segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Contamos com Campos candidato", diz Guerra na entrevista

Por Murillo Camarotto

RECIFE - Três meses depois de cobrar publicamente mais apetite do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na pré-campanha presidencial, o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-PE) passou, em maio, o comando do partido para o mineiro. Desde então, o parlamentar vem cuidando mais da saúde e acompanhando de perto as lutas do MMA, um de seus hobbies.

Diagnosticado com câncer no pulmão e na cabeça, Guerra intensificou o tratamento no Hospital Sírio-Libanês, onde foi atendido pelo oncologista Paulo Hoff, o mesmo que cuidou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Submetido a um medicamento novo, diz estar "teoricamente curado".

Em julho, o tucano liderou a comitiva parlamentar que foi a Las Vegas (EUA) assistir à derrota do brasileiro Anderson Silva para o americano Chris Weidman. "Uma vergonha", avalia o parlamentar, que diz ter ajudado a trazer as lutas do UFC ao Brasil, com o apoio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, cujo filho também seria fã da modalidade.

No octógono político, Sérgio Guerra atua intensamente na pré-campanha de Aécio. Há duas semanas, acompanhou o senador no jantar na casa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A estratégia tucana para a corrida ao Planalto, ele conta, está baseada na premissa de que Campos será candidato.

Pernambucano com passagem pelo PSB, Guerra tem ótima relação com Campos, apesar de estarem sob sua batuta os únicos deputados estaduais de oposição ao governador. O tucano, entretanto, acredita em aliança com o PSB em São Paulo, Minas, Paraná, Alagoas, Amazonas e Distrito Federal.

Em desvantagem no Nordeste, Aécio vai comandar a reunião do PSDB no dia 21, em Maceió. No programa do partido no fim do mês, o mineiro vai mostrar, in loco, problemas sociais e de infraestrutura na Paraíba e no Ceará.

De acordo com Guerra, a candidatura de Campos vai ajudar a quebrar a dicotomia petista da luta entre ricos e pobres. Ele avalia, porém, que o governador de Pernambuco terá que falar menos para o empresariado e mais para o povo. Para isso, será preciso decidir se o PSB é governo ou oposição.

Enquanto falava sobre os meandros do universo do MMA, Guerra foi convidado a mudar o tema da conversa para política. "Agora vamos falar de coisa chata, deputado?", indagou a reportagem do Valor. De pronto, o tucano respondeu: "Se não for de José Serra...".

Valor: Em fevereiro, o senhor disse que Aécio precisava intensificar o ritmo. Já está a contento?

Sérgio Guerra: Aumentou. Desde que assumiu o partido, indiretamente ele faz forte campanha a presidente. Primeiro, porque sendo presidente do partido, tem que interagir com os Estados. Segundo, porque tem que interagir com outros partidos e, terceiro, porque tem que interagir com aliados.

Valor: Nesse ritmo, ele chega bem a 2014?

Guerra: Uma ideia é não fazer nenhuma forma de apresentação acadêmica, clássica. Do tipo "eu vou e atrás vem uma multidão de políticos". Isso termina afastando o potencial candidato do povo.

Valor: O senhor participou do jantar com Aécio e o governador Eduardo Campos. Do que trataram?

Guerra: Não é novidade que conversem. Eles se falam há muito tempo.

Valor: Mas e das possíveis alianças, não falaram?

Guerra: O PSDB e o PSB não são inimigos. São partidos amigos, que se combinam em certas áreas. Mas os dois projetam disputar 2014 e querem que essa eleição seja grande, múltipla e quebre a polarização e o discurso governamental, de que eles são a favor dos pobres e os outros, contra.

Valor: O PSDB trabalha sua estratégia em um cenário com Campos candidato a presidente?

Guerra: Nós e quase todos. A candidatura de Eduardo, como a de Marina [Silva], são necessárias.

Valor: Para garantir o 2ºturno?

Guerra: Isso o povo já garantiu nas ruas, nos últimos 90 dias. Agora Eduardo tem que resolver um problema. Está fazendo discurso para empresário e precisa fazer para o povo. E discurso para o povo é, primeiro, ele resolver se é da oposição ou do governo. Mas torcemos pela candidatura, não porque pode nos levar ao 2º turno, mas para quebrar essa dicotomia. Quando eles [PT] não têm mais o que fazer, vem o Lula falar da elite contra as massas. Depois, vai jantar com os caras do Bradesco.

Valor: Aécio disse que deseja construir algo ao lado de Campos no futuro, mas o governador não mostra o mesmo entusiasmo.

Guerra: O que Aécio e Eduardo desejam uma política de boa vizinhança. Agora, os partidos, para se juntarem ou se dividirem, dependem das circunstâncias. Por ora, cada um tem seu projeto.

Valor: Concorda que eles disputam o mesmo eleitorado e o mesmo grupo de potenciais aliados?

Guerra: O jogo ainda vai ser jogado. Eduardo não divide só o nosso campo, divide o outro também. A marca dessa eleição é que vai prevalecer não mais as estruturas formais, mas a opinião pública.

Valor: Estudo que um banco americano publicou considera Campos o mais forte adversário de Dilma.

Guerra: Isso é um exercício de futurologia. O Brasil mudou radicalmente nos últimos 90 dias e não sei quantas vezes vai mudar até a eleição. Acho que Aécio e Eduardo vão disputar o campo dos que querem mudar o ambiente. Compreendo a candidatura da Marina como algo que nega o que está aí, mas até agora ela não propôs o que fazer. A negação, em um primeiro momento, tem apoio, mas depois as pessoas vão querer discutir o que fazer. Nesse momento, Aécio e Eduardo terão grande condição de crescimento e acredito mais no nosso candidato do que no do PSB.

Valor: Mas deve haver alguns palanques duplos entre PSDB e PSB.

Guerra: Muito provável. São Paulo e Minas têm muitas chances. [Os partidos] Também conversam em Alagoas, Paraná, em Minas Gerais, podem conversar em Brasília, no Amazonas...

Valor: A iminente prisão dos petistas do mensalão pode beneficiar eleitoralmente o PSDB?

Guerra: Os protestos produziram um choque de realidade e ficou claro que a popularidade de Dilma não era tão sólida. Depois, quando a população volta para casa, uma parte dos que estavam com ela voltam. Mas o governo não recuperou seus fundamentos e está cada dia mais inseguro.

Valor: O governador Geraldo Alckmin também sofreu com as manifestações. São Paulo preocupa?

Guerra: Sim. Acho que no quadro de São Paulo, é claro que o partido tem necessidade de renovação. Ponto. No mais, é um governo convincente. Os governos do PSDB fizeram um trabalho real, concreto. É evidente que é uma questão de renovação, que foi subestimada no passado e espero que não seja no futuro.

Valor: O ex-governador José Serra vem ensaiando uma saída do partido. Como está isso?

Guerra: Não estou informado. Acho que o Serra é um grande político, um homem público impecável, tem imenso prestígio no partido, mas não é o caso de ser candidato a presidente. Não é questão de achar que não tem méritos, é questão de não ser o candidato adequado para essa eleição, até porque o partido tem candidato.

Valor: Mas o sentimento no partido é de que ele fica no PSDB?

Guerra: Acho que ele tem a ver com o PSDB tanto quanto o PSDB tem a ver com ele. Não vai acontecer nada, ele vai continuar no partido.

Fonte: Valor Econômico

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