segunda-feira, 24 de junho de 2013

Jogo em aberto - Ricardo Noblat

"É a cidadania, e não o poder econômico,que deve ser ouvida em primeiro lugar"- Dilma Rousseff

É razoável supor que Dilma enfrenta sérias dificuldades para entender o que se passa no país. Se Lula, que é um político esperto, anda pendurado no telefone a pedir, humilde, a ajuda de amigos para tentar decodificar a voz das ruas, quanto mais Dilma, que nem política é, muito menos esperta, e carece de amigos que sejam. Ou de colaboradores informais que gostem dela a ponto de aconselhá-la de graça.

PARA GOVERNAR BEM, um presidente da República tem de se destacar como líder. Não precisa ser um excepcional gestor. Mas líder está obrigado a ser. Como governar sem exercer influência sobre o comportamento, o pensamento e a opinião dos outros — auxiliares e governados? Com seu entusiasmo, o líder contagia os que o cercam. Agindo assim, obtém a adesão deles aos seus planos.

DILMA INFUNDE medo. O medo inibe. Para além de carismático, o líder é um grande comunicador. Dilma não é nem uma coisa nem outra. O líder é persuasivo. Dilma é um chefe mal-humorado e impositivo. O líder é um hábil negociador. Dilma não negocia — manda. O líder é exigente. Dilma é. Não foram poucos os correligionários de Lula que o desaconselharam a indicar Dilma para sucedê-lo.

MAS ELE RESISTIU a todos os apelos. Dizia que Dilma era melhor gestora do que ele. A preferência de Lula por Dilma se escorava em dois principais motivos: ela seria leal a ele. E não seria obstáculo ao seu eventual retorno à Presidência da República. Lula não pensou primeiro no país quando elegeu Dilma sua candidata — pensou nele. E, do seu ponto de vista, acertou. No que importa, ele continua governando.

OS GOVERNANTES modernos não dão um passo importante sem consultar a opinião popular por meio de pesquisas. É assim com Dilma, como foi antes com Lula e Fernando Henrique Cardoso. Espanta que, munido de tantas pesquisas, o staff dela tenha sido incapaz de prever que um gigantesco tsunami estava a caminho. Só acreditamos no que não nos desagrada. E só lemos o que reforça as nossas convicções. Com os governantes não é diferente.

DE TANTO repetir que o mensalão não existiu e de que nenhum governo combateu mais a corrupção do que o dele, Lula acabou acreditando em tais fantasias. Bem como os que renunciaram a pensar com independência para seguir o líder disposto a pensar por eles. A corrupção não impediu Lula de se reeleger, nem Dilma de sucedê-lo. Por que haveria de produzir sérios estragos no futuro? O povo não parecia ligar.

NOS ÚLTIMOS 12 meses, Lula cabalou votos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para absolver mensaleiros e apertou a mão de Paulo Maluf para selar o apoio dele ao candidato do PT a prefeito de São Paulo. Renan Calheiros, que já renunciou à presidência do Senado para não ser cassado, foi eleito presidente do Senado. Está para ser aprovada no Congresso uma proposta que enfraquece o poder de investigação do Ministério Público.

O VICE DE ALCKMIN, governador do PSDB, virou ministro de Dilma sem deixar de ser vice. E o STF ganhou ministros escolhidos com base na esperança de que livrem mensaleiros da cadeia. Resultado: esgotou-se a paciência dos que saíram às ruas para protestar. A repulsa à corrupção está por trás de sua atitude. Por sua vez, Dilma foi forçada a admitir que seu governo ouve as vozes que cobram mudanças.

EM RESUMO: passou recibo de que ou muda ou ficará de fora da próxima eleição. Dilma de fora significava Lula dentro outra vez. Agora, não mais necessariamente

Fonte: O Globo

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