com o vice-presidente Michel Temer, que não apoiará Dilma se o PT não impedir a candidatura do senador Lindbergh Farias. É real a possibilidade de que isso ocorra, pois Lindbergh não está disposto a desistir e a cúpula do PT não tem a menor disposição para repetir as desastradas intervenções do passado na seção do Rio. Cabral tem laços contraparentais com Aécio Neves e o prefeito Eduardo Paes, presente no jantar, já vem colocando alguns tucanos em cargos comissionados em sua administração. Com Lula presidente, Cabral choramingava e sempre era atendida. Com Dilma, isso mudou. E como ela não gosta de ameaças, as coisas tendem a azedar. No próprio PMDB, ouvia-se ontem que o governador, ao esticar a corda, está conseguindo é dar maior projeção a Lindbergh e evidenciar a debilidade de seu candidato, o vice Pezão. Essa querela promete.

Racha no PSD/SC

Pouco dada a gentilezas com seus aliados, a presidente Dilma acertou quando convidou o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) para acompanhá-la na viagem à Rússia. Depois disso, ele se afastou do grupo oposicionista do PMDB e vem costurando uma aliança para dar um bom palanque a ela em Santa Catarina. A chapa teria o atual governador, Raimundo Colombo, do PSD, disputando a reeleição, com um vice do PMDB e um candidato do PT ao Senado. Possivelmente uma candidata, a ministra Ideli Salvatti. O ex-senador Jorge Bornhausen, que se filiou ao PSD levando junto Colombo, que ajudara a se eleger pelo DEM, jamais participará de uma aliança com o PT, ao qual endereçou a frase "vamos acabar com esta raça". Já pensa em deixar o PSD que ajudou a fundar. Se o PT tiver juízo, aceitará o acordo. O partido teve 30% dos votos na disputa de 2002, 14% em 2006 e 12% em 2010. E já perdeu as maiores prefeituras que teve no estado.

Indefinições em Minas

Em Minas, a novidade é a indefinição. Até agora, o PSDB de Aécio Neves não tem candidato certo para disputar a sucessão do governador tucano, Antônio Anastasia. Existem quatro postulantes, mas Aécio precisa combatibilizar a escolha com a montagem de sua candidatura presidencial. Marcou a sagração para o fim do ano. Estão na fila o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana; o secretário Nárcio Rodrigues; e o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro. Corre por fora o vice-governador Alberto Pinto Coelho, do PP, partido que tende apoiar Dilma, embora muitos prefiram Aécio.

Eduardo Campos também tem problemas em Minas. Ele terá por estes dias um novo encontro com o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, cobrando uma definição sobre a candidatura dele a governador para lhe garantir um palanque no estado. O prefeito, eleito com o apoio decisivo de Aécio, resiste. Estaria propenso até a migrar para o PSDB. Campos busca um plano B. O deputado Leonardo Quintão diz ter sido por ele convidado a trocar o PMDB pelo PSB para concorrer ao governo. Quintão é ressentido com o PMDB e com Dilma. Deixou de ser candidato a prefeito no ano passado para apoiar o petista Patrus Ananias, no estrépito do racha local entre o PT e PSB, com a promessa de um ministério. O premiado acabou sendo o deputado Antonio Andrade, hoje ministro da Agricultura. O PT é o único dos grandes partidos que tem candidato certo e em franca movimentação, o ministro Fernando Pimentel. Mas ele pode não ter o apoio do PMDB, onde o senador Clesio Andrade aspira à candidatura e ainda existe o movimento para a filiação do empresário Josué Alencar para disputar o governo. As definições em Minas devem tardar, exatamente porque vão impactar muito a disputa nacional.

Poderes opacos

A OAB celebrou ontem com um seminário o primeiro ano da Lei da Transparência, originária de projeto do senador Alberto Capiberibe (PSB-AP). No dia 27, termina o prazo para que todas as prefeituras disponibilizem contas e dados em sites na internet. Capiberipe até admite dificuldades para as pequenas prefeituras, mas não contemporiza com a desobediência do Poder Legislativo, nos estados, e do Judiciário, que não disponibiliza todos as informações. Nos tribunais estaduais, a opacidade é quase total, diz ele.

Fonte: Correio Braziliense

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