sexta-feira, 19 de julho de 2013

BC contraria Dilma e prevê inflação alta

Inflação resistente exige juros maiores

Ata do Comitê de Política Monetária contraria o discurso da presidente da República e reforça que o custo de vida está ge de dar alivio as famílias. Diz ainda que os gastos públicos incentivam a carestia Para analistas, a taxa Selic subirá a 9% em agosto

Deco Bancillon

Apenas um dia após a presidente Dilma Rousseff ter afirmado a empresários que "ainflação Vem caindo de maneira consistente nos últimos meses", o Banco Central (BC) rebateu o discurso oficial do Palácio do Planalto e recomendou prudência com a escalada dos preços. Nas palavras dos diretores que assinam a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, mas divulgada ontem, "o nível elevado" do custo de vida e a "dispersão de aumentos de preços" contribuem para que a carestia no país ainda mostre "resistência". O comunicado, que tem como objetivo explicar o porquê de o BC ter elevado os juros básicos de 8% para 8,5% ao ano, foi elogiado pelo mercado, que viu uma mudança importante na postura da instituição, até então apontada como leniente em relação à carestia que atormenta as famílias.

Dilma havia feito um discurso acalorado, em que, além de atacar o que chamou de pessimismo dos que criticam o governo, defendeu veementemente os resultados de sua equipe econômica, entre os quais o controle da inflação e o maior rigor fiscal. Para o Copom, em vez de prudência com os gastos públicos, "iniciativas recentes apontam o balanço do setor público em posição expansio-nista". Trocando em miúdos: o governo está gastando demais quando, na verdade, deveria poupar recursos para deixar de pressionar o custo de vida.

Para o BC, é importante que o Ministério da Fazenda ponha freio ao excesso de despesas, e justifica o alerta ao mencionar que "a geração de superavits primários, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidifica a tendência de redução da dívida pública e a percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo" Muito do pessimismo que o Planalto critica vem dos truques fiscais que encobriram a má qualidade dos gastos públicos.

Com isso, o BC disse que o aumento de juros iniciado em abril não será suficiente para domar o dragão da inflação se a Fazenda não fizer a sua parte e estancar a gastança e cumprir plenamente a meta de economizar 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para saldar juros da dívida. O Copom alega que já tem problemas demais diante da disparada dos preços do dólar, valorização que pode ser repassada aos consumidores. A subida e a volatilidade do dólar, no entender da autoridade monetária, constituem "fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos" e os efeitos prolongados desses movimentos "podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária" Ou seja, mais juros.

A previsão dos especialistas é de que a Selic suba mais 0,5 ponto percentual no fim de agosto, para 9%. Diante da fragilidade da atividade, há um grupo, ainda pequeno, vendo nesse patamar o fim do ciclo do aperto monetário. Os mais radicais acreditam que a taxa pode ir a 10%, por causa da resistência da inflação em se manter próxima ao teto da meta, de 6,5%.

O tom duro do comunicado mostra que, apesar da euforia presidencial com números recentes que apontam a desaceleração da inflação a curto prazo, o comportamento dos preços ainda enseja cuidados. Neste ano, mesmo com todos os esforços do governo para reduzir impostos sobre a conta de luz e alimentos e segurar os reajustes dos transportes públicos, o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular alta de 6%, segundo o BC. Para 2014, quando Dilma tentará a reeleição pelo PT, o mercado projeta uma taxa de 5,90%.

Chamou a atenção dos economistas o fato de o BC ter retirado da ata do Copom a menção que fazia ao que chamava de "taxa neutra" de juros, o patamar de juros natural de uma economia. Para Ilan Gol-dfajn e Caio Megale, do Itaú Unibanco, isso pode revelar que a autoridade monetária já acredita que o tempo de juros baixos no Brasil ficou para trás. "Ao fazer isso, o Copom pode estar sinalizando que os juros devem se acomodar em níveis mais altos para frente", mencionaram, em análise a clientes.

Fonte: Correio Braziliense

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