quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Deputados já cogitam alternativas à Rede

Por Cristian Klein

SÃO PAULO - Com a Justiça eleitoral melindrada pela pressão exercida pela ex-senadora Marina Silva e a possibilidade de o registro do partido não ser obtido a tempo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os três parlamentares ligados ao Rede Sustentabilidade já discutem alternativas se a legenda não for criada até 5 de outubro e deixe de participar das eleições do ano que vem.

O deputado federal Domingos Dutra (PT-MG) faz a contagem regressiva, calcula prazos de tramitação no TSE e se diz esperançoso. Mas traça cenários para que o grupo e ele próprio não fiquem sem partido para disputar as eleições.

"O assunto ainda não foi deliberado. E Marina se recusa a ser colocada como pré-candidata, embora esteja em segundo lugar nas pesquisas. Se por acaso não der, eu pelo menos vou defender que Marina faça opção por uma outra sigla. Agora, eu, que tenho mandato, Walter Feldman, Sirkis, aí acho que cada um vai procurar sua alternativa de acordo com a sua realidade", afirma o parlamentar.

A presidenciável já foi convidada a se transferir para o PEN e o PPS. Dutra conta que também já recebeu convites: do PSB e, na semana passada, foi procurado pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. "Minha ligação com o PDT é antiga, fui vice do Jackson [Lago, quando o pedetista, morto em 2011, foi prefeito de São Luís, entre 1997 e 2001] e para onde foram muitos ex-petistas, como o [senador do Distrito Federal] Cristovam Buarque", diz.

O parlamentar, no entanto, afirma que a sua situação "é a mais difícil de todas" entre ele e os outros dois deputados que participam da fundação do Rede: Walter Feldman (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-RJ). Caso mude para uma legenda já existente, sua previsão é a de que o senador José Sarney (PMDB-MA) tentará lhe tirar o mandato por infidelidade partidária. Dutra é um crítico ferrenho da hegemonia da família Sarney no Maranhão e da aliança feita pelo PT regional com o pemedebista. "Por isso, tenho que ir para um partido novo", diz. O Solidariedade, outra sigla que está sendo criada, pelo deputado Paulinho da Força (PDT-SP), seria uma saída? "É uma opção, mas não estou pensando nisso agora", diz. Permanecer no PT, avalia, seria difícil, depois de combater tanto a união do partido com Sarney. "Aí, eu é que passaria a não ter caráter", afirma.

O tucano Walter Feldman diz que, independentemente do desfecho, já tomou a decisão de não concorrer à reeleição, por achar ideal que políticos exerçam apenas dois mandatos consecutivos em cada instituição. Feldman já foi duas vezes vereador, duas deputado estadual e está no terceiro como federal. "Em 2010, concorri a contragosto, anunciei que não seria, mas o [ex-governador e então candidato a presidente José] Serra apelou e cedi. Mas não sou mais candidato a deputado", garante.

O parlamentar lembra que não está saindo do PSDB porque quer. "Não estou atrás de legenda para me candidatar ou porque estou irritado. É questão puramente ideológica. É porque sonho com um modelo de partido político com as características do Rede", diz.

Na terça-feira, por causa da participação de Feldman no Rede, o diretório municipal do PSDB em São Paulo deliberou por sua expulsão - o que deverá ser analisado pelas instâncias superiores da sigla. "Isso é uma coisa localizada, provinciana, não terá progressão. Minha relação é a melhor possível com o PSDB nacional e o estadual. Há até um movimento na bancada na Câmara, o "Fica, Waltinho"", conta.

O plano B de Feldman, no entanto, não é partidário. Depois de duas décadas, o clínico geral voltou à medicina. Há oitos meses numa clínica e há dois anos na área de pesquisa. Trata doenças autoimunes com vitamina D. "Há vida fora da política", diz.

O mesmo pensa Alfredo Sirkis, que também pode deixar de concorrer à reeleição e sair da política. A Executiva nacional do PV, conta, teria deliberado, mas não posto em ata, que irá lhe negar legenda no ano que vem. "Não tenho me sentido muito feliz como deputado federal, embora tenha tido uma atuação bastante reconhecida. Sou uma pessoa mais afeita ao Poder Executivo e à atuação local. Gosto de trabalhar na minha cidade, o Rio de Janeiro. Não sou feliz de ir a Brasília toda semana. Poderia estar usando minha energia melhor fazendo outras coisas. Além do mais sou escritor, sou jornalista, apenas estou político. Você vê o caso do [ex-deputado Fernando] Gabeira (PV-RJ), por exemplo. Resolveu voltar ao jornalismo. Isso é algo que muitas vezes é tentador", afirma.

Fonte: Valor Econômico

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