quarta-feira, 5 de junho de 2013

Geddel é tão conveniente ao PMDB quanto Eduardo Cunha

Por Cristian Klein

SÃO PAULO - O atual pé de guerra entre o PT e o PMDB nos Estados é muito mais parecido com um pôquer do que com uma demonstração sincera de queixas e ameaças bombásticas. O ano pré-eleitoral é repleto de blefes e muitos deles estão sendo praticados pelos jogadores à mesa. A visita da presidente Dilma Rousseff ao Rio Grande do Norte na segunda-feira foi um exemplo de como os pemedebistas estão atrelados aos petistas, embora relutem em dizer o contrário.

O presidente da Câmara, Henrique Alves, ao receber Dilma em seu Estado a cobriu de elogios, em cerimônia para quase 150 prefeitos. Uma das raposas da política brasileira, parlamentar com o maior número de mandatos no Congresso, Alves tem sido um mestre na arte do jogo de morde e assopra, desde que Dilma chegou ao Planalto em 2011. Na arena governamental, dá demonstrações de força ao enfrentar o Executivo, mas no campo eleitoral adula a presidente que exibe altos índices de popularidade.

O pemedebista não teve outro comportamento senão o de aproveitar a oportunidade para capitalizar sua relação com Dilma diante de integrantes de sua base. Outro cacique do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros, também segue estratégia semelhante à de Alves. "Mata" a MP dos Portos no peito e aprova a medida em tempo recorde, mas depois nega outro pedido do Planalto para apressar a votação de novas MPs.

Trata-se do "modus operandi" do PMDB e da política. Mas a tendência é que a legenda apoie a reeleição de Dilma, apesar da resistência de alguns Estados. A ameaça de que seções estaduais do partido poderiam votar contra a coligação com o PT em 2014 faz sentido quando se sabe que o plano regional é a prioridade do PMDB. Mas se a meta número 1 do PT é a eleição à Presidência, há uma divisão de tarefas que dá boa margem de manobra para que ambos não trombem em suas estratégias. Sem contar as moedas de troca em abundância: são 27 Estados, com vagas para governador, vice e senador. Os palanques podem ser duplos, a disputa se dá em dois turnos, e o Executivo federal é pródigo em cargos cobiçados.

O problema para o PMDB é que, enquanto a sigla, supostamente, não se mete no plano nacional do PT, os petistas acabam por atrapalhar seus objetivos nos Estados. É o caso do Rio de Janeiro, onde o senador Lindbergh Farias pretende se lançar contra o pré-candidato do PMDB, o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Ocorre que fustigar o aliado em seu campo preferencial é necessidade e prática corriqueira para sobrevivência de ambos os lados. Do mesmo modo que o PT precisa lançar candidatos aos governos estaduais e ameaça o PMDB no nível regional, os pemedebistas atrapalham o governo federal liderado pelo PT com seus tentáculos que envolvem as presidências das duas casas do Congresso. Que o diga a atuação do líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), praticamente um oposicionista travestido de governista. O mesmo se pode dizer de Geddel Vieira Lima. Apesar de ocupar a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, incensa a rebelião contra o PT nos Estados, a começar pela sua Bahia, onde já disse que será candidato e não apoiará a reeleição de Dilma Rousseff.

Geddel é tão conveniente para o PMDB, no terreno eleitoral, quanto o furdúncio parlamentar provocado por Eduardo Cunha em Brasília. São os bodes colocados na sala. Na hora apropriada, serão retirados de cena, isolados, sem causar a desordem que prometiam. O PT também tem seus bodes. Mas sua grande vantagem é ser o feliz proprietário de animal sagrado, a abelha-rainha que comanda a colmeia política numa sociedade de interesses mútuos.

Nos Estados - e o comportamento de Alves em sua base potiguar é revelador - o PMDB sabe que por uma questão de eficiência eleitoral precisará do apoio de Dilma. Tê-la como adversária, ao lado do ex-presidente Lula, pode ser pior. O mesmo cuidado que o PT demonstra ao tentar neutralizar o perigo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na disputa presidencial, o PMDB também deverá ter para não transformar os petistas em inimigos regionais. A pressão já é grande e talvez explique o alarde.

Os tucanos hoje contam com oito Estados, mais de um terço do total. O PSB conquistou um naco importante em 2010 ao eleger seis governadores, número que tentará manter em 2014. Nesse meio tempo, o PSD surgiu como nova força, e o PP, que não tem nenhum Estado, desponta com uma boa safra de candidatos. Isso tudo se soma ao fato de que dos cinco governadores do PMDB apenas um, o de menor peso, em Rondônia, terá direito à reeleição. Haja blefes e bodes até o ano que vem.

Fonte: Valor Econômico

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