terça-feira, 4 de junho de 2013

Ponto crítico - Tereza Cruvinel

O tema imediato da reunião de ontem entre a presidente Dilma Rousseff e os cardeais peemedebistas era a rebeldia da base governista, que tem seu maior foco na bancada do PMDB. Mas o problema candente e correlato, e que pode ter consequências mais danosas, é o esgarçamento da aliança PMDB-PT, que não se replicará na maioria dos estados. Quando isso começou a ficar evidente, os dois lados diziam não haver nada demais na existência de dois palanque pró-Dilma, situação já ocorrida em 2010. Mas agora surgem os primeiros sinais de que algumas seções peemedebistas flertam com o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos. Preservar a aliança, para Dilma, tornou-se agora tão ou mais importante do que garantir o apoio parlamentar.

Em 2010, Dilma foi eleita pela maior coligação já construída nos tempos democráticos, composta por nove partidos. Nem Lula, que ajudou a costurá-la, contou com tal leque de apoios. A força e a amplitude de uma aliança não garantem nenhuma eleição, mas têm seu peso. Cada fragmento perdido tem seus custos eleitorais. Saindo candidato, e tirando o PSB da coligação, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, levará boa parte dos votos que Dilma teve no estado onde obteve a maior vantagem sobre Serra, em 2010, na Região Nordeste, que praticamente lhe assegurou a vitória. O outro concorrente, senador Aécio Neves, do PDSB, sem dúvida fará um arrastão de votos em Minas. Por isso, Dilma não pode se dar ao luxo de perder o apoio do PMDB em estados que devem compensar as prováveis perdas. O Rio é um deles. Ali, ela teve uma grande votação em 2010, subindo ao palanque do governdor, Sérgio Cabral (PMDB), que disputava a reeleição. Agora, o PT terá seu candidato, Lindbergh Farias, e o governador é um dos que ameaça não apoiar Dilma. Garotinho, do PR, também concorrerá. E, para completar, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), vem sendo incensado a se lançar também. Por ora, ele defende apenas o direito do PT à candidatura própria, num sinal de que pode apoiar Lindbergh.

No Rio Grande do Sul, o PMDB não apoiará a reeleição do governador, Tarso Genro (PT), e existe o flerte com Campos, situação que se repete também em Pernambuco, Rondônia e Bahia, onde o vice-presidente da CEF, Geddel Vieira Lima, articula uma chapa para disputar com o PT a sucessão do governador Jaques Wagner.

A costura da aliança vem sendo feita pelo presidente do PT, Rui Falcão, que passou a contar com a ajuda do ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Estão praticamente fechados os entendimentos com o PP, o PSD, o PR e o PDT. O acordo com o PTB vem avançando. O PRB apoiará Dilma para presidente e Alckmin para governador. São apoios importantes, que agregarão tempo de televisão e palanques para a candidata. Mas é o PMDB, por sua força no Congresso, capilaridade no país, número de prefeituras e força eleitoral das lideranças locais, que fará o papel de pilar forte da coligação.

Os problemas no Congresso e a fragmentação da aliança não são coisas distintas. Um problema alimenta o outro. A cúpula do PMDB não tem a menor disposição para virar oposição ou romper com o governo. Ontem mesmo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, brindou-a com o pedido de um minuto de palmas no evento de Natal. Mas Dilma precisa evitar que se repita com ela o que ocorreu com José Serra em 2002: o PMDB integrou a coligação tucana, mas boa parte das seções apoiou Lula. Essa, certamente, era sua maior preocupação ontem.

Dois mundos

Nos próximos dias, o governo começará a liberar R$ 2 bilhões em emendas parlamentares. Ajuda, mas não resolve. A chamada base governista quer também atenção e gentileza. Quer que o governo compreenda, por exemplo, a importância das audiências com autoridades para os deputados. Especialmente, para o chamado "deputado resolutivo", aquele que recebe um problema do prefeito que o apoia e vai em busca da solução federal, quando ela é possível. Ou, pelo menos, de uma resposta. O Planalto não compreende o mundo do Congresso, dizem eles. Por isso, parece inexorável a aprovação da execução obrigatória das emendas. Se o governo achar que isso é mesmo inconstitucional, baterá às portas do STF. Mas isso tornará as coisas ainda piores com os aliados.

Razões da baixa

Beto Vasconcelos está deixando a secretaria executiva do Gabinete Civil oficialmente para fazer capacitação no exterior. Em verdade, Beto pediu para sair, há quatro ou cinco meses, porque tentaram lhe atribuir responsabilidade por equívocos na elaboração da MP do Setor Elétrico. No governo Lula, ele foi o radar jurídico do Planalto, no cargo de secretário de Assuntos Jurídicos do Gabinete Civil. Trabalhando diretamente com Dilma, não teve problemas. No governo dela, passou a ser subordinado de Gleisi Hoffmann, e a química não foi boa. Dilma, que aprecia a competência de Beto, lamentou, mas nada pôde fazer.

Viés de baixa

A presidente não está com vontade de trocar ministros agora, mas é certo que Gleisi está com viés de baixa. Até o índios protestaram contra ela ontem. A cotação caiu forte perante os partidos da base aliada depois que eles souberam de críticas que ela teria lhes feito numa reunião petista, dizendo que são todos fisiológicos.

Fonte: Correio Braziliense

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