terça-feira, 23 de julho de 2013

Sucessão sem um nome de São Paulo - Raymundo Costa

A menos que José Serra entre no páreo, a eleição de 2014 será a primeira, desde o restabelecimento das diretas em 1989, sem um candidato de São Paulo na disputa. Com seus 31 milhões de eleitores, São Paulo pode fazer a diferença, sobretudo se for rompida a polarização PT-PSDB que marcou as últimas eleições. Serra certamente está fazendo esta conta, se é que já não a fez.

Desde Júlio Prestes, na revolução de 1930, São Paulo não elege um paulista para a Presidência. O último foi Rodrigues Alves, e não por acaso uma gigantesco óleo do ex-presidente ocupa espaço imponente num dos salões do Palácio dos Bandeirantes. Mas sempre apresentou um nome com algum simbolismo das transformações pelas quais passou o maior Estado do país, como viriam a ser Jânio Quadros, que era de Mato Grosso, o carioca Fernando Henrique Cardoso e o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva.

Na eleição de 1989 havia 22 candidatos, sendo cinco de São Paulo. Todos se mostraram mais ou menos competitivos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mario Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL) e Ulysses Guimarães. Passou para o segundo turno com Fernando Collor de Mello o pernambucano Lula da Silva, líder dos metalúrgicos do ABC.

Serra e Alckmin dominam São Paulo nos anos 2000

Nas preliminares, as referências eram Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL, as duas siglas responsáveis pela transição democrática. Covas e Afif Domingos tiveram seus momentos, ao longo da disputa, que, afinal, elegeu Collor e Lula para o segundo turno. Cerca de 450 mil votos, em relação a Lula, tiraram Leonel Brizola, um dos favoritos no início da eleição, do segundo turno. O desempenho de Brizola, em São Paulo, foi pífio.

Na eleição seguinte, depois do impeachment de Collor e da breve passagem de Itamar Franco pela Presidência, dois candidatos de São Paulo: Fernando Henrique Cardoso e, novamente, Lula. FHC levou no primeiro turno, impulsionado pelo fim da superinflação e do início da estabilidade propiciada pelo Plano Real.

A campanha de 1994 representou também o fim do outrora poderoso PMDB paulista e da bandeira desenvolvimentista erguida por Orestes Quércia naquela eleição. Quércia teve 2,7 milhões de votos e ficou abaixo de outro candidato de São Paulo, o folclórico Enéas Carneiro, do Prona, que teve 4,6 milhões de votos. Fernando Henrique fez um governo de reformas com o fim de monopólios e abertura da economia, a agenda prometida mas não cumprida de Collor.

Reformou também a Constituição para estabelecer uma figura nova na cena política: a reeleição. Ganhou novamente no primeiro turno e novamente de Lula, ambos com origem política em São Paulo, os dois com visões além do desenvolvimentismo industrial paulista. Lula ganharia por fim em 2002 contra um candidato tipicamente paulista, José Serra. Nessa eleição, um carioca, Anthony Garotinho, chegou a ameaçar a passagem de Serra para o segundo turno (ele teve 17,86% dos votos contra os 23,19% do tucano).

É curioso observar como desde o ano de 2000 todas as eleições para prefeito de São Paulo, governador do Estado e presidente da República foram disputadas, em nome do PSDB, ora por Geraldo Alckmin, ora por José Serra. Alckmin foi candidato a prefeito em 2000 e 2008; nas duas ficou em terceiro lugar; Serra, em 2004, quando ganhou de Marta Suplicy, e 2012, quando perdeu para Fernando Haddad (PT). Alckmin ganhou o governo estadual em 2002 e 2010; Serra, em 2006. Serra foi o candidato a presidente em 2002 e 2010; Alckmin, em 2006.

É evidente a falta de renovação, em São Paulo, do partido que há 20 anos se reveza no governo estadual, um domínio que começou com Mário Covas, na eleição de 1994, com um breve intervalo de Cláudio Lembo, do antigo PFL, que assumiu quando Alckmin deixou o cargo para disputar a Presidência da República - o vice de Serra, em 2010, era Alberto Goldman, outro tucano.

O PT, diga-se, até a escolha de Fernando Haddad para disputar com Serra as últimas eleições municipais também girou em torno do mesmo: Marta Suplicy, três vezes candidata a prefeita desde 2000, e Aloizio Mercadante, duas vezes candidato ao governo do Estado, no mesmo período. Além deles, só José Genoino, que disputou o governo em 2002, e agora Haddad, o vencedor da última eleição para prefeito.

Com seus 31 milhões de votos, São Paulo representa mais de um quinto de todos os eleitores do país. O segundo maior colégio é o de Minas Gerais. Tem metade disso: 15,1 milhões de votos. O terceiro é o Rio de Janeiro com 11,8 milhões. Votos decisivos, sobretudo se a eleição de 2014 não for uma disputa polarizada entre PT e PSDB como foi nos últimos anos. São Paulo pode ser o bilhete de passagem para o segundo turno, em caso de diferenças mínimas como em 1989, quando Lula teve 17,19% dos votos válidos e Brizola, 16,51%. São contas que estão sendo feitas também por Aécio Neves.

O que não quer dizer que o candidato com mau desempenho em São Paulo não possa vencer as eleições. Prova disso são Lula, em 2006, que perdeu a eleição para Alckmin, em São Paulo, por cerca de 3 milhões de votos, e o mineiro Juscelino Kubitschek, que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial, em São Paulo: o vencedor, no Estado, foi Ademar de Barros (PSP), terceiro em nível nacional, seguido do brigadeiro Juarez Távora (UDN), o segundo mais votado em todo o país.

JK partiu de uma avassaladora votação em Minas Gerais, 713 mil de 1,3 milhões de votos. Mas à época os dois colégios não eram numericamente tão diferentes: São Paulo tinha então 1,9 milhão de eleitores.

No momento, José Serra é o nome que restou aos paulistas. Mas para isso ele precisa mudar de partido, pois o PSDB está bloqueado por Aécio Neves, e provar que pode ser um candidato de mudança, o que só deve ocorrer com o naufrágio do governo Dilma Rousseff. E na fila já estão Marina Silva (Rede) e Eduardo Campos (PSB).

Fonte: Valor Econômico

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