terça-feira, 25 de junho de 2013

MPL: governo está despreparado para debater transporte coletivo

Dilma recebeu, em Brasília, movimento que forçou queda da tarifa em São Paulo

André de Souza, Paulo Celso Pereira, Luiza Damé e Sérgio Roxo

BRASÍLIA e São Paulo Após a primeira reunião entre a presidente Dilma Rousseff e representantes do Movimento Passe Livre (MPL), os manifestantes que pararam São Paulo nas duas últimas semanas receberam a promessa de diálogo contínuo e afirmaram que a presidente está despreparada para debater a situação do transporte coletivo no país. Um dos integrantes do movimento chegou a dizer que a reunião foi insatisfatória e que as manifestações nas ruas continuam. Segundo outra integrante do MPL, a presidente disse que é inviável a principal bandeira do grupo: a tarifa zero para o transporte público.

Quatro integrantes do movimento estiveram no Planalto, com passagem e hospedagem pagas pela União. Antes do anúncio dos cincos pactos para atender às demandas populares, Marcelo Hotimsky, coordenador do MPL, afirmou que a presidente disse compreender o transporte público como um direito e falou que trabalharia pelo controle social dos gastos em transporte.

- A gente viu a Presidência completamente despreparada. Eles não mostraram nenhuma pauta completa para modificar a situação do transporte no país, que é de fato muito precária. Eles mostraram uma incapacidade muito grande de entender a pauta do momento, falaram que vão estudar e abriram este canal de diálogo - disse Hotimsky.

Mayara Vivian, do MPL de São Paulo, disse que é importante ter diálogo com a Presidência, mas que isso não basta: é preciso ter medidas concretas. Para a integrante do MPL, a presidente falou da inviabilidade da tarifa zero para o transporte público.

- (A presidente) disse da inviabilidade (da tarifa zero), mas para a gente é uma questão política, e não uma questão técnica. Se tem dinheiro para construir estádio, tem dinheiro, sim, para tarifa zero. Se tem dinheiro para Copa do Mundo, tem dinheiro, sim, para a tarifa zero - afirmou Mayara.

Pelo governo, o ministro Aguinaldo Ribeiro afirmou que esta é a primeira de várias reuniões com o movimento. Disse também que uma das propostas discutidas foi a municipalização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre os combustíveis. Esse é um pleito dos prefeitos a fim de ter mais recursos para investir no transporte público. Já a discussão da tarifa zero ficará para outro momento.

- Essa é um discussão que se fará em outro horizonte de prazo, até porque o sistema de transporte tem um custo. E a questão de gratuidade é alocar, saber como se pagará essa gratuidade - disse Aguinaldo.

Segundo ele, apenas reduzir a tarifa não basta se a qualidade do serviço continuar a mesma.

- Não adianta reduzir a tarifa fazendo com que o usuário leve o mesmo tempo no transporte que se tem hoje. Ou seja, você tem um transporte de má qualidade. Investir em infraestrutura é também reforçar a política de nível do serviço, de qualidade do serviço no transporte público coletivo - sustentou o ministro.

Mobilização na periferia de São Paulo

Depois de anunciar que não convocaria novas manifestações após a suspensão do reajuste da tarifa do transporte coletivo em São Paulo, o MPL participará hoje de três protestos que serão realizados na periferia da capital. O objetivo é deixar claras as bandeiras de esquerda do movimento. Nas manifestações de hoje, serão defendidos: a desmilitarização e o fim da violência policial; saúde e educação em padrão Fifa; controle sobre o valor dos aluguéis; tarifa zero no transporte público; e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

Esses protestos não serão organizados diretamente pelo MPL, mas estão sendo divulgados na página do movimento no Facebook. Até as 20h de ontem, 6,6 mil pessoas haviam confirmado presença nas manifestações.

"Quem não luta pelos trabalhadores não nos representa", diz a página de convocação para os protestos previstos para começar às 7h. Os pontos escolhidos para a reunião são uma estação de metrô, uma estação de trem e uma praça, todas em bairros carentes da cidade.

A organização é de responsabilidade das organizações Periferia Ativa, Resistência Urbana e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). "O fato de alguns grupos estarem tentando desviar a luta para objetivos abstratos e pouco claros não deve impedir os trabalhadores e a juventude da periferia de ir às ruas", afirma o anúncio de convocação na internet.

Fonte: O Globo

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