terça-feira, 27 de agosto de 2013

Brasília-DF -Luiz Carlos Azedo

O caso Roger Pinto
O senador oposicionista Roger Pinto, que fugiu da Bolívia depois de 455 dias trancado na embaixada do Brasil à espera de um visto de saída, foi detido pela Polícia Federal em Corumbá e liberado por ordem do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que respeitou seu direito de asilo, mas decidiu não se envolver oficialmente no caso, transportando-o para Brasília. A PF agiu administrativamente. Quem pagou o pato foi o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, demitido ontem à noite pela presidente Dilma Rousseff. Motivo: foi o último saber do caso.

Os dois fuzileiros navais que escoltaram Roger Pinto receberam a missão do capitão de mar e guerra Luiz Carlos Brito Cunha, adido da Marinha brasileira na Bolívia. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deu apoio ao senador, orientando as autoridades locais do SUS de Corumbá para que prestassem assistência médica a Roger Pinto, que vomitara muito na viagem. O senador boliviano falava em suicídio na embaixada brasileira de La Paz, onde estava confinado num cubículo sem banheiro, nem janelas. Foi por essa razão que o ministro conselheiro da embaixada, Eduardo Saboia, decidiu trazer Roger Pinto clandestinamente para o Brasil. O comandante Brito Cunha confirma a versão de Saboia.

Por duas vezes, Saboia havia estado no Brasil para pedir uma providência mais enérgica do Itamaraty. O diplomata respondia pela embaixada porque o titular, Marcel Biato, foi transferido do cargo por pressão do presidente da Bolívia, Evo Morales, que o responsabilizava pela concessão do asilo político. Acabou promovido a embaixador na Suécia. Ao chegar a Corumbá, Saboia comunicou o fato aos superiores no Itamaraty. Foi orientado a não falar sobre o assunto e mergulhar. Em Campinas (SP), ao saber que o ministro Antonio Patriota havia decidido abrir investigação para puni-lo, resolveu falar. Detalhe: o embaixador Biato, segundo o adido militar, sabia da decisão de Saboia.

Condenação
O senador Roger Pinto denunciou o envolvimento de autoridades bolivianas, inclusive um ministro do governo Morales, com o narcotráfico. A maioria dos processos aos quais responde, alega, são decorrentes de suas denúncias de corrupção e envolvimento do governo boliviano com o narcotráfico. Sua condenação a um ano de prisão resulta de um processo sobre a criação de uma universidade na província de Panda, na fronteira com o Acre, com recursos do empresariado local, no qual é acusado de desviar dinheiro público. Ocorreu depois que havia sido exilado e serve de razão para o governo não lhe conceder o salvo conduto.

Narcotráfico
O Brasil vive uma contradição na sua política externa: nem sempre os interesses permanentes do Estado brasileiro coincidem com os compromissos político-partidários assumidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por tabela, pela presidente Dilma Rousseff. O caso das relações com a Bolívia é exemplar. Evo Morales barganha com o Brasil por causa do gás boliviano, do qual parte da nossa indústria é dependente. Em contrapartida, o Brasil enxuga gelo para combater a entrada de cocaína e crack pela fronteira boliviana. Morales é o líder das seis federações cocaleiras e seu governo faz vista grossa com o narcotráfico. O Brasil é o maior consumidor de cocaína boliviana.

Contrato
Apenas no ano passado, o Brasil exportou US$ 3,6 bilhões em gás da Bolívia, que teve um superavit comercial de US$ 2,1 bilhões, quase todos provenientes da venda de gás natural ao país. A Bolívia importa do Brasil produtos manufaturados por um montante de US$ 1,5 bilhão.

Ambiguidade// É ou não ambígua a posição do governo brasileiro? Durante 455 dias, o parlamentar boliviano aguardou um salvo-conduto do governo boliviano, que não o concedia; o Itamaraty, que havia concedido asilo, agia como Pilatos e lavava as mãos. Retirou seu embaixador e deixou o encarregado de negócios com o abacaxi nas mãos.

Copom
Começa hoje a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que deve anunciar amanhã mais uma alta na taxa básica de juros no país, hoje em 8,5% ao ano. A expectativa do mercado é de que a alta seja de 0,50%

Lançamento
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, que hoje sofre do mal de Alzheimer e de hidrocefalia, sabia de cor quantos pacientes estavam internados e quantas cirurgias eram feitas diariamente na Beneficiência Portuguesa, o maior hospital privado da América Latina. Essa é uma das muitas revelações da biografia Antônio Ermírio de Moraes: Memórias de Um Diário Confidencial, que o sociólogo José Pastore lança hoje, a partir das 17hs, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.

Reforma
O grupo de trabalho da Câmara dos Deputados discute amanhã a proposta de reforma política do seu relator, deputado Alfredo Sirkis (foto), do PV-RJ. São quatro eixos: adoção do sistema eleitoral misto — proporcional e majoritário — com a criação de distritos; obrigação de eleições primárias nos partidos; limite de doação para as campanhas eleitorais; e medidas para reduzir os gastos com propaganda eleitoral.

Mulheres/ A presidente Dilma Rousseff vai ao Congresso hoje para participar de uma sessão conjunta da Câmara em comemoração ao aniversário da Lei Maria da Penha e receber o relatório final da CPMI da violência contra a mulher. Depois, viaja para Belo Horizonte (MG) para um evento do Plano Brasil sem Miséria e para a inauguração do centro cultural do Banco Brasil.

Etanol/ O senador Gim Argello (PTB-DF) deve divulgar hoje o seu relatório sobre a MP 615/13, que autoriza o pagamento de subvenção econômica aos produtores de cana-de-açúcar e etanol da região Nordeste.

Fonte: Correio Braziliense

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