sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Estádios ou praças de guerra no país da Copa? - Roberto Freire

A seis meses da Copa do Mundo, o futebol brasileiro ganha destaque no noticiário internacional não pelos gols de seus craques, mas pela violência que tomou conta dos estádios. No último dia 8, o mundo acompanhou as cenas de selvageria protagonizadas por criminosos travestidos de torcedores de Atlético Paranaense e Vasco nas arquibancadas da Arena Joinville, em Santa Catarina. A partida ficou interrompida por mais de uma hora e o conflito terminou com um saldo de quatro feridos com gravidade.

O Brasil vem registrando uma escalada de violência e mortes em seus estádios nos últimos anos. Só em 2013, 30 pessoas morreram em conflitos entre torcidas, superando o número já calamitoso de 2012 (23). Entre 1999 e 2008, houve 42 mortes. Ao invés da punição a Atlético Paranaense e Vasco, que perderam mandos de campo, os vândalos que transformaram a Arena Joinville em uma praça de guerra é que deveriam ser severamente penalizados.

O futebol brasileiro teria muito menos do que 100 mortes para lamentar nos últimos 15 anos se os bandidos tivessem sido presos e impedidos de voltar a um estádio logo na primeira ocorrência de suas hoje já extensas atividades delituosas. É responsabilidade do Estado coibir a violência no país do futebol, sobretudo às vésperas de uma Copa para a qual foram construídas modernas arenas ao custo de bilhões, em grande parte com dinheiro público.

O Brasil deveria seguir o exemplo da Inglaterra, que sofreu como vandalismo dos “hooligans” nos anos1980 e hoje é referência em segurança nos eventos esportivos. Em 5 de junho de 1985, o Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, foi palco de um triste espetáculo durante a final da Copa dos Campeões da Europa entre Liverpool e Juventus. Os violentos torcedores ingleses foram pivôs de um confronto que resultou em 38 mortos e 454 feridos.

Devidamente identificados pela polícia a partir das imagens da televisão, 27 “hooligans” que iniciaram o tumulto foram presos e indiciados por homicídio culposo. Em 1989, em Sheffield, novamente durante um jogo do Liverpool, outra tragédia: 96 pessoas morreram esmagadas junto às grades após uma confusão na arquibancada.

A grande virada no futebol inglês se deu em1990, a partir do Relatório Taylor, documento de diretrizes formulado pelo governo que deu origem a profundas transformações nos estádios do país. As grades que separavam a torcida do campo foram removidas, os portões e catracas receberam dispositivos de segurança, a venda de bebida alcoólica foi proibida e câmeras de monitoramento foram instaladas em todas as arenas.

Quem invadia o campo era preso imediatamente e banido dos estádios, tendo de se apresentar à polícia nos dias de jogos de seu time. A Copa de 2014 já consumiu mais de R$ 30 bilhões em dinheiro público, entre obras nos estádios e outros investimentos. Mas de nada adianta erguer arenas no “padrão Fifa” se os bandidos que barbarizam nas arquibancadas continuarem livres, aterrorizando os amantes do futebol.

Como se não bastasse a virada de mesa consumada em um tribunal que, no tapetão, aplicando normas esdrúxulas, determina quem permanece na primeira divisão e quem cai para a Série B, o futebol brasileiro padece como vandalismo explícito nos estádios. Com ou sem Copa, as autoridades têm a obrigação de defender esse patrimônio cultural do povo brasileiro, verdadeira paixão nacional dilacerada pela ação criminosa de meliantes.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

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