segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lamento de um moribundo – Alberto Goldman

Verdade ou não, é verossímil: Dilma se lamenta de que ninguém a defende. Quem diria? Há poucas semanas, era uma candidata imbatível à reeleição . Transpirava confiança, era temida pela sua agressividade e arrogância, tinha uma maioria aparentemente sólida e governava com Medidas Provisórias a fazer inveja aos generais da ditadura. Hoje é moribundo. Ou moribunda, se ela assim desejar.

É incrível como, entra ano, sai ano, políticos, jornalistas, sociólogos, filósofos e outros bichos não aprendem com a história. Basta verem uma pesquisa sobre bom ou mau governo e sobre “intenções” de voto que largam a cuspir regra. “Já ganhou”, “ninguém tira” e outros refrãos, obliteram as suas inteligências. Olham na superfície e não veem lá no fundo nem conseguem ver mais a frente. De fato, não se dão conta dos movimentos, nem sempre visíveis, que acontecem na sociedade, nos sofrimentos e conflitos que existem nas profundezas da alma e mesmo do coletivo, muito menos dos processos de acumulação quantitativa que acabam transformando uma tênue consciência em um vulcão pronto à erupção. A acumulação dessa quantidade de energia inerente à atividade humana transforma um modo de ser da pessoa que aceita tudo em uma nova qualidade desse mesmo ser, dispondo-o à ruptura dos padrões anteriores, tradicionais. É um paralelo com a física: quando temos uma panela com água que vai recebendo calor, sua temperatura aumenta até que entra em ebulição, passando do estado líquido para o gasoso. A transformação de quantidade em qualidade.

Poucos perceberam o que se passava no âmago do povo. Raiva e consciência aumentando dia a dia, dificuldades de toda ordem para sobreviver, no ônibus, no hospital, na creche, na escola, no balcão de um órgão público onde o servidor não o respeita, a expectativa de uma habitação mais digna que nunca chega, a revolta diante do roubo do (seu) dinheiro público, a impunidade dos mais ricos e poderosos. Explodiu.

Dilma e seus péssimos auxiliares procuraram, atabalhoadamente, dar alguma resposta. Sobre ela recaiu o grito de revolta. Afinal ela é a presidente, o poder maior, que anos e anos, junto ao seu criador, que nessa hora faz que não é com ele, se mantém em silêncio mas é o maior responsável por tudo, vendeu falsas esperanças e expectativas irrealizáveis.

Inventam uma constituinte que não podem convocar, defendem plebiscitos sem saber o que consultar, são contestados pelo Tribunal Eleitoral que lhes informa que não haverá tempo suficiente para fazer as mudanças para o próximo ano. Inventam pactos ( com quem?, contra quem? ) sobre matérias de gestão que já estavam, ou já deviam estar, na agenda nesses últimos dez anos de monarquia petista. Fruto de tudo isso veem seus apoios políticos virarem pó. Nada surpreendente. Depois dos mensalinhos e mensalões, tentaram distribuir os cargos do governo sem articular qualquer acordo sobre políticas públicas. Essas não faziam parte de qualquer acordo. Assim, repito, não me surpreende que, ao aparecerem as primeiras trincas nesse barco, um verdadeiro castelo de areia, os ratos começassem a fugir.

Insistir no plebiscito, a não ser sobre temas mais simples, não os mais complexos de uma reforma política, é chamar o povo para substituir o Parlamento. Se seguir essa linha Dilma estará resvalando, para dizer o mínimo, no golpismo.

Vamos ficar atentos pois para muitos deles as instituições democráticas ainda são instrumentais, isto é, valem enquanto lhes servem.

Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, foi governador de S. Paulo

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