quarta-feira, 12 de junho de 2013

Para eleitor, principal marca de Dilma ainda é o vínculo com Lula

Por Fernando Exman

BRASÍLIA - A Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou ontem uma pesquisa de opinião que reforça o movimento de queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e da avaliação positiva do governo federal. Novamente, as expectativas mais pessimistas em relação aos rumos da economia prejudicaram o desempenho de Dilma junto aos eleitores. A sondagem também demonstrou que, apesar de em teoria ainda reeleger-se no primeiro turno, cresceu o risco de a presidente enfrentar um segundo turno nas eleições de 2014. E apontou os desafios que Dilma precisará enfrentar para afastar esse cenário.

Dois anos e meio depois de sua posse, concluiu a pesquisa apresentada pela CNT, a presidente da República não conseguiu ainda imprimir um traço pessoal à sua administração. Quase metade dos entrevistados acredita que sua principal marca é estar ligada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, percentual muito maior daqueles que a veem como uma boa administradora ou uma gestora determinada.

E não é por falta de informação sobre a presidente, pois 79,1% das pessoas ouvidas pelo instituto MDA dizem conhecê-la. O mesmo não ocorre com os potenciais adversários de Dilma em 2014, o que levou a CNT e o MDA a acreditarem que os indicadores econômicos e o processo de aproximação entre os pré-candidatos de oposição e o eleitorado tendem a criar maiores dificuldades políticas a Dilma.

Segundo a pesquisa do MDA, instituto de Minas Gerais criado em 1988 e ainda sem grande expressão nacional no setor, a aprovação do governo Dilma caiu de 56,6% para 54,2%. Já a popularidade de Dilma, medida pela aprovação pessoal da presidente, diminuiu de 75,7% para 73,7%. A última sondangem CNT/MDA foi realizada em julho de 2012.

As expectativas dos eleitores quanto à economia se deterioraram, assim como a avaliação das políticas do governo federal para as áreas da saúde, segurança e educação. Os eleitores estão mais pessimistas em relação ao mercado de trabalho e de seus rendimentos mensais. A parcela dos entrevistados que espera um "baixo" impacto da inflação sobre sua renda é bem inferior ao número de eleitores que anteveem um efeito negativo alto ou moderado.

"A popularidade ainda é muito alta, mas o governo não pode descuidar dessas questões", comentou o presidente da CNT, senador Clésio Andrade (PMDB-MG), alertando para o baixo crescimento econômico, do investimento e a alta do dólar. "A inflação é o que mais pesa."

Mas, se por um lado as sinalizações do governo de que um processo de elevação da taxa de juros tende a conter as queixas da população em relação à inflação, essa nova face da política monetária poderá gerar insatisfação entre os eleitores endividados. Tal parcela da população não é desprezível, devido ao recente aumento da oferta de crédito.

Entre os entrevistados, 25,7% disseram atrelar até 30% de sua renda mensal com dívidas e financiamentos. Outros 18,4% têm entre 30% e 70% de seus rendimentos comprometidos.

Mesmo assim, apontou a pesquisa CNT/MDA, hoje a presidente seria reeleita no primeiro turno, com 52,8% das intenções de voto. Por outro lado, o presidente da CNT lembrou que os possíveis adversários de Dilma na eleição de 2014 são mais desconhecidos que a presidente.

Num recorte feito apenas entre as 755 pessoas que conhecem todos os pré-candidatos, ressaltou Clésio Andrade, a intenção de voto da presidente Dilma cai para 44,1%. Na sequência, aparece o senador Aécio Neves (PSDB-MG), com 22,8%. E depois a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com respectivamente 14,2% e 5,8%.

"Já começa a se aproximar do segundo turno", comentou Andrade, embora a pesquisa tenha apontado que Dilma continuaria a prevalecer sobre seus adversários num eventual segundo turno.

No início da noite de ontem, a presidente reuniu-se com o marqueteiro João Santana, responsável pela sua campanha na disputa eleitoral de 2010. O encontro não foi informado na agenda oficial, mas contou com a participação de alguns dos auxiliares mais próximos da presidente, como o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O ex-senador petista tem ganhado espaço na articulação política do governo e deve integrar a coordenação de campanha para a reeleição da presidente no próximo ano. Compareceram também ao encontro os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Comunicações).

O Palácio do Planalto negou informação veiculada na imprensa de que Dilma pretende detalhar em cadeia nacional de rádio e TV a linha de crédito criada pelo governo destinada à compra de eletrodomésticos e móveis com juros subsidiados para beneficiários do programa "Minha Casa, Minha Vida". A medida deve ser anunciada hoje.

(Colaborou Bruno Peres)

Fonte: Valor Econômico

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