segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Eleições internas são jogo de cena dos tucanos

Por Raymundo Costa

BRASÍLIA - A realização de prévia para a escolha do candidato do PSDB a presidente tem muita espuma e pouca consistência. Não interessa nem a Aécio Neves nem a José Serra. O ex-governador de São Paulo, nas atuais condições do PSDB, não tem a menor chance de vencer a disputa. O senador Aécio Neves, por seu turno, não quer baixar a guarda e ser surpreendido, mais adiante, caso mantenha o desempenho pífio que exibiu até agora nas pesquisas de opinião pública.

O senador mineiro, atualmente, tem o controle da máquina partidária, mas seu desempenho nas pesquisas ameaça os tucanos com a possibilidade de o partido não passar para o segundo turno em 2014. No Datafolha, Aécio tinha 10% em março, foi a 14% no início de junho e chegou a 17% no fim do mês, após intensa exposição no programa partidário.

Mas já na primeira semana de agosto, a presidente Dilma Rousseff não só recuperou cinco pontos do que havia perdido na pesquisa anterior, como Aécio caiu para 13% e perdeu para Marina Silva (26%) o segundo posto nas pesquisas. Má notícia para os tucanos: desde 1994, PT e PSDB se revezam no segundo turno das eleições.

Hoje há muito mais dúvidas sobre as chances eleitorais de Aécio que havia em maio, quando o senador foi eleito presidente do PSDB. Um comentário corriqueiro na cúpula tucana é que "as pessoas não têm muita certeza de que o Aécio vá a algum lugar, mas já sabem que não querem o Serra". Entre "um discurso ultrapassado", como seria o de Serra, o melhor para seria apostar em um nome novo.

O raciocínio de Serra é diametralmente oposto. O ex-governador disputou duas vezes a Presidência da República, ambas pelo PSDB, e nas duas foi para o segundo turno. Em 2002, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e em 2010, contra a presidente Dilma. No momento, Serra avalia ser o nome da oposição que efetivamente encarna o antilulismo e o antidilmismo.

Serra nunca escondeu a vontade de voltar a disputar a Presidência. Afinal, Lula só levou na quarta tentativa. A mudança na conjuntura nacional levou-o a abrir a discussão de prévias para a escolha do candidato do PSDB, o que na prática sinaliza que ele pode permanecer no PSDB. A alternativa é se filiar ao PPS e disputar pelo partido as eleições de 2014 para presidente.

Percebendo a movimentação do adversário, Aécio disse que aceitava as prévias. O problema é que Aécio, além de candidato a candidato, é o presidente nacional do PSDB. Serra só quer entrar numa disputa em condições "isonômicas", o que certamente não seria o caso de Aécio entrar no jogo como dono da bola e do apito de juiz.

"O Aécio é o presidente nacional do PSDB, tem que cumprir com todas as suas responsabilidades partidárias, o que inclui também esse papel de articulação da unidade interna", diz um dos cinco vice-presidentes do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. "Como presidente do PSDB, Aécio tem a obrigação de fazer essa narrativa ao partido".

Um obstáculo real para a realização da prévia é o fato de o cadastro de militantes, estimado em 1,3 milhões, ser o mesmo da fundação do partido, em 1988, engordado com "camadas" depositadas ao longo dos anos. Mas para os partidários de Serra essa é uma questão que pode ser resolvida com boa vontade. Se o recadastramento indicar 200 mil filiados aptos a votar já estaria de muito bom tamanho. O risco existe: quando os nomes dos dois foram apresentados juntos em pesquisa Datafolha, Serra (14%) apareceu à frente de Aécio (10%), dividindo os tucanos.

Fonte: Valor Econômico

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