sexta-feira, 21 de junho de 2013

Mais de 1 milhão vai às ruas no País; violência marca protestos

Atos se espalharam por 75 cidades.


Em Brasília, a polícia reprimiu tentativa de invasão do Itamaraty.



22 ficaram feridos no Rio.


Uma pessoa morreu atropelada em Ribeirão Preto • Em São Paulo, houve incidentes entre militantes do PT e manifestantes.


Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais e em dezenas de municípios, novas manifestações levaram ontem mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. A violência marcou os protestos em diversos pontos. Uma pessoa morreu atropelada em Ribeirão Preto (SP). Em Brasília houve tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty. Manifestantes se aglomeraram na rampa de acesso e tentaram invadir o edifício, mas foram contidos pela polícia. Em São Paulo, protestos tiveram incidentes entre manifestantes e militantes do PT, convocados para uma "onda vermelha", que fracassou. Cinco rodovias no entorno da capital foram bloqueadas. No Rio, confrontos deixaram 22 feridos. Em Porto Alegre houve saques a estabelecimentos comerciais. Em Salvador, manifestantes e Tropa de Choque entraram em confronto. Nas redes sociais, novas bandeiras eram discutidas. Em meio às reivindicações sociais e políticas, se destacou um slogan: "Sem partidos".


Um milhão de pessoas protestam em 75 cidades; 1 morreu em Ribeirão Preto

Tânia Monteiro, João Domingos

• Mesmo com redução da tarifa, atos são violentos em diversos locais • Ao menos 96 pessoas se feriram no País • Em Brasília, multidão ateou fogo a colunas externas do Itamaraty e Esplanada dos Ministérios foi tomada por gás lacrimogêneo • Motorista irritado com manifestação atropelou e matou um no interior • Protesto em SP reuniu 100 mil • Multidão pede atos apartidários.

Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais – e em metade das cidades da Região Metropolitana de São Paulo -, novas manifestações levaram ontem mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. E a violência voltou a se destacar: pela primeira vez desde o início das manifestações, há 15 dias, uma morte foi registrada, quando um motorista avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto. Pelo menos outras 96 pessoas ficaram feridas, 62 só no Rio. Em Brasília, 12 foram hospitalizados.

A cena que mais chamou a atenção, à noite, foi a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty, em Brasília. A polícia tentou conter os invasores com gás, mas o prédio teve janelas quebradas e focos externos de incêndio. Além disso, a paisagem da Esplanada dos Ministérios foi tomada pelo gás lacrimogêneo e até a Catedral se tornou alvo de vândalos.
Após duas semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Antes, o Congresso Nacional, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de protestos. Ontem, com novas bandeiras para o movimento sendo discutidas no Twitter e no Facebook e em meio às reivindicações sociais e políticas diversas que eram ouvidas, um novo grito destacou-se: "sem partidos". Integrantes dessas agremiações foram proibidos de erguer bandeiras por todo o País e o PT viu fracassar a convocação de sua "onda vermelha". Houve confronto até entre manifestantes dos "sem partido" e os do "sem fascismo". Mas o caráter multifacetado do movimento já preocupa especialistas e analistas políticos, que falam em "mal-estar" da democracia no Brasil.

Em São Paulo, a manifestação chegou à Câmara, à Assembleia e à sede da Prefeitura, mas sem confrontos – na Paulista, o tom de festa venceu. No entanto, as consequências da redução de tarifa ainda eram avaliadas por Fernando Haddad (PT), que passou o dia refazendo contas. Há pelo menos três hipóteses para cobrir o deficit financeiro provocado pela revogação do aumento da tarifa. De certo, o governo municipal aponta que o ritmo dos investimentos na cidade vai cair.

Ainda ontem, a Justiça de São Paulo mandou soltar os quatro estudantes do Mackenzie e outras dez pessoas presas em flagrante e acusados de atos de vandalismo nos protestos de terça-feira, na região da Avenida Paulista. Eles ainda vão responder por formação de quadrilha, resistência, crime de dano, desacato e incêndio. Já a Prefeitura vai cobrar do estudante de Arquitetura Pierre Ramon Alves de Oliveira, de 20 anos, os danos que confessou ter causado à sede do Executivo municipal, na tentativa de invasão, na terça-feira.

Lula suspende ida a Goiânia por temer passeata

Preocupados com manifestações anti-PT, integrantes da cúpula do partido cancelaram a ida do ex-presidente Lula, na quarta-feira, à festa dos 33 anos da legenda em. Goiânia (GO).

O discurso de Lula estava previsto para 19h. 0 partido foi informado de que uma concentração de manifestantes sairia pela Avenida Bandeirantes de Goiânia, a cerca de 0 km do Centro de Convenções, onde ele falaria.

Oficialmente, o ex-presidente informou que o cancelamento se devia a compromissos em Sao Paulo e à preparação de nova viagem à África. Procurados pelo Broüdcast Político, dirigentes do PT em Goiás disseram ter sido informados pelo Instituto Lula de que um dos motivos seria evitar manifestações contra o partido.

“Houve uma avaliação de que nesse momento poderiam usar o evento de forma política. As manifestações seriam levadas até o evento. Para que dar munição para isso? considerou. O secretario-geral do PT em Goiás, Sérgio Alberto Dias.

0 vice-presidente da legenda no Estado, Donisete Pereira, lamentou o adiamento determinado pelo Instituto Lula. “Já estava tudo pronto, já havia uma agenda-mento de dez dias”, lamentou. “É evidente que esse ingrediente (a ameaça de manifestantes se dirigirem ao evento) deve ter pesado.” Ainda não foi marcada nova data para a festa.

Dilma censura chamado do PT para as ruas, lança pacote e cancela viagens

Diante do clima de instabilidade vivido pelo País por causa das grandes manifestações de jovens e praticamente sitíada no Palácio do Planalto, r que teve de ser protegido pelo Exército^ a presidente Dilma Rousseff viu-se ontem í obrigada a enquadrar a direção nacional do PT, que estimulou militantes a se unirem aos protestos das ruas, costurou com urgência um pacote . para a juventude e cancelou as viagens que faria para Salvador hoje, e para o Japão na semana que vem.

Diante do clima político tenso e confuso, Dilma irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamado os militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre, na Avenida Paulista. Falcão tinha convocado petistas para as manifestações de ontem em comemoração à redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag "#ondavermelha" no seu perfil do Twitter.

A preocupação do Palácio do Planalto e de vários dirigentes petistas era com a reação dos manifestantes, que rejeitavam a presença de partidos nos protestos. Parte dos políticos do partido previam que a incitação petista poderia dar fôlego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou ocorrendo (veja a cobertura dos protestos em Metrópole).

Em outro documento, uma nota do PT nacional, Rui Falcão revela a busca do partido por : um novo discurso político, que | vai além da inclusão social tão : destacada pelos governos Lula e Dilma. Em seu primeiro parágrafo, Falcão afirma que os movimentos "colocam na ordem ; do dia uma nova agenda".

O "convite" aos petistas no Twitter, porém, foi considerado um desastre dentro do PT. Dirigentes alertaram o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem se credenciado como o consultor político de I Dilma, sobre o risco de embate entre petistas e manifestantes.

A principal preocupação de boa parte do partido é que ao ! misturar o PT nas ruas num mo: mento de tensão o próprio parti; do dê munição a adversários pa; ra que transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma diretamente, que, até o momento, não são o alvo central.

IMas o assunto divide opiniões, Uma ala de assessores palacianos acha que o PT tem direito de ir para as ruas e de fazer manifestações já que é considerado um partido de massas e de mobilizações, com uma ampla militância e pode ter detectado a necessidade de se conectar melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em uma manifestação que é apartidária, pode apenas expor o partido, o governo, e a própria presidente.

"Piada" na rede - O chamamento de Rui Falcão foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participação do PT nas manifestações."Piada do dia", "somos apartidários", "sai pra lá aproveitadores" e "oportunismo canalha" foram algumas das "críticas que se fizeram seguir à orientação do dirigente petista.

"Eles são contra o governo : Dilma. E o PT é o governo Dilma. Ir para a rua só se for para : apanharmos", disse o deputado ; Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve : vontade de ir para o meio da multidão. "Não fui porque não fui chamado. Não sei se me aceitariam", disse ele.

Pacote - O pacote para a juventude do governo federal deverá oferecer um reforço no programa Ciências sem Fronteiras, ampliação do acesso às universidades, com a criação de novos programas sociais ou turbinando os já existentes, além da criação de projetos sociais para a i juventude que está se formando, além de aumento nas vagas : do ensino técnico.

Com as manifestações ontem, pelo segundo dia seguido a ! presidente Dilma Rousseff não : saiu do Planalto para almoçar no Palácio da Alvorada, residência oficial, que também recebeu reforços policiais.

Dilma decidiu cancelar a viagem porque avaliou ser temerário ficar fora do País por mais de uma semana,

Oposição- A ex-senadora Marina Silva usou metáforas para falar da intenção de partidos de irem às mas. "Navegar o rio depois que ele transbordou é o que todo mundo faz. Difícil é trabalhar o curso do rio enquanto está cavando a terra." "O PT - vai dizer o quê? Esse é o maior movimento depois do Diretas Já, Contesta os dez anos do governo do PT, Para mim, só se for para o PT fazer o mea culpa", alfinetou o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

Fonte: O Estado de S. Paulo

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