quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Uma decisão de alto risco - Raquel Ulhôa

O tempo se esgota para que o ex-ministro e ex-governador José Serra decida deixar ou não o PSDB para se filiar ao PPS, com a expectativa de disputar, pela terceira vez, a Presidência da República. Se ficar no PSDB, ele só terá duas opções eleitorais: o Senado Federal ou a Câmara dos Deputados.

Até os tucanos próximos a ele são unânimes: a chance de Serra disputar o Palácio do Planalto pelo PSDB é zero. Ele está sendo obrigado a encarar o fato de não ter conseguido realizar o sonho de ser presidente da República, cargo para o qual se sente preparado.

Serra já foi senador e deputado federal. Ficaria mais confortável no Senado, mas a eleição para a Câmara dos Deputados seria certa e ajudaria a eleger uma boa bancada do PSDB. Nenhuma das opções, no entanto, o empolga.

Se Serra ficar no PSDB, opção mais viável é Câmara

Ainda teria mais uma chance de candidatura presidencial, oferecida pelo PPS. Mas bem menos competitiva do que seria se disputasse pelo PSDB. As restrições da estrutura partidária e dificuldades de alianças representam ausência de palanques fortes nos Estados e pouco tempo de propaganda eleitoral.

Se quisesse, Serra teria discurso para encarar essa, digamos, novidade. Disputando pelo PPS, ele contribuiria para a realização de um segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff e um dos candidatos da oposição. Ele seria o quarto nome, mantidas as pré-candidaturas do senador Aécio Neves (PSDB-MG), do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-ministra Marina Silva.

Mesmo ainda sem viabilizar o novo partido, Rede Sustentabilidade, Marina é considerada competitiva disputando por qualquer legenda pequena. Se não conseguir criar sua legenda, poderia ser ainda mais favorecida pela vitimização que a cercaria.

A opção de Serra disputar o Planalto pelo PPS para reforçar a oposição não existe como estratégia política no tabuleiro do PSDB. Mas seria o pior dos mundos para a tentativa de reeleição de Dilma: a oposição teria um candidato que é forte em São Paulo, um em Minas Gerais, outro em Pernambuco e Marina, que tem boa aceitação em Brasília e no Rio de Janeiro.

Mas, recolocando o pé no chão, essa articulação não existe. O que existe, hoje, é um PSDB fechado com a candidatura de Aécio Neves, que preside o partido e está em pré-campanha, organizando o partido pelo país e se preparando para o embate com o PT. Ontem, lançou um portal para divulgar e discutir políticas sociais de governos tucanos.

De outro lado, Serra praticamente isolado, sempre apontado como um problema para a candidatura de Aécio e agora cada vez mais afastado até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem dado declarações duras sobre sua falta de apoio para mais uma disputa presidencial.

Ex-ministro da Saúde na gestão de FHC, ex-governador de São Paulo, ex-prefeito da capital paulista e duas vezes candidato a presidente da República, Serra está diante de um dilema: vale a pena ficar no PSDB - e disputar um mandato de deputado federal (mais provável) ou de senador (de maior dificuldade, por estar em disputa apenas uma vaga em 2014) - ou ir para o PPS, mesmo sem perspectiva de vitória, para usar o espaço na mídia e na propaganda eleitoral, durante a campanha, para fazer o enfrentamento ao governo do PT.

Aécio Neves considera já ter feito os gestos que precisava fazer para manter Serra no PSDB. Os recados ao ex-governador paulista são de que, se aderir ao projeto de sua candidatura, ele terá o espaço que quiser na campanha e poderá ajudar na formulação do programa de governo.

Nada que sensibilize Serra, que acredita nunca ter contado com o real apoio de Aécio em suas campanhas à Presidência da República. Seus respectivos aliados vivem se fustigando. Dirigentes do PSDB nem sabem se é melhor Serra fora do PSDB, deixando o caminho livre para Aécio. A dúvida é qual estrago seria causado por uma eventual candidatura do paulista, disputando contra o senador mineiro por outra legenda.

O recente debate sobre prévias partidárias para escolha do candidato do PSDB a presidente não foi levado a sério nem pelos dois protagonistas.

Numa entrevista concedida no Paraná, o ex-governador de São Paulo foi perguntado sobre prévias e respondeu que admitia, havendo mais de um candidato. Não estava propondo prévias. Aécio, por sua vez, respondeu, também em entrevista, que toparia, desde que alguém propusesse à executiva nacional.

Tudo não passou de encenação. O candidato do PSDB a presidente está escolhido. É Aécio, que controla o partido, e tem mostrado vontade e entusiasmo com o enfrentamento. Entusiasmo, no entanto, que falta até a alguns de seus aliados, preocupados com o que consideram pouca firmeza do ex-governador mineiro como oposição e a falta de impacto de seus discursos.

Há, no PSDB, quem diga que, se Aécio não melhorar seu desempenho nas pesquisas de opinião rapidamente, quem poderá conquistar apoios dos tucanos é Eduardo Campos. Por enquanto, os dois pré-candidatos mantêm um bom entendimento, de olho numa aliança no segundo turno. Até mesmo Marina dispõe de interlocutores conversando com os potenciais adversários.

O "deadline" do principal dilema serrista (mudar ou não de partido) é em menos de um mês. Pela legislação, um ano antes da eleição, todo candidato tem de estar filiado ao partido pelo qual pretende concorrer.

Serra não precisa fazer nada - o que já será uma decisão tomada. Até lá, muitos tucanos estarão analisando cenários e buscando solução para a crise. Se Serra é visto como pedra no sapato de Aécio, por um lado, sua permanência no PSDB, por outro, é considerada essencial para que o presidenciável mineiro tenha uma boa votação no maior colégio eleitoral do país.

Além disso, eventual saída do ex-governador do PSDB causaria passaria a ideia de fragilidade de um projeto político que, por si só, ainda não se mostrou sólido.

Fonte: Valor Econômico

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