sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Brasil nas ruas - Menos protestos, e mais um morto

Os protestos pelo país foram menos intensos ontem. No Centro do Rio, num ato contra “ a violência policial e a corrupção, cerca de 5 mil pessoas marcharam até a sede da federação das empresas de ônibus.

O comércio sofre perdas de R$ 350 milhões a cada dia de manifestação.

No Guarujá (SP), um jovem de 16 anos morreu atropelado por um caminhoneiro que desviava de um protesto. Jovens de países da América Latina, como Chile, Paraguai e Costa Rica também saíram às ruas em atos contra governos e políticos

Dia de protestos e negociações

Manifestantes retomam atos em todo o país, enquanto políticos tentam dar resposta aos protestos

Gustavo Goulart, Sérgio Ramalho e Vera Araújo

Enquanto a Polícia Federal caça o deputado federal Natan Donadon (RO), expulso do PMDB e foragido da Justiça depois de receber ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pelas condenações de peculato e formação de quadrilha, milhares de brasileiros voltaram às ruas ontem para pedir o fim da corrupção e melhores serviços públicos. As manifestações, porém, foram menos intensas.

No Rio, pelo menos cinco mil pessoas protestaram contra a impunidade e por mais dinheiro para a Educação, entre outros temas.

Em Brasília, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) resolveram mostrar a cara, duas semanas depois do início da onda de manifestações.

Em Fortaleza, após uma grande protesto pacífico, vândalos tentaram furar o bloqueio da polícia no perímetro de segurança do estádio do Castelão, onde ocorria a partida entre Espanha e Itália, e provocaram novas cenas de violência. Em Salvador e Porto Alegre também houve protestos, com número menor de manifestantes, em relação aos dias anteriores.
Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff obteve, no Palácio do Planalto, o sinal verde dos partidos aliados ao governo para propor um plebiscito para fazer a reforma política. A base governista já discute incluir entre os temas do plebiscito o fim da reeleição e a ampliação para cinco anos do mandato do presidente da República. A ideia de plebiscito, porém, é rechaçada pelos partidos de oposição, que prefere realizar um referendo.

Juntos, PSDB, DEM e PPS emitiram nota na qual chamaram de "tentativa de golpe" a fracassada ideia de Constituinte para tratar do assunto. E defenderam, no lugar de um plebiscito - no qual os temas de reforma política seriam diretamente tratados pela população -, um referendo, em que o Congresso discutiria as mudanças na legislação e submeteria o resultado do debate parlamentar aos eleitores. Para a oposição, o governo tenta desviar o foco dos problemas sociais ao focar a discussão sobre a reforma política.

Manifestação pacífica ocupa o Centro do Rio

PMs reforçam a segurança da sede do Legislativo e da federação de ônibus

Milhares de pessoas voltaram a ocupar de forma pacífica as ruas do Centro do Rio ontem à tarde, numa manifestação organizada pelo Fórum de Lutas Contra o Aumento da Passagem. Cerca de cinco mil pessoas participaram do ato, de acordo com o 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM). A Avenida Rio Branco foi totalmente interditada na altura da Presidente Vargas, que chegou a ficar bloqueada, nos dois sentidos, entre a Avenida Passos e a Candelária, onde a concentração começou. Depois de chegarem na Cinelândia, o grupo seguiu pela Rua Araújo Porto Alegre e ocupou a Avenida Presidente Antônio Carlos, que foi fechada. A passeata seguiu sem confrontos pela Rua Primeiro de Março até a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), parou em frente à sede da Federação da Empresas de Transporte do Rio (Fetranspor), na Rua da Assembleia, e voltaram para a Cinelândia.

Diferentemente dos outros dias de protesto, em que manifestantes com bandeiras de partidos políticos foram hostilizados, desta vez sindicatos e membros de partidos participaram do ato sem ser incomodados. Alguns manifestantes levaram instrumentos musicais e formaram uma banda em meio ao protesto, que teve cartazes com dizeres e palavras de ordem contra a violência policial, a corrupção, a falta de verba nas universidades, defendendo melhor qualidade de ensino na universidade pública.

O protesto foi marcado uma plenária que reuniu cerca de mil pessoas no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, no Centro, no início da semana. Na página do evento no Facebook, mais de 9 mil pessoas haviam confirmado presença no protesto. A Polícia Militar mas informou que o policiamento foi reforçado na região com pelo menos 400 agentes. Somente em frente à Alerj, na Rua Primeiro de Março, ficaram cerca de 200 PMs. Do outro lado da rua, no número 10 da Rua da Assembleia, onde funciona a sede da Fetranspor, outro grupo de cerca de 200 policiais reforçava a segurança. Grupos de policiais militares em fila indiana seguiram a passeata pelas laterais, enquanto outro grupo permanecia à frente dos manifestantes, mas não houve registros de confusão. Ao longo da passeata, os manifestantes eram saudados por pessoas que estavam nos prédios, que piscavam as luzes dos escritórios à medida que eles passavam, além de jogar papel picado.
Apesar do clima de tranquilidade, alguns manifestantes chegaram a cobrir os rostos e a colocar máscaras de gás ao chegar perto da Alerj, palco, na semana passada, de violentos confrontos entre vândalos e a PM. Mas os organizadores pediram que eles não escondessem o rosto, e o ato prosseguiu sem incidentes.

TJ dispensa juízes por causa do ato

O comércio do Centro fechou as portas mais cedo, mas dezenas de vendedores ambulantes aproveitaram a passeata para trabalhar. Como Paulo Sergio Bernardo, de 50 anos. Auxiliar de serviços gerais, ele vendia bandeiras do Brasil, mas reclamou que o ato de ontem tinha menos manifestantes que o da semana passada.

- Da outra vez, consegui vender 300 bandeiras a R$ 10 em uma hora e meia. Hoje, em 30 minutos, vendi apenas 40 - lamentou o ambulante.

A concentração para o ato começou pouco antes das 16h na Candelária, onde policiais militares pediam aos manifestantes que se afastassem de possíveis vândalos. Eles distribuíram panfletos com os dizeres "Ajude-nos a proteger você. Afaste-se dos que insistem em vandalizar uma manifestação pacífica".

A estudante do programa Jovem Aprendiz Beatriz Gonçalves, de 16 anos, participava pela primeira vez das manifestações no Rio, protestando a favor da educação. Beatriz, que mora na Ilha do Governador, contou que, por causa do horário de trabalho, não pôde participar dos outros atos. Ela chegou mais cedo, com oito amigos.

- Sem conhecimento, não se muda um país - disse a estudante.

Por causa do protesto, a presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargadora Leila Mariano, pediu que todos os juízes deixassem o prédio do TJ, que fica na Avenida Presidente Antônio Carlos.

Outros dois grupos se juntaram aos manifestantes que se concentravam na Candelária: um deles, formado principalmente por professores, saiu da Lapa e seguiu pela Avenida Presidente Antônio Carlos, passando pela Rua Primeiro de Março, e o outro, com cerca de 300 pessoas, saiu do Largo de São Francisco, onde fica o IFCS. O grupo que estava concentrado no Largo de São Francisco se dirigiu à Candelária por volta das 17h.

As mortes no Complexo da Maré também entraram na pauta de reivindicações. Manifestantes levavam cartazes pedindo uma polícia menos truculenta e gritavam palavras de ordem como "A Maré está conosco". Um grupo de moradores da comunidade levou cartazes pretos com os nomes das vítimas da operação que deixou nove mortos, além de um sargento do Bope, na madrugada de terça-feira.

Em Fortaleza, 84 são presos por vandalismo em passeata

Minoria confrontou a PM e causou depredações; sete ficaram feridos

Um dos mais violentos confrontos entre a polícia e manifestantes ocorrido em Fortaleza desde a última segunda-feira mudou ontem a rotina de uma das principais vias de acesso à Arena Castelão, onde jogavam Espanha e Itália, pela Copa das Confederações: o vai e vem dos veículos na Avenida Dedé Brasil foi substituído por carros incendiados, ônibus e placas de publicidade depredadas e uma enxurrada de pedras, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Sete pessoas ficaram feridas e, segundo a Secretaria de Segurança Pública, 84 foram detidos por vandalismo.

O protesto, que reuniu cerca de cinco mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, iniciou de forma pacífica. Pela manhã, os manifestantes se reuniram em frente à Universidade Estadual do Ceará (Uece) e saíram em passeata com uma extensa pauta de reivindicações: a criação de um fundo para obras contra a seca, mais investimentos em Educação e Saúde, a redução da tarifa de ônibus dos atuais R$ 2,20 para R$ 2 e a suspensão das obras do Acquário. Por volta do meio-dia, as duas pistas da avenida já estavam tomadas pelos manifestantes, entre eles, estudantes, trabalhadores e representantes de entidades do movimento estudantil e sindical.

Ao tentarem passar pela primeira barreira policial, distante apenas três quilômetros do estádio, um pequeno grupo entrou em confronto com a PM e passou a jogar paus e pedras nos agentes de segurança, reação que os demais manifestantes tentaram conter. O grupo furou o primeiro bloqueio, mas foi contido na segunda barreira policial, formada pelo Batalhão de Choque, que avançou e, com apoio da Força Nacional de Segurança, tentou afastar a minoria exaltada com bombas de gás lacrimogêneo. O grupo reagiu e incendiou pneus, cadeiras e um carro de reportagem de uma emissora local, a TV Diário, afiliada da Rede Globo. Depois, depredou o veículo de outra emissora de TV e atirou pedras contra um ônibus que levava torcedores para a Arena Castelão. Os demais manifestantes tentaram contê-los, gritando "Sem violência", sem sucesso. A polícia usou mais bombas de gás lacrimogêneo e dispersou o grupo. Dos 84 detidos, 57 são adultos e 27, adolescentes.

Em Salvador, após uma manifestação pacífica em defesa do passe livre, da redução da tarifa de ônibus da capital e contra a corrupção, que, segundo a PM, reuniu cerca de duas mil pessoas, um pequeno grupo de manifestantes que se dirigia à Estação da Lapa, principal terminal de ônibus do Centro, entrou em confronto com a polícia, que virou alvo de pedras e rojões. Dois contêineres foram incendiados no local. Assim como em Fortaleza, eles tentaram furar o bloqueio policial e houve reforço do Batalhão de Choque, que usou gás lacrimogêneo para afastá-los.

Mais cedo, os líderes do Movimento Passe Livre (MPL), que esperavam entregar uma carta com 21 reivindicações ao prefeito ACM Neto (DEM), foram recebidos pelo secretário Municipal dos Transportes, José Carlos Aleluia, vaiado pelos manifestantes.

Um grupo de manifestantes também foi recebido em Maceió (AL), mas pelo presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas. Eles participaram de um protesto pacífico contra a corrupção e pela redução da tarifa de ônibus e pediram que a Justiça proíba o reajuste de R$ 2,30 para R$ 2,85.

- Não há clima para se aumentar a passagem de ônibus em Maceió. O Tribunal de Justiça de Alagoas é sensível à voz das ruas - disse o presidente do TJ, José Carlos Malta

(Odilon Rios e Biaggio Talento, da Agência Tarde, com o G1)

Fonte: O Globo

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