quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Efeito Donadon no mensalão e espionagem dos EUA, numa tensa semana política - Jarbas de Holanda

A liminar de ministro do STF anulando decisão da Câmara que preservou mandato do deputado Natan Donadon disputou as manchetes da mídia neste início de setembro com a repercussão da denúncia da Globo, no Fantástico do último domingo, de que o governo norte-americano espionou telefonemas e e-mails da presidente Dilma. Denúncia seguida de reações do Palácio do Planalto que incluíram possível suspensão de viagem dela aos EUA para encontro com Barack Obama. As manchetes sobre os fatos da segunda parte do parágrafo favorecem o grande objetivo imediato da presidente: melhora de sua imagem na opinião pública, com a defesa da soberania nacional. Ao passo que as primeiras têm efeito contrário para essa imagem e para o lulopetismo em geral, reforçando – com a forte indignação social gerada pelo ato da Câmara no final de agosto – a cobrança do fim da impunidade de políticos estreitamente vinculados à prática de corrupção, entre os quais se destacam os mensaleiros.

Seguem-se outros ingredientes significativos do gênero nesta semana, ou com repercussão maior nela. 1º - O respiro da presidente e sua equipe econômica com a boa surpresa do PIB do segundo trimestre. Indicador que, mesmo tendendo a ter na sequência taxa bem menor ou até negativa no trimestre em curso segundo vários analistas, realimentou as expectativas e promessas oficiais de um PIB além de 2% este ano e além de 4% em 2014, que seria fator importante na campanha reeleitoral. 2º - A intensificação da polêmica em torno do programa Mais Médicos. Que contrapõe o ganho eleitoral buscado pelo governo e pelo PT nas periferias ao desgaste com o papel, central, que nele têm médicos cubanos atuando aqui numa área de exclusão das leis brasileiras (sem direitos trabalhistas, separados das famílias, vigiados de perto para evitar fugas em busca de asilo), como avaliou a Veja em editorial e grande reportagem. 3º - A persistência, também negativa para o estado-maior do Planalto, do debate a respeito das reações da presidente à fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina. Todas para agradar o colega Evo Morales, como a demissão do ministro Antonio Patriota, a ameaça (feita ontem pelo ministério da Justiça) de cancelamento do asilo, os inquéritos e punições contra o ex-embaixador Marcel Brito e seu substituto Edmundo Saboia. Cujos longos e vãos esforços, durante 45 meses, para obtenção do reconhecimento regular do asilo pelo governo da Bolívia, e, por último, trazendo-o para cá, têm merecido amplo apoio social e o respaldo de pratica-mente todos os nossos ex-ministros do Exterior. E 4º - O jantar no Recife entre o governador Eduardo Campos e o senador Aécio Neves, preparatório de palanques eleitorais conjuntos do PSDB e do PSB e indicativo de aliança entre os dois partidos num 2º turno da próxima disputa presidencial.

A liminar do ministro Luis Roberto Barroso (acolhendo pedido do líder do PSDB, Carlos Sampaio) induziu o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (vencendo resistência dos petistas) a propor a aprovação, conseguida em sessão extraordinária da Câmara realizada ontem à noite, da PEC 349/01 que extingue o voto secreto em processos de cassação de parlamentares. E reforçou a perspectiva de que o plenário do STF conclua hoje ou amanhã o julgamento dos “recursos de declaração” dos réus do mensalão de modo a poder decidir amanhã, ou em reunião extraordinária na sexta-feira, a rejeição ou o acolhimento de “recursos infringentes”, que poderão reduzir penas desses réus. Hipótese, esta última, que parece menos provável em face da consistência das penas já aplicadas e do clima de uma semana em que o Congresso, o Executivo (federal e de estados e municípios) e a própria cúpula do Judiciário – emitem sinais claros de grande preocupação com as manifestações de rua programadas para o dia 7.

Quanto aos protestos de sábado, o principal objetivo definido em votação feita nas redes sociais, é o de combate à impunidade de governantes e lideranças políticas vinculados à prática de corrupção, o que liga o tema aos mensaleiros, cuja prisão imediata será cobrada. Isso, porém, deverá sofrer agressiva contraposição por parte de manifestantes ligados ao PT, ao PC do B e à CUT – que tentarão redirecionar as manifestações com cartazes e palavras de ordem em favor de reforma política (proposta por Dilma de acordo com receita lulista) e contra o envolvimento de tucanos no chamado cartel liderado pela Siemens em licitações do metrô e da CPTM paulistas, bem como contra a espionagem do “imperialismo ianque”. E tal redirecionamento dos protestos, com características e efeitos ainda piores, será tentado também por mascarados com ações violentas e predatórias. Por outro lado, as manifestações se darão num feriado e simultaneamente às paradas militares de 7 de setembro. Fatores que, somados ao crescente repúdio social a tais ações, poderão reduzir bastante a dimensão e a importância delas.

Jarbas de Holanda é jornalista

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