sábado, 15 de junho de 2013

Campos contra a corrente - Merval Pereira

"Quem não quiser pressão, que saia disso", comenta, rindo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mantendo a intenção de se candidatar à Presidência da República em 2014. Na sua avaliação, "eles (o governo) deram uma pressão, fizeram um cerco, achando que era para resolver logo, e não estão conseguindo resolver. Estamos atravessando (as turbulências), convivendo com essa situação, articulando internamente, andando para ver como é que vai ser a composição nos estados".

Campos anuncia que está construindo um entendimento para decidir sobre a candidatura no início de 2014, até por causa dos companheiros que, "por circunstâncias locais", não poderiam se decidir agora, "apostando que o tempo vai me ajudar a acumular forças". Ele confia em que "as contradições regionais e a situação da economia" possam favorecê-lo e, por isso, adiou o anúncio da decisão, que seria em setembro deste ano.

"Uma decisão agora, com a rede rasgada dentro do partido, seria expor o partido a um racha. Por mais que a gente ganhe, não pode rasgar ao meio", argumenta. O prazo de setembro, um ano antes da eleição presidencial de 2014, serve, porém, para testar "quem está num projeto partidário e quem está num projeto pessoal. Quem está num projeto regional e pessoal pode esperar setembro para tomar seu destino. Aí, fazemos certa depuração".

Ele se refere ao prazo mínimo para filiação a outro partido a fim de se candidatar nas eleições do ano que vem. "Setembro é uma data que começa a complicar quem está fazendo o jogo do PT. O cara vai ver que, se o partido tomar um rumo, e ele, outro, a situação vai ficar difícil para ele. Quem ficar depois de setembro vai ter o compromisso com o projeto do partido."

O governador pernambucano acha que foi por essa questão de tempo que o governo deu "essa pressão toda", movido não só por interesse próprio, "como também por gente que está aqui dentro do PSB". O grande fato que Campos comemora é que está fazendo um ano que o PSB decidiu enfrentar o PT lançando um candidato à prefeitura de Recife (Geraldo Julio, que venceu no primeiro turno) e em outros estados do país.

"Nestes 12 meses, quem foi que ganhou?", pergunta, para responder: "Nós (PSB) aumentamos de tamanho, passamos a estar no tabuleiro nacional, nosso pessoal passou a ser prestigiado, e o que é que eles ganharam nestes 12 meses? Tirando São Paulo, não ganharam a eleição municipal, estão metidos em uma situação muito mais complicada do que 12 meses atrás, com muito mais evidência de que há contradições na aliança, sobretudo nos quadros regionais."

Campos diz que, "onde eles atentaram contra nós, a gente foi lá e montou um palanque melhor, que está na frente nas pesquisas". Ele se refere à estratégia traçada pelo vice-presidente Michel Temer, que levou para o PMDB o empresário José Batista Júnior, do Grupo JBS, que era o candidato do PSB ao governo. O PSB reorganizou seu palanque em Goiás com a filiação de outro empresário, Vanderlan Cardoso, e ainda conquistou o apoio do líder do Democratas na Câmara, Ronaldo Caiado.

Agora, analisa, "é ter paciência, e fôlego, para atravessar até a data fatal de filiação". Campos avalia que as pesquisas devem estar deixando mais nervoso para se decidir quem achava que a reeleição era fácil. "Conseguimos passar essa pressão toda, e agora eles estão na dúvida. Como é que devem nos tratar? Porque, se der mais tiro, vitima, se der menos tiro, eu fico vivo".

Ele admite que está lutando "contra forças muito grandes", mas avisa que, apesar das pressões sobre os governadores, "a maioria deles conversa bem comigo. Eu entendo a situação, não tem estresse deles comigo. Mas eles começam a ver também que, o que dizem que vão fazer, não fazem, quando o PT vê no âmbito local o sujeito em uma posição de submissão, começa a ficar arrogante, achando que manda no pedaço, é a prática deles".

Campos diz que, "quando você precisa dar um cerco por cima desse jeito para ganhar a eleição, não é um bom sinal, passa a sensação de fragilidade, e também de truculência". Ele garante que não tinha qualquer expectativa de que as pesquisas de opinião mudem de forma substancial tão cedo. "E não seria nem bom. Imagina se eu estivesse um pouco acima, o que não estariam fazendo? Com 6%, eles estão desse jeito, imagina se tivesse mais."

Fonte: O Globo

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