sábado, 5 de outubro de 2013

Sirkis critica Marina, tenta voltar ao PV, mas acaba deixando a sigla

Um dos mais fiéis aliados da ex-senadora, deputado a chama de caótica

Fernanda Krakovics, Gustavo Uribe e Letícia Fernandes

RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO- Um dos principais aliados e defensores da candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência, o deputado Alfredo Sirkis fez ontem duras críticas a ela, que teve o registro de seu partido, o Rede Sustentabilidade, negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ofensiva de Sirkis, classificada por ele de "sincericídio" e que chegou a compará-la com um líder populista, revela que a indefinição sobre o futuro de Marina deixou seus aliados também sem rumo.

Depois de publicar o texto em seu blog, na tarde de ontem, Sirkis desembarcou no Rio para conversar com líderes do PV sobre sua situação no partido. No fim do dia, horas depois de ter criticado Marina e de o presidente nacional do PV José Luiz Penna, recusar-se a recebê-lo, Sirkis decidiu deixar a legenda. Disse, que esperaria a definição da ex-senadora para articular sua ida para o PPS ou o PSB.

— A Aspásia (Camargo) conversou com o Zeca Samey, que contou para ela que o (José Luis) Penna tinha dito que não haveria nenhuma conversa comigo. Já que ele se recusa a conversar, eu estou mandando um ofício me desfiliando do PV — disse Sirkis, lembrando ter fundado o partido: — Eu, fundador do Partido ; Verde, autor do manifesto e do programa, presidente do PV durante oito anos, eles se recusam a conversar. E o recado que me mandaram é que não teria legenda na eleição do ano que vem.

Penna afirmou ontem que, caso integrantes do grupo de Marina Silva queiram retornar ao partido, a sigla terá de avaliar cada caso individualmente. Ele lembrou que o prazo de filiação para disputar nas eleições de 2014 termina hoje:

— Nós teremos de avaliar, porque há situações municipais, regionais e nacionais.

Em 2011, quando anunciou o seu afastamento provisório do PV Sirkis criticou a legenda. Naquela ocasião, na ressaca dos 20 milhões de votos computados para Marina nas eleições de 2010, Sirkis afirmou que o partido vivia "uma situação catastrófica, com alianças políticas contestáveis". Os maiores alvos foram os deputados José Luiz Penna e Sarney Filho, que ontem barraram a volta do deputado para a sigla.

"Séquitos incondicionais"

Angustiado com o prazo apertado para escolher uma sigla, Sirkis disse que a Rede "deu mole" ao não conseguir o número de assinaturas necessárias. Escreveu que Marina tem limitações, cultiva um processo decisório "caótico" e que só saberia trabalhar com "seus incondicionais"

"Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. Às vezes falha como operadora política, comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares. Tem certas características dos líderes populistas, embora deles se distinga ; por uma generosidade e uma pureza d"alma que em geral eles não têm" escreveu Sirkis.

Ao dizer que não tem mais "idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais" o deputado sinalizara que não seguiria o mesmo caminho de Marina, apesar de ressaltar que a apoiará para presidente. "Ficarei com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de brasileiros, mas não esperem de mim a renúncia à lucidez e adesão mística incondicional, acrítica".

Ele recriminou o fato de Marina não ter discutido um plano B com mais antecedência: "É um processo caótico, se ela de fato cogitava ter um plano B, deveria estar sendo discutido com os quadros políticos mais experientes há pelo menos um mês, para a gente mapear as alternativas. Esse negócio jogado, assim, a 18 horas do término do prazo de filiação, eu acho absolutamente temerário. E revelador de uma certa falta de confiança nas pessoas.

Ela não confiou, ficou com medo de as pessoas vazarem informações, e resolveu não discutir" Perguntada sob re as declarações de Sirkis, Marina disse que o respeita e que ele deve ter agido no calor do momento:

— Ficamos até tarde numa reunião cansativa. Não sei o que foi dito, mas cada um que saía daquela reunião foi descarregar suas tensões escrevendo alguma coisa para poder acalmar o coração.

Sobre o fato de Sirkis qualificar como caótico seu processo decisório, reagiu:

— É o que chamei de consenso progressivo. É algo muito moderno. São palavras diferentes.

Fonte: O Globo

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