segunda-feira, 1 de julho de 2013

Após pesquisa, base endurece com Dilma e faz cobranças

Diante do recuo da popularidade e da intenção de voto na presidente, governistass admitem votar contra medidas defendidas pelo Planalto no Congresso e devem recusar, entre outros, o projeto que inibe a criação de mais partidos. Aliados também cobram trocas na articulação política e no Ministério da Fazenda. A presidente Dilma Rousseff, que esteve fechada ontem em conversas com assessores e oito ministros, comanda hoje uma reunião de seu Ministério. Segundo o titular das Comunicações, o encontro se destina a "colocar todos os ministros a par das resoluções do governo, dos encaminhamentos e também fazer recomendações de como conduzir" as medidas de resposta às manifestações de protesto das últimas semanas.

Após Dilma cair nas pesquisas, base endurece relação e cobra mudanças

A queda da popularidade e das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff, em pesquisas após as manifestações de rua, apontam para uma mudança na correlação de forças do governo federal com os aliados no Congresso Nacional. Em vez de meros carimbadores de propostas do Executivo, governistas já admitem que a "cartilha da presidente" não será rezada cegamente pelo Legislativo. Ainda que reservadamente, aliados também cobram trocas na articulação política e na equipe econômica.

Manifestações e pesquisas também mexeram com a rotina de Dilma. Hoje, a presidente faz uma rara reunião ministerial para "colocar todos os ministros a par das resoluções do governo, dos encaminhamentos e também fazer recomendações de como conduzi-los", disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que se reuniu ontem com Dilma e outros sete colegas de Esplanada. A reunião, segundo Bernardo, é para "não deixar os projetos pararem, todos saberem de que forma estão sendo encaminhadas as reivindicações e. também garantir que não haja paralisia ou retrocesso dos programas sociais".

Se no Executivo o momento parece ser de freio de arrumação, as quedas de 27 pontos na avaliação positiva de Dilma e de 21 pontos de intenção de voto na presidente captada pelo Datafolha levou aliados a afirmar que são contrários a propostas de interesse do Planalto no Legislativo. Defendem, também, mudanças na equipe econômica e na articulação política, caso essa última não seja fortalecida.

"Muda a relação do Congresso com a presidente, ela vai ter que dialogar mais para aprovar os projetos propostos, inclusive vai ter que abrir um canal com a oposição", adverte o deputado Lúcio Vieira Lima, cacique do PMDB baiano, "A pesquisa foi um desastre. Agora vamos ter que remar tudo de novo. Vai ser uma eleição dura, acabou a brincadeira. Jogaram uma eleição fora em 30 dias, vai ter que recompor o governo. A Dilma vai ter que, realmente, ter um governo de coalizão, senão vai ficar sozinha", disse um senador líder de partido aliado.

Ministros* Surpreso com a dimensão da queda, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), defende que o governo tenha. um interlocutor nos moldes de José Dirceu e Antonio Palocci, que chefiaram a Casa Civil.

"Com isso facilitaria muitas coisas", disse Nogueira. Perguntado se defendia a saída das ministras das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoflman, o senador respondeu: "Ou (devem) sair ou ganhar autoridade, porque quem faz o ministro é a própria presidente". Outro senador próximo a Dilma defende reservadamente: "A Ideli e a Gleisi vão precisar sair".

A pressão pela troca da equipe econômica também cresce entre aliados. Persiste a preocupação com a inflação, que não foi debelada. "O Guido Mantega não tem como se manter, porque ele não inspira mais confiança", disse outro líder dabase aliada, referindo-se ao ministro da Fazenda.

Projeto» No Congresso, a primeira vítima da "cartilha da presidente" será o projeto que inibe criação de partidos. Patrocinada pelo Palácio do Planalto, a proposta prejudicaria a eventual candidatura da ex-ministra Marina Silva. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não deve colocar mais o projeto em pauta. "Se aprovar agora, é casuísmo, ainda mais no momento em que a Marina está bem nas pesquisas", afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunícío Oliveira (CE) , outrora defensor da aprovação do texto.

Também acuados pelas manifestações, os parlamentares começaram a aprovar um "pacote positivo" de medidas, algumas das quais sem combinar com o governo. Entre as propostas, está a que estabelece o repasse de recursos do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), atualmente retidos pela União, para Estados e municípios.

O líder do PT no Senado, Wellington Dias, afirmou que ainda não é possível prever mudanças na relação de aliados do Congresso frente ao novo cenário de popularidade da presidente. Para o petista, entretanto, já existia uma tensão no ar. "Antes das mobilizações, já havia uma alteração na relação de quem era base e oposição. O tensionamento já existia", destacou.

O ex-presidente Lula elogiou os protestos no Brasil ontem em encontro sobre segurança alimentar na Etiópia

Em pleno domingo, ministros reunidos no Alvorada

Com as "vozes das ruas" cada vez mais insatisfeitas com o governo federal, a presidente Dilma Rousseff optou por ficar em Brasília e reunir-se com ministros e assessores ontem em vez de acompanhar a vitória do Brasil sobre a Espanha na Copa das Confederações, no Rio. Ela havia sido vaiada durante a abertura do evento, em 15 de junho. Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde) e Paulo Bernardo (Comunicação) foram alguns dos convocados para a reunião no Palácio da Alvorada.

Presidente tem pior desempenho entre jovens

Após três semanas de manifestações, pesquisa Datafolha mostra que a presidente Dilma Rousseff perdeu intenção de voto e não venceria mais as eleições presidenciais de 2014 no 1° turno. Segundo dados divulgados ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, Dilma tem o seu pior desempenho entre os mais jovens, justamente a faixa etária mais presente nos protestos que tomaram as ruas das principais cidades do País.

Na média, a presidente tem entre 29% ou 30% das intenções de votos nos cenários pesquisados para a eleição do ano que vem. Mas, entre os eleitores de 16 a 24 anos, esse porcentual cai para 27.

No quadro mais provável para a sucessão, que inclui Marina Silva (sem partido), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), a petista tinha 51% das intenções de voto nos dias 6 e 7 deste mês, e agora tem 30%. Ela ainda lidera, mas teria que disputar o 2º turno com Marina, que passou de 16% para 23%.

Quem também cresceu nessa pesquisa foi o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que nega a intenção de ser candidato. Há três semanas, tinha 8% das intenções de voto. Agora subiu para 15%.

Outra má notícia para a presidente é que a imagem do seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva não foi tão afetada com os protestos. No cenário com Marina, Aécio e Campos, o ex-presidente alcança 46% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, ele tinha 55%.

Números do Datafolha divulgados sábado mostram ainda que, no mesmo período, a popularidade da presidente Dilma caiu de 57% para 30%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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