terça-feira, 15 de outubro de 2013

Lula paga preço por não ser candidato - Raymundo Costa

Lula recebeu a fatura do PT. O ex-presidente não é candidato no lugar de Dilma Rousseff, mas em contrapartida ajudará o partido a se fortalecer nas eleições de 2014. O resultado disso é que o PT terá mais candidatos a governador, inclusive em Estados onde antes Luiz Inácio Lula da Silva julgava imprescindível apoiar um nome aliado.

O melhor exemplo dessa acomodação interna do PT é o Rio de Janeiro. Desde seus tempos de governo Lula defendia o apoio do PT Luiz Fernando de Souza, o Pezão, vice do governador Sérgio Cabral e nome também admirado por Dilma por combinar um perfil técnico com o de político. O PT terá candidato próprio no Rio.

Na última sexta-feira, o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, esteve no Rio e conversou longamente com o senador Lindbergh Farias, o nome do partido ao Palácio das Laranjeiras. Está tudo acertado. Lula não será obstáculo. O que precisa é acertar o desembarque ordenado do PT.

Nas conversas que Falcão teve com Lindbergh e os petistas do Rio chegou a ser cogitada a imediata entrega dos cargos. Rui foi contrário porque é favorável à saída "civilizada". Quer deixar claro ao PMDB que sai do governo porque terá candidato e não por ser contra o maior partido aliado da candidatura de Dilma.

Prova disso é que o PT planeja entregar os cargos de que dispõe no governo do Rio, mas deve se manter na administração do prefeito Eduardo Paes, também pemedebista e candidato a governador em 2018, passada a Olimpíada do Rio. O próprio Lindbergh resolveu antecipar seus planos e se candidatar agora, mesmo contra a vontade de "meu padim Lula", por achar que a Olimpíada será um sucesso e que em 2018 "Eduardo Paes será um avião".
Lindbergh apostou alto e levou. A menos que a conjuntura volte a mudar, o governador Sérgio Cabral perdeu o principal apoio de que dispunha no PT para lançar Pezão como o candidato único da base governista no Estado.

Na realidade, as novas expectativas do PT contam com a possibilidade de Dilma ter o apoio de até quatro palanques no Rio de Janeiro. Além do palanque de Lindbergh, os de Pezão (PMDB), de Anthony Garotinho (PR) e o do ministro Marcelo Crivella (Pesca e Aquicultura), que também ensaia uma candidatura, pelo PRB. As pesquisas indicam um cenário eleitoral bastante embolado no Rio.

Ainda nesta semana, Rui Falcão terá uma sequência de encontros partidários. Na agenda, PMDB, PDT e PR, em Brasília, e o PCdoB, na sexta-feira, em São Paulo. Pequeno, o PCdoB é um aliado que pode provocar um estrago na relação do PMDB com o PT.

Com seu candidato no Maranhão, o presidente da Embratur Flávio Dino, bem à frente nas pesquisas de opinião, o PCdoB acha que chegou a hora de o PT jogar Sarney ao mar e apoiá-lo nas eleições de 2014. Este é um assunto ainda não resolvido, Lula preferiria o apoio a Sarney. Mas no panorama visto da ponte de comando do PT, a aliança do PT com o "PMDB de Renan Calheiros e José Sarney" ainda queima nas chamas dos protestos de junho.

A conversa de Rui Falcão com o PMDB tem tudo para ser a mais delicada. Mas o presidente do PT também carrega seus contenciosos na pasta. Uma delas é a candidatura de Geddel Vieira Lima, um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal (CEF) e integrante da cúpula do PMDB, ao governo estadual da Bahia.

Falcão deve informar o PMDB que o PT terá candidato próprio na Bahia, mas que considera a candidatura de Geddel Vieira Lima "um direito dele". Assim como é direito do PT lançar um candidato contra o PMDB no Rio. Só não aceitará que o ex-ministro monte no Estado um palanque para o candidato a presidente da República do PSB. Leia-se o governador de Pernambuco e presidente do partido, Eduardo Campos, e/ou a ex-senadora pelo Acre Marina Silva (Rede Sustentabilidade, temporariamente hospedada no partido de Campos).

Em Minas Gerais, Lula também tinha outras alternativas, mas fechou com o PT, cujo candidato será mesmo o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). A expectativa do PT é que o PMDB aceite entrar na chapa com o candidato a vice e apresente, pelo que manifestaram líderes pemedebistas, algum nome "histórico" do partido. Isso excluiria o empresário Josué Gomes da Silva, filiado recentemente.

A exigência de um nome histórico do PMDB para compor a chapa sugere que Josué Gomes possa substituir Fernando Pimentel na Indústria e Comércio Exterior. Isso depende da presidente Dilma Rousseff. E o PMDB tem pelo menos uma tríade de pretendentes que já investiu muito e trabalha pela própria candidatura ao governo.

Resta São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, com cerca de 35 milhões de votos. Em outras épocas, Lula chegou a sugerir o lançamento de um nome de partido aliado. O PT vai concorrer com candidato próprio, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e com o apoio mais fácil de Lula do que ocorreu no Rio de Janeiro.

Em São Paulo os aliados manifestam preocupação com a possibilidade de o PT, se vencer a eleição, ficar com todos os postos de maior Orçamento da República: o governo federal, o governo de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo. Trata-se de uma conjugação que o eleitor se recusou a fazer nas eleições recentes. Quando Marta Suplicy era prefeita, o presidente era Fernando Henrique Cardoso; quando José Serra (PSDB) assumiu, Lula era o presidente - e no mandato dos dois os tucanos ocupavam o governo paulista.

Embora Lula ainda seja reticente quando trata do assunto com outros partidos da base, ele também trabalhou para transformar Padilha em candidato. A estratégia do PT para São Paulo é a mesma adotada no Rio e onde houver disputa entre os partidos da base: a saturação de candidatos aliados, para isolar e sufocar a oposição nos Estados. Num eventual segundo turno todos devem convergir para a candidatura majoritária de Dilma. É a engenharia a que se dedica agora o mestre de obras Rui Falcão.

Fonte: Valor Econômico

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