sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dívida externa cresce 37% no governo Dilma e bate recorde

Registrado em novembro, o montante de US$ 482 bilhões em débitos no exterior é o mais elevado da série histórica iniciada em 1971. Mais de um terço dessa dívida, observam analistas, vence entre 2014 e 2015, período com forte risco de elevação do dólar devido à mudança na política monetária dos EUA

Dívida externa bate recorde: US$ 482 bilhões

Somente no governo Dilma, débitos aumentam 37%. Analistas alertam para o fato de mais de um terço do endividamento vencer entre 2014 e 2015, período de mudança na política monetária dos Estados Unidos, que deve elevar o dólar e a aversão ao risco Brasil

Diego Amorim

O Brasil chega ao fim de 2013 colecionando indicadores preocupantes. Não bastassem o crescimento pífio e a inflação bem acima da meta estipulada pelo governo, de 4,5%, a dívida externa bruta atingiu, em novembro, o maior valor desde o início da série histórica do Banco Central, em 1971. São US$ 482 bilhões em débitos no exterior, incluindo as faturas do governo, dos bancos, de empresas e os empréstimos intercompanhias, ou seja, aquelas transações feitas geralmente entre as filiais de multinacionais no Brasil e suas sedes fora do país.

Somente na era Dilma Rousseff, iniciada em janeiro de 2011, a dívida externa brasileira registrou um salto de 37%. Em valores absolutos, cresceu US$ 130,2 bilhões, complicando um quadro que era considerado confortável até então. Mesmo os saldos do setor público, que vinham chamando a atenção por apresentar quedas expressivas ao longo do ano, terminarão 2013 em alta, retornando ao patamar de cinco anos atrás, com US$ 64,6 bilhões acumulados.

O recorde, por si só, já seria suficiente para acender de vez o alerta em relação à dívida do país no exterior. Mas o cronograma do vencimento desses débitos, detalhado pela autoridade monetária, torna a situação mais delicada. Um terço do saldo total — US$ 157,2 bilhões — vencerá nos próximos dois anos, período de mudanças na política monetária do Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e de desconfiança acerca do próximo governo por aqui.

A redução dos estímulos à economia norte-americana — a partir de janeiro próximo, conforme programação divulgada neste mês — tende a exercer forte influência no câmbio de países emergentes, como o Brasil e, consequentemente, na composição da dívida externa. A se confirmar a projeção mais conservadora do mercado para o ano que vem, o dólar subirá pelo menos 10%, para R$ 2,50. Com isso, o saldo devedor teria uma alta de US$ 50 bilhões, sem contabilizar prováveis novos empréstimos.

Bancos e empresas foram os principais responsáveis pelo aumento da dívida no governo Dilma. Os débitos de ambos tiveram crescimento de 29% nos últimos três anos, segundo dados do BC. Com dificuldades para refinanciar os débitos no exterior, com custos cada vez mais altos, as companhias perdem capacidade de investimento, justamente o que mais faz falta ao país em um momento em que o crescimento da atividade insiste em não deslanchar. Não à toa, a desconfiança em relação ao Brasil só faz aumentar, a ponto de o país correr o risco de ser rebaixado pelas agências de classificação de risco.

Fuga de capitais
Os números do BC revelam a deterioração do setor externo, no entender do economista e ex-diretor de Área Externa da autoridade monetária Carlos Eduardo de Freitas. Para ele, essa leitura pode ser feita por conta do conjunto de variáveis negativas. “O crescimento do país tem sido abaixo do medíocre, a poupança interna está caindo, e o deficit nas transações correntes aumentou. Tudo isso sugere a deterioração”, enumera.

Para evitar uma fuga de capitais muito grande e conter pressões do câmbio sobre a inflação em pleno ano eleitoral, acredita Freitas, o governo não economizará em medidas para segurar a alta do dólar em 2014, o que poderá acabar minimizando os impactos na dívida externa bruta. Também ajudaria a melhorar o cenário, completa o economista se o governo resolvesse, enfim, equilibrar as contas públicas e reduzir o protecionismo.

Ainda que haja um esforço concreto, o endividamento não deve diminuir, na avaliação do economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luis Oreiro. “É preocupante o fato de que a qualidade do financiamento externo piorou em função do aumento do deficit em conta corrente. Em vez de investimento estrangeiro direto (capital de longo prazo) financiando o rombo, o que vemos é uma dependência maior por capital especulativo”, justifica o especialista.

Fonte: Correio Braziliense

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