domingo, 8 de setembro de 2013

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

Disputa nada pacífica
A presidente Dilma Rousseff vai à Organização das Nações Unidas (ONU) propor uma “nova governança contra invasão de privacidade” na internet, que defina normas e mecanismos para coibir a violação de direitos ou espionagem de quaisquer países. Para o Brasil, não se justifica o argumento de que atos de espionagem são decorrência de uma estratégia de combate ao terrorismo.
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“O Brasil é um país que não tem conflitos étnicos, não tem conflitos religiosos, não abriga grupos terroristas e tem, na sua Constituição, expressamente, que nós vedamos o uso e a fabricação de armas nucleares”, disse. Segundo Dilma, a espionagem não tem nada a ver com segurança nacional, mas com fatores geopolíticos e estratégicos ou comerciais e econômicos.
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Exato. O Brasil corre o risco de virar marisco num embate entre uma potência naval, os Estados Unidos e uma potência continental, a China, pelo controle do comércio global, cujo eixo se deslocou do Atlântico para o Pacífico e ocorre no terreno comercial e financeiro via internet. Esse embate resulta de uma nova divisão internacional do trabalho, na qual a China tornou-se o centro da produção de bens de consumo, e a vocação natural do Brasil é ser a maior potência produtora de commodities de minério e de produtos agrícolas. Por isso, nosso principal parceiro comercial deixou de ser os Estados Unidos e passou a ser a China, mesmo que ao preço da nossa desindustrialização.

América Latina/ Essa disputa entre os Estados Unidos e a China já instalou-se na América Latina. A Aliança do Pacífico reúne tradicionais parceiros norte-americanos, como o México, a Colômbia e o Chile, para uma parceria com a China. Argentina, Bolívia, Uruguai e Venezuela, no Mercosul, estão fora da órbita política norte-americana. Mas Barack Obama ainda tem muitas cartas na manga, uma delas é o controle da internet por seus serviços de inteligência.

Oriente Médio/ Nesta “guerra virtual” entre os EUA e a China, a Rússia tenta restabelecer sua influência na Ásia e na África Oriental e retomar o “grande jogo” contra a França e a Inglaterra, que não querem perder negócios nas ex-colônias. Se os Estados Unidos deixarem de ser o xerife do Oriente Médio e o Irã ampliar seu poder militar na região, a reação de Israel e das monarquias árabes, como Arábia Saudita e Jordânia, será uma luta de vida ou morte contra as repúblicas islâmicas. O Brasil trombou com os Estados Unidos no caso do Irã e, agora, se alia à Rússia, à China e ao próprio rã no caso da Síria. Entrou em briga de cachorro grande.

Guerra Civil
A guerra civil na Síria, que divide o G20, já deixou 110 mil mortos e 2 milhões de refugiados

Ásia e Europa/ Nunca houve tanta oportunidade para o surgimento de uma real governança mundial, apesar do enfraquecimento recente da ONU. O declínio da hegemonia norte-americana, porém, não levará ao multilateralismo e à paz global por gravidade. A situação é delicada. O Japão e a Alemanha não aceitarão estoicamente o fortalecimento da Rússia e da China. O manto protetor dos Estados Unidos está à prova no caso da Síria. Os japoneses estão se rearmando pra valer por causa da China, a Alemanha irá pelo mesmo caminho, inexoravelmente, se as ex-repúblicas soviéticas da Europa Oriental se sentirem inseguras em relação à Rússia.

Caiu a ficha
A presidente Dilma Rousseff encomendou, antes de viajar para a Rússia, o desfile do Sete de Setembro mais enxuto possível, pois pretendia permanecer na Esplanada apenas uma hora e meia, logo após desembarcar de volta da longa viagem. O resultado foi o desfile mais mixuruca dos últimos tempos. Com mais soldados na segurança do que marchando, a parada serviu para mostrar como estamos despreparados para a guerra eletrônica. Um blindado antiaéreo alemão de segunda mão e duas viaturas equipadas com radares soltando muita fumaça foram os destaques. E, sem a Esquadrilha da Fumaça, o xodó do público foi a histórica Bateria Caiena dos Dragões da Independência, cujos canhões são puxados a cavalo.

Desconfiança
Boa parte da vulnerabilidade do governo à espionagem norte-americana pode ser atribuída à desconfiança da presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares em relação à Abin. O Criptogov, o drive desenvolvido pela agência para ser instalado nos computadores e usado pela presidente e os ministros, já em operação no Itamaraty, nunca foi levado a sério no Palácio do Planalto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também era contra aparelhar a Abin. Tinha medo de ser espionado pelos seus arapongas. Além disso, o santo da presidente Dilma não bate com o do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito.

Affair
No dia em que o Brasil celebrou sua Independência, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentou à República sua nova namorada, a jornalista Tássia Alves. Os dois foram juntos ao desfile cívico na Esplanada dos Ministérios. Padilha é pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.

Fonte: Correio Braziliense

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