quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A política de fardão - Rogério Gentile

A chacoalhada que a aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos deu na política brasileira produziu efeitos diversos sobre os dois principais partidos.

O PT de Dilma, favorito na sucessão presidencial, ainda que alguns degraus abaixo do que estava no início do ano, calibrou seu discurso, acelerou a montagem do seu arco de alianças para 2014, intensificou contato com o empresariado e iniciou um movimento para tentar isolar o PSB nos Estados. Fez política, sempre com Lula no centro das articulações.

Já o PSDB de Aécio, o grande ameaçado nessa história toda, que corre o risco de nem ir para o segundo turno, aprofundou-se em seu imobilismo e na sua incapacidade de produzir fatos ou novas ideias. Atado aos interesses dos candidatos tucanos nos Estados e às disputas internas no partido, o ex-governador parece mesmo acreditar que Presidência é destino, como costuma dizer. Se é destino, então basta esperar.

E olha que foi FHC o primeiro a prever o atual cenário. Em abril de 2011, escreveu um artigo ("O papel da oposição") no qual dizia "que a fagulha de uma insatisfação poderia produzir um curto-circuito" no país e que a "oposição precisaria estar preparada" para esse momento, precisaria "ter o que dizer".

Pois a tal fagulha surgiu em junho, desencadeando os protestos que levaram multidões às ruas e derrubaram a popularidade dos governantes. Dilma, que tinha 58% das intenções de voto no Datafolha de março, numa pesquisa com mais três candidatos (Marina, Aécio e Campos), hoje tem 39%, em um cenário com mais dois nomes (Marina e Aécio).

Enquanto Marina e Campos tentam nitidamente se aproveitar do curto-circuito, investindo no mito da "nova política", Aécio e o próprio FHC parecem ter se esquecido do artigo. A única mensagem que o PSDB transmitiu à sociedade depois de junho é a de que político tucano fica muito bem com o fardão da Academia Brasileira de Letras.

Fonte: Folha de S. Paulo

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