sexta-feira, 20 de setembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: ‘aprender’ com a maioria

Ou nos conformamos com a idéia de que formas de autogoverno brotarão ocasionalmente e conviveremos com grupos anárquicos que predicam a violência, arriscando-nos à ruptura da convivência democrática, ou nos pomos humildemente a dialogar com os vastos setores da sociedade que só formalmente pertencem à pólis. Eles estão, na maioria das vezes, economicamente integrados, politicamente insatisfeitos e possuem identidades culturais diferentes do que até hoje parecia, equivocadamente, ser o mainstream. É só conhecer a realidade das “comunidades” que pontilham nossas cidades ou as periferias infindáveis de seus contornos para sentir a força dessas presenças. Tecnicamente é possível aumentar os mecanismos de escuta e de participação ampliada no processo deliberativo e nas instituições executivas. Politicamente o avanço tem sido muito lento.

Numa palavra: não há tempo a perder para reconstruir a democracia nos moldes das realidades atuais. Neste esforço, a educação e a cultura continuam fundamentais. O momento não é de simples “pregação democrática”, como se este credo construído a duras penas nos últimos séculos fosse o anelo da maioria. Não se trata só de “ensinar”, mas de “aprender” Não estamos diante de uma elite que sabe e de um povo que desconhece. O momento é de respeito à pluralidade das identidades culturais e de reconstrução das instituições para que elas captem e representem o sentimento e os novos interesses da população. Só assim poderemos manter acesa a chama da liberdade, do respeito à representação e da autoridade legítima e evitar que formas abertas ou disfarçadas de autoritarismo e violência ocupem a cena.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República. Extraído do discurso de posse de FHC na Academia Brasileira de Letras, em 10/09/2013.

Novo relator do mensalão quer rapidez no processo

Ministros do STF iniciam corrida para acelerar o julgamento dos recursos de 12 de 25 réus do mensalão e discutem a possibilidade de antecipar a prisão dos condenados. O novo relator, ministro Luiz Fux, disse que colocará o processo o mais rápido possível em julgamento. Para o novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a execução das penas só ocorrerá depois de julgados todos os recursos.

Relator de novo julgamento sinaliza que vai tentar encerrar caso o quanto antes

Felipe Recondo, Fausto Macedo e Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Escolhido para relatar o novo julgamento de parte dos crimes de 12 dos 25 condenados no mensalão, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fuxy sinalizou ontem que colocará o quanto antes o caso da pauta da Corte. Pelos prazos regimentais, porém, isso só deverá ocorrer, no mínimo em fevereiro de 2014.

Ontem, por meio de uma nota oficial, Fux afirmou levará os recursos a julgamento ao plenário "tão logo todas as partes se manifestem nos autos, obedecido o devido processo legal".

A partir de agora o tribunal tem 60 dias para publicar o acórdão a decisão sobre a aceitação dos embargos infringentes, que garantem nova análise de crimes pelos quais réus são condenados em votação com ao menos quatro votos absolutórios.

Depois, os advogados terão 30 dias para apresentar seus embargos infringentes, A Procuradoria-Geral da República também terá outros 30 dias para dar seu parecer. Só então o caso os crimes poderão ser reanalisados pelos ministros, No meio de todos esses prazos regimentais, haverá ainda o recesso do judiciário, o que jogará tudo para fevereiro do ano que vem.

O ministro Roberto Barroso afirmou que liberará sua parte do acórdão na próxima segunda-feira. Já o ministro Ricardo Lewandowski afirmou que respeitará o prazo previsto no regimento, ou seja, os 60 dias.

Prisões. Haverá dois ritos de prisões para os condenados do mensalão. Os 13 condenados que não têm direito aos embargos infringentes poderão ter suas penas executadas logo depois que o Supremo publicar a decisão sobre os primeiros recursos do caso - os chamados embargos de declaração, que apontam incongruências dos votos dos ministros. Mesmo tendo direito a mais recursos do gênero, os condenados poderão ter de cumprir suas penas se os ministros entenderem que esses recursos são apenas protelatórios.

O novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ontem que só pedirá a execução das penas - prisão para alguns, multas para outros -após o caso transitar em julgado, ou seja, após todos os recursos possíveis serem analisados.

Os ministros do Supremo, porém, podem tomar a decisão mesmo sem serem acionados pela Procuradoria-Geral.

Já no caso dos 12 condenados que têm direito aos embargos infringentes, entre eles o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, as penas só deverão ser executadas depois do novo julgamento e da publicação da decisão - sobre esse novo julgamento - no Diário Oficial da Justiça. Todos terão direito a mais embargos de declaração, mas, como no caso anterior, se os ministros do STF entenderem que os recursos são apenas protelatórios, poderão executar as penas.

Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello sustentam, porém, ser possível executar as penas que não podem mais ser contestadas por embargos infringentes. Por esse raciocínio, Dirceu, por exemplo, poderia começar a cumprir a pena pelo crime de corrupção ativa -para o qual não cabe embargo infringente - mesmo enquanto pede um novo julgamento para o crime de formação de quadrilha.

Mendes afirmou ontem ser "plenamente plausível" a execução das penas não mais passíveis de recursos. Marco Aurélio explicou que a ação penal tem capítulos autônomos, com crimes separados e punições específicas. Por isso, as penas para um crime específico que não mais podem ser contestadas poderiam normalmente ser cumpridas.

Defesa. Os advogados que atuam no caso contestam a possibilidade de antecipação das penas para os condenados que tem direito a embargos infringentes para crimes específicos.

Defensor do empresário Marcos Valério, Marcelo Leonardo lembrou que o STF decidiu, no ano passado, que a execução da pena depende do trânsito em julgado do processo. "De outro lado, não se tem notícia de caso em que se fragmentou o acórdão. Por isso, me parece que não tem sentido cogitar de prisão antes de trânsito em julgado do acórdão condenatório."

Leonardo Isaac Yarochewsky, advogado da ex-diretora do Banco Rural Simone Vasconcelos, concorda. "Vão fatiar o acórdão? Penso que enquanto não for publicado o acórdão definitivo o tribunal não pode mandar prender", afirmou.

De fora
A ONG Transparência Internacional afirmou ontem que o fato de o Supremo ter optado por novo julgamento para parte dos condenados do mensalão "não significa que a impunidade venceu".

Fonte: O Estado de S. Paulo

"Há cooptação política no STF"

Jurista e membro da Comissão Nacional da Verdade, José Paulo Cavalcanti Filho sugere que faltou neutralidade a ministros para julgar os embargos infringentes

Um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar um novo julgamento para 12 dos 25 réus do chamado mensalão, o jurista pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, 65 anos, membro da Comissão Nacional da Verdade e ex-secretário executivo do Ministério da Justiça no governo José Sarney, classificou a decisão como lastimável e aproveitou para criticar, em tom incisivo, ministros indicados pela presidente Dilma Rousseff, Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, por supostamente não terem neutralidade para atuar no julgamento.

"Ninguém chega ali sem assumir compromissos. É um estilo de cooptação política que saiu do Legislativo e chega agora ao Judiciário", descreveu o jurista.

"Atores independentes dão lugar a nomes que aceitam votar com o governo (federal). É a precondição para assumir o cargo. Eu sei o que é isso", observou, em debate na rádio JC News, sem dar detalhes do convite que recebeu para assumir vaga no STF, no governo Lula.

"O (ministro Luís Roberto) Barroso tem compromissos. Agora o processo vai para o relator, vai ter pedido de vistas. O que vai acontecer é que as penas vão prescrever, vão ser revistas. Os novos membros (do STF) assumiram o compromisso de votar com o governo", destacou.

Em sua avaliação, era difícil sustentar a aceitação dos embargos infringentes. "Não há previsão legal. Está só no regulamento interno do órgão. Foi uma desculpa para postergar (o julgamento)", acrescentou o jurista.

José Paulo poupou das críticas o ministro Celso de Mello, que desempatou o julgamento em favor dos acusados. "O mais terrível dos erros é que ele tem heróis sinceros. Mas o direito está nas ruas. Por isto, acho que foi um dia ruim para o Judiciário", comentou.

Sobre o presidente do STF, Joaquim Barbosa, o jurista disse acreditar que ele ainda pode renunciar, quando da leitura final do resultado do julgamento. "Ele poderia ter renunciado antes. O momento adequado não aconteceu, mas no futuro pode acontecer. Seria o segundo momento da toga no chão, um momento único. Barbosa ganharia um futuro. Ele não deve nada a ninguém. As pessoas bateriam palmas para ele. Não é impossível", disse José Paulo.

No mesmo debate, o advogado Gustavo Britto Alves pediu licença para discordar, mesmo frisando que, na condição de pessoa física, havia ficado indignado com o desfecho do julgamento. "A opinião pública não pode colocar cangalha no Judiciário. O STF está de parabéns (pela independência)", afirmou. "A decisão do STF não foi pela impunidade. A decisão foi pela garantia das liberdades democráticas", comentou Brito Alves.

José Paulo ironizou ministros do governo que deram declarações sobre o caso. "(Aloizio) Mercadante dando opinião de jurista, fala sério. Não era melhor ele falar de educação?".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Mensalão - o julgamento: Ministros do STF resistem a antecipar prisão de réus

Ideia de executar penas antes do fim do processo não deve prosperar na corte

Jurisprudência sugere que penas só começarão a ser cumpridas quando não houver mais chance de recurso no tribunal

Valdo Cruz Severino Motta

BRASÍLIA - A possibilidade de prisão dos condenados no mensalão que ainda têm direito à revisão de suas penas não deve prosperar no STF (Supremo Tribunal Federal) antes da conclusão do processo.

Quatro ministros ouvidos pela Folha disseram que seria um casuísmo separar os crimes pelos quais os réus foram condenados no ano passado, para que comecem a cumprir a parte da pena que não poderá mais ser revista.

Na última quarta-feira, o Supremo decidiu que 12 dos 25 condenados terão o direito de apresentar embargos infringentes, recursos que os réus poderão usar nos casos em que foram condenados com quatro votos a seu favor.

O julgamento dos recursos só deve ocorrer em 2014. Se tiverem êxito, há réus que poderão reduzir suas penas e até escapar do regime fechado.

Mas os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello disseram que algumas prisões poderiam ser executadas antes da conclusão do processo, para garantir a punição para os crimes que não serão analisados novamente.

Marco Aurélio citou o caso do ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha a 10 anos e 10 meses de prisão.

Dirceu poderá apresentar embargos para tentar anular a condenação por formação de quadrilha, mas não há mais o que fazer para rever a pena aplicada por corrupção, que lhe deu 7 anos e 11 meses.

Mendes e Mello acham que Dirceu deveria começar a cumprir pena assim que for publicado o acórdão da última etapa do julgamento, em que foram analisados os primeiros recursos. A publicação deve ocorrer até o fim do ano.

"Vamos analisar um caso emblemático, o do ex-ministro Dirceu", disse Mello. "Ele só terá os embargos infringentes na formação de quadrilha. Pelo outro crime de corrupção ele pode ser preso com o trânsito em julgado."

A tese é vista com dificuldade até mesmo pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa. Segundo interlocutores, ele não se mostrou disposto a fatiar o acórdão e mandar prender réus que esperam a análise de recursos.

O ministro Dias Toffoli, que no passado trabalhou para o PT e Dirceu, disse que as prisões só poderão ocorrer depois de certificado o trânsito em julgado. Ou seja, após a conclusão do julgamento e o esgotamento das possibilidades de recurso dos réus.

Toffoli disse que o tribunal deixou isso claro em 2009, no julgamento de um habeas corpus. "De acordo com este precedente do Supremo, a execução só ocorre após certificado o trânsito em julgado."

A posição é compartilhada por outros ministros ouvidos pela Folha, mas que pediram para não ser identificados. "Não existe sentença pela metade", disse um deles, ao se dizer contra a decretação de prisão de réus com base em parte da sentença.

No julgamento do habeas corpus de 2009, Barbosa foi a favor da prisão antes do trânsito em julgado, mas acabou derrotado. Dos atuais integrantes da corte, além dele, a ministra Cármen Lúcia também votou pela prisão. Mendes votou contra a antecipação, que agora defende.

Fonte: Folha de S. Paulo

Troca no plenário pode beneficiar réus do mensalão

Novo entendimento, ocorrido após primeira fase de julgamento, é esperança das defesas

BRASÍLIA- Oito condenados por formação de quadrilha no processo do mensalão têm chances reais de absolvição do crime no julgamento dos embargos infringentes — e, com isso, poderão ver reduzido o tempo que ficarão atrás das grades. Um dos possíveis beneficiados é o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A esperança do grupo está no julgamento realizado no Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto passado, que resultou na condenação do senador Ivo Cassol (PP-RO) por fraude em licitações. Na mesma ocasião, Cassol foi absolvido da acusação de formação de quadrilha, ao contrário do que aconteceu com os réus do mensalão.

A mudança da jurisprudência ocorreu porque a formação do tribunal é outra. No ano passado, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto, que participaram do julgamento do mensalão, aposentaram-se. Eles foram substituídos por Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, que não participaram das decisões do mensalão. Ayres Britto havia condenado os réus por formação de quadrilha. Peluso não votou no assunto, porque se aposentou antes. Neste ano, Barroso e Zavascki votaram pela absolvição de Cassol na formação de quadrilha. Assim, na conta dos advogados, os réus do mensalão podem ser absolvidos na nova fase do julgamento por seis votos a cinco.

Prova de organização criminosa estável

No julgamento de Cassol, três ministros defenderam a tese de que, para configurar a formação de quadrilha, não basta a reunião de quatro pessoas ou mais para cometer um crime. Seria necessário confirmar a existência de uma organização criminosa estável, com atuação permanente, para cometer vários tipos de crime. Como Cassol cometeu só um crime — fraude em licitação —, não seria o caso de condená-lo também por formação de quadrilha, mesmo que ele tenha sido acompanhado por outros réus na prática do ilícito.

Ao votar, Zavascki afirmou que o crime de fraude em licitação já pressupõe a participação de várias pessoas. E que o fato de isso ter ocorrido não tipifica a formação de quadrilha.

— Quanto ao crime de quadrilha, é preciso considerar que o delito tipificado no artigo 90 (da Lei 8.666/93, fraude em licitação) se perfec-tibiliza com a participação necessariamente plurissubjetiva de agentes, já que supõe combinações ou ajustes. O próprio artigo 90 supõe uma coautoria, uma participação plurissubjeti-va de agentes. O que a denúncia descreve e o que aparentemente ocorreu é a prática de vários delitos dessa natureza de concurso plurissubjetivo de agentes. Isso, por si só, não caracteriza a existência de quadrilha — afirmou Zavascki na sessão de 8 de agosto.

No julgamento de Cassol, Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski defenderam a mesma tese. Apenas dois ministros, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello, votaram pela condenação. Os outros quatro votaram pela absolvição, mas por outro motivo: não havia o mínimo de quatro réus para configurar a formação de quadrilha. Fux não participou do julgamento. O placar foi de oito a dois pela absolvição no crime.

Em seu voto, Barbosa observou que o Código Penal, na época dos delitos, definia a formação de quadrilha como a associação de mais de três pessoas com o fim de cometer crimes. Para ele, o fato de serem praticados crimes idênticos não é relevante para a caracterização do delito.

— Pode ser qualquer crime. A regra é que as quadrilhas pratiquem crimes idênticos ou semelhantes, ou seja, há, normalmente, a especialização dos agentes na prática de determinados crimes e não de outros — afirmou Barbosa no julgamento de Cassol.

A mesma discussão foi travada no julgamento do mensalão, ocorrido no segundo semestre do ano passado. As condenações por formação de quadrilha foram todas decididas por seis votos a quatro. De um lado, estavam Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ayres Britto. Pela absolvição, votaram Cármen Lúcia, Rosa Weber, Lewandowski e Toffoli. Com a saída de Ayres Britto, o primeiro time deverá somar apenas cinco votos neste ano. E o segundo time deve ser reforçado pelos votos dos dois novatos.

Os novos prazos

VOTOS PUBLICADOS. Até a próxima quarta-feira, os ministros do STF entregarão suas notas sobre o julgamento dos chamados embargos de declaração, já concluído. Depois, no prazo máximo de 60 dias, a contar de cinco de setembro, o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, deve publicara ementa.

DEFESA E ACUSAÇÃO. Assim que a ementa for publicada, os advogados têm 30 dias para apresentar os embargos infringentes. Em seguida, a Procuradoria Geral da República ganha 15 dias para redigir seus argumentos.

NO PLENÁRIO DO STF. Com a manifestação das partes, o relator poderá apresentar seu voto. Ele não tem prazo estipulado. Porém, o ministro Luiz Fux já informou que pretende acelerar a votação.

Fonte: O Globo

Integração deve ir do PSB para PMDB

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pretende entregar o Ministério da Integração Nacional ao PMDB, mas é provável que a pasta dos Portos continue sob controle dos irmãos Gomes, desafetos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB),

Um dia após Campos anunciar o desembarque do PSB do governo federal, dando o primeiro passo para sua candidatura ao Planalto, Dilma tentou contornar o mal-estar com o antigo aliado e pediu ao ministro da Integração, Fernando Bezerra (PSB), que fique mais uma semana no cargo. Afilhado de Campos, Bezerra se reuniu ontem com Dilma por meia hora. Pretendia entregar a carta de demissão, seguindo decisão da Executiva Nacional do PSB, mas Dilma disse a ele que gostaria de conversar sobre o assunto somente depois que voltasse dos Estados Unidos. Ela embarcará no domingo para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e deve retomar ao Brasil no dia 27.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhou Dilma a manter o PSB por perto e a não se indispor com Campos porque pode precisar dele no ano que vem. Por Lula, o PT não teria acuado o governador de Pernambuco nem empurrado o PSB para fora da base aliada, mas o racha acabou ocorrendo.

Dilma não quer, porém, fazer a troca com pressa e já acertou com Lula e com o vice, Michel Temer (PMDB), uma reunião para tratar da reforma ministerial após a viagem de Nova York. O plano é reservar a Integração para o PMDB do Senado. Até agora, o nome apoiado pela bancada é o de Vital do Rêgo (PB), que já prestou serviços ao governo no Congresso e tem o aval do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Outros citados são os senadores Eduardo Braga (AM), líder do governo, que esteve ontem à noite com Dilma, e Eunício Oliveira (CE). Os dois são possíveis candidatos aos governos de seus Estados.

O segundo ministério do PSB é o dos Portos, comandado por Leônidas Cristino. Indicado pelo governador do Ceará, Cid Gomes, e por seu irmão Ciro, secretário de Saúde do Estado, Leônidas está no Panamá. A exigência da entrega dos cargos do PSB, neste caso, pode ser driblada com a transferência de Leônidas para um partido recém-criado, provavelmente o PROS.

Cid foi o único que se absteve da votação da Executiva do PSB que decidiu pela saída do governo Dilma e, ao lado de Ciro, deve apoiar a campanha da reeleição da presidente. "Para mim, a melhor estratégia é manter a aliança com o PT em 2014", insistiu o governador do Ceará.

Dois tempos. A saída do PSB pode antecipar a reforma ministerial. A cúpula do PT quer que Dilma faça as mudanças na equipe em dois tempos, trocando agora apenas o núcleo político e o PSB, mas ela ainda não bateu o martelo sobre esse formato.

Na reunião que manteve com Lula, com o marqueteiro João Santana e com alguns ministros, há uma semana, o assunto voltou à tona. Estão praticamente certas as saídas de Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Miriam Belchior (Planejamento) e do líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma pede a Bezerra que fique no cargo

Ministro do PSB permanecerá à frente da Integração Nacional até o fim da próxima semana, segundo assessores

Presidente quer voltar a falar com Eduardo Campos, que anunciou anteontem entrega dos cargos de seu partido

Natuza Nery, Tai Nalon

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pediu ontem ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), que permaneça no cargo até a próxima semana.

Segundo a Folha apurou, Dilma quer conversar novamente com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que anunciou oficialmente anteontem a entrega dos cargos que seu partido ocupa no governo federal.

Com o desembarque, o PSB fica livre para estruturar a pré-campanha de Campos, provável candidato à Presidência da República em 2014.

Na conversa de ontem com Bezerra, marcada para que o ministro se despedisse formalmente da chefe, Dilma afirmou ter sido surpreendida com a saída do PSB. Por conta disso, sequer pensara em um nome para substituí-lo, conforme relato do encontro feito por um auxiliar.

O PMDB e o PT cobiçam a vaga, mas ainda não há definição sobre quem assumirá o ministério.

Ontem, chegou-se a especular o nome do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Ele esteve com Dilma logo após a reunião dela com Bezerra. O senador, entretanto, negou de forma enfática qualquer articulação nesse sentido.

Dilma viajará a Nova York no próximo domingo para participar da abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Retornará ao Brasil entre quarta e quinta-feira.

Segundo o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, Fernando Bezerra poderá se reunir novamente com a presidente até o dia 27. Os dois permaneceram juntos ontem por cerca de 30 minutos.

Nenhum interlocutor consultado pela Folha soube explicar a razão de a presidente querer conversar novamente com Eduardo Campos.

Procurado pela reportagem, o governador afirmou não ter sido contatado pelo Planalto, e autorizou Bezerra a ficar mais uma semana. Mas alertou: "Isso [a entrega dos cargos] está superado. É a decisão do partido."

No entanto, setores da sigla que se opuseram à ruptura devem apresentar alguma resistência. No PT, afirma-se que o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, indicado pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), pode seguir na vaga. Ele está em viagem oficial ao Panamá.

A promessa de Campos de permanecer votando junto com o governo no Congresso, mas sem ocupar cargos, ainda que vista com cautela por palacianos, foi avaliada como de bom tom por Dilma.

Fonte: Folha de S. Paulo

Senador Humberto (PT) defende entrega em Pernambuco

O senador Humberto Costa (PT) voltou a defender que o PT entregue os cargos que ocupa no governo do Estado e na Prefeitura do Recife (PCR), assim como fez o PSB no plano nacional. Mesmo frisando que o partido ainda pretende deliberar sobre o tema, o petista afirmou que não faz "sentido" a legenda continuar participando das gestões socialistas diante do atual quadro de "rompimento".

"O PT tem que imediatamente reunir a Executiva estadual e discutir essa situação. Minha opinião é que não faz sentido o PT continuar no governo e na prefeitura quando houve esse rompimento em termos nacionais", justificou Humberto Costa, durante entrevista à Rádio Jornal. Contrariando os argumentos utilizados pelos defensores da permanência do partido nos governos do PSB, o senador sinalizou que o PT deve levar em consideração, primeiro, o contexto nacional e não os projetos locais.

"O mais importante para nós é o projeto Dilma. Não foi o PT que rompeu com o PSB. Foi o contrário", cravou. Ao enquadrar a postura do PSB como um "rompimento", Humberto adotou um tom mais duro do que o de seus correligionários para se referir ao desligamento da legenda socialista. Mesmo contrariados com as movimentações do governador Eduardo Campos (PSB) para construir sua candidatura presidencial, as lideranças nacionais do PT adotaram um discurso de cautela e evitaram falar em "rompimento". A orientação teria sido repassada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda guarda esperança de manter o PSB no palanque da presidente Dilma Rousseff.

Humberto considerou equivocada e surpreendente a saída dos socialistas do governo federal. "O que se entendeu dessa decisão é que o PSB resolveu ter um projeto próprio e não caberia estar dentro do governo", afirmou o petista.

A opinião de que o PT deve abandonar os cargos que possui nas gestões socialistas não é exclusiva do senador. O deputado federal João Paulo (PT) já defendeu publicamente a ideia e, ontem, o deputado Fernando Ferro (PT) reforçou o entendimento, embora, internamente esteja mais próximo à ala ligada ao ex-prefeito João da Costa (PT), que patrocinou o ingresso da legenda na gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB). "Se o PSB tomou uma decisão política de se distanciar do governo federal, é natural que as instâncias locais também analisem essa possibilidade. É o mais racional e correto é a entrega de cargos nas esferas estadual e municipal", justifica.

A informação é de que até mesmo o secretário estadual de Transportes, Isaltino Nascimento (PT), mostrou-se disposta a deixar a pasta, caso seja necessário. Nos bastidores, ele é considerado o petista mais próximo do PSB.

Diante da polêmica, a direção estadual do PT planeja realizar, até segunda-feira (23), uma reunião para discutir os rumos da aliança com os socialistas na esfera local. "Como presidente do partido, não quero adiantar individualmente uma decisão que tem que ser coletiva", disse o presidente estadual do partido, o deputado Pedro Eugênio.

Fonte: Jornal do Commercio

PSB do Rio migra em bloco para o PMDB

Por Paola de Moura e Guilherme Serodio

RIO - Enquanto o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, decidia deixar o governo Dilma Rousseff (PT), a bancada do PSB no Estado do Rio articulava nos bastidores sua mudança para o PMDB. Na próxima semana, os cinco deputados estaduais Marcelo Simão, líder do partido na Alerj, Armando José, Dr. Gotardo, Rafael do Gordo e Ricardo da Karol anunciarão oficialmente sua desfiliação. Dias depois, o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, presidente estadual do PSB, também deixará a sigla. As informações foram confirmadas por um importante integrante do PMDB fluminense.

No Rio, o PSB e o prefeito Alexandre Cardoso são aliados fiéis do governador Sérgio Cabral (PMDB) e da presidente Dilma Rousseff. Cardoso inclusive já decidiu apoiar, nas próximas eleições, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) como candidato ao Palácio Guanabara. No entanto, consultado pelo Valor, o prefeito preferiu ser cauteloso.

"Conversei com deputados estaduais. Desde que seja possível apoiar o Pezão, eles querem permanecer no partido", afirmou Cardoso.

Para ele, um eventual rompimento com o governo federal prejudicaria o PSB no Rio. Sua bancada correria o risco inclusive de perder prováveis adesões de candidatos à Câmara dos Deputados.

"Essa decisão [de deixar o governo federal] nos pegou de surpresa. Isso era para ser discutido no ano que vem. Algumas pessoas ficaram preocupadas porque nós estamos no governo Cabral e o PSB tem uma posição de apoio ao Pezão", disse Cardoso. Segundo ele, em conversa com Campos, o presidente nacional garantiu que respeitaria a decisão da direção estadual.

"Mas evidentemente os deputados estaduais ficaram muito inseguros e os prefeitos também". Nos corredores da Alerj, no entanto, a mudança também é tida como certa. Aliados de Cardoso ocupam vagas tanto na prefeitura da capital como no Estado. O secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio, Gustavo Reis Ferreira, foi eleito deputado estadual pelo partido. Na prefeitura o partido também indicou o titular da pasta de Ciência e Tecnologia - o professor da Universidade Federal Fluminense Franklin Dias Coelho.

Segundo integrantes da direção do PMDB no Rio, a maior parte da direção do PSB estadual também vai mudar de partido. Alguns saem para siglas novas como Solidariedade ou PSD, ambas aliadas de Cabral. No entanto, Roberto Amaral, atual primeiro vice-presidente e coordenador de relações internacionais do partido deve permanecer aliado a Eduardo Campos.

Recentemente, a direção nacional do PSB estudava a possibilidade lançar o ex-ministro da Saúde do governo Lula, José Gomes Temporão, candidato ao governo estadual em 2014. A estratégia visava garantir um palanque a Campos no estado.

Um dos nomes de maior visibilidade do partido no estado, o deputado federal Romário já desembarcou da legenda. Com o objetivo de concorrer à Prefeitura do Rio em 2016 na oposição ao PMDB, Romário promete definir na semana que vem sua futura legenda entre o PR, de Anthony Garotinho, e o PRB, do senador Marcelo Crivella.

Fonte: Valor Econômico

Sem apoio exigido em lei, Marina vai apelar ao TSE

Rede não deve conseguir os 492 mil nomes necessários até o julgamento do registro

BRASÍLIA - A Rede Sustentabilidade entregou ontem ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o seu último lote de assinaturas, mas não conseguiu chegar aos 492 mil nomes, o que levará o partido da ex-senadora Marina Silva a ir a julgamento sem ter o apoio popular formal exigido em lei.

As 136 mil assinaturas entregues ontem totalizam 440 mil nomes. Conforme a Folha antecipou, a Rede irá argumentar no dia do julgamento que o tribunal tem que considerar válidas as 95.206 assinaturas que foram recusadas pelos cartórios sem apresentação de motivo.

O advogado da Rede argumentará que a lei que regula o processo administrativo federal prevê a nulidade de atos sem motivação que "neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses".

O caso da Rede deve ser julgado na primeira semana de outubro. Marina precisa que o partido seja legalizado até 5 de outubro para que possa concorrer por ele à Presidência. Caso não consiga, pode se filiar a outra legenda, hipótese que não comenta.

Fonte: Folha de S. Paulo

Rede pede análise de assinaturas em 72h

Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A duas semanas do fim do prazo para que um candidato a presidente esteja filiado a um partido político, 5 de outubro, a legenda que a presidenciável Marina Silva tenta fundar, a Rede Sustentabilidade, terá sua criação julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem ter atingindo a obrigação legal de apresentar 492 mil assinaturas de apoiamento certificadas por cartórios eleitorais. Hoje, a Rede vai protocolar um pedido para que 80 mil assinaturas sejam analisadas em até 72 horas.

Dirigentes da sigla protocolaram ontem novo lote de assinaturas certificadas, atingindo um total de 440 mil, e esperam que a criação seja autorizada levando em conta ao menos 95 mil apoiamentos recusados por cartórios sem justificativa.

Por conta do prazo curto, a Rede decidiu não protocolar novas assinaturas que chegarem, pois isso poderia adiar 0 julgamento e impedir a análise pela Justiça Eleitoral em tempo hábil. O advogado do partido, Torquato Jardim, espera "boa vontade institucional" do Ministério Público e do TSE para viabilizar a legenda.

A Rede diz ter coletado 910 mil assinaturas em todo o País e enviado 660 mil a mais de 1.800 cartórios. Destas, 580 mil foram analisadas, sendo 440 mil certificadas e o restante rejeitado. Ainda que não veja mais espaço para protocolar mais apoiamentos, a Rede pretende "noticiar" caso alcance a exigência de 492 mil para pressionar a Justiça a ratificar sua criação. O partido questiona juridicamente os motivos de uma média de 24% de recusa nos protocolos de apoio.

Nova sigla
440 mil é o número de assinaturas que a rede já certificou no TSE
80 mil serão protocoladas hoje

Fonte: O Estado de S. Paulo

Criação do Rede está por 50 mil assinaturas

Por Yvna Sousa

BRASÍLIA - A 15 dias do prazo final para que novos partidos participem das eleições de 2014, o Rede Sustentabilidade informou, ontem, que possui apenas 440 mil assinaturas validadas pelos cartórios eleitorais. O número mínimo exigido é de pouco mais de 491 mil fichas de apoio.

Para que possa participar das eleições do ano que vem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisa autorizar a criação do partido da ex-senadora Marina Silva até o dia 5 de outubro. Diante do prazo apertado, o Rede deu entrada no pedido de registro no TSE, ainda em agosto, e aos poucos, adiciona as assinaturas que vão sendo validadas. Ontem, foram anexadas mais 136 mil fichas de apoio.

Segundo o partido, ainda há cerca de 80 mil fichas em análise nos cartórios. A legenda tem enfrentado uma taxa nacional de invalidação de assinaturas em torno de 24% - chegando a 30% em São Paulo e no Distrito Federal - o que pode prejudicar o alcance da meta.

Em mais uma tentativa de viabilizar o Rede, seus dirigentes vão enviar, ainda nesta semana, um requerimento aos presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) pedindo que eles determinem maior celeridade aos cartórios eleitorais na análise das assinaturas de apoio à legenda.

Ontem, o TSE adiou a análise do pedido de registro do partido Solidariedade, criado pelo deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP) e do Partido Republicano da Ordem Social (PROS). A decisão sobre os novos partidos será tomada na sessão de terça-feira.

O relator do processo do Solidariedade, ministro Henrique Neves, atendeu ao pedido do Ministério Público Eleitoral para que o novo vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, tivesse mais tempo para analisar o pedido. Aragão foi designado ao cargo ontem pelo novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

No caso do PROS, a relatora, ministra Laurita Vaz, pediu vista do processo. Ela decidiu estudar melhor questões levantadas pela ministra Luciana Lóssio na sessão anterior, quando pediu vista. Na ocasião, Luciana ressaltou que o PROS entregou assinaturas validadas pelos cartórios eleitorais diretamente ao TSE, sem passar pelo aval dos tribunais regionais eleitorais. Ela afirmou que na criação do PSD, de Gilberto Kassab, esse procedimento foi adotado. No entanto, a brecha foi permitida porque, à época, houve greve na Justiça Eleitoral.

Os advogados do PROS lamentaram a decisão da Corte de adiar o julgamento do registro do partido. Na avaliação deles, a decisão pode causar um "prejuízo irreparável" à legenda.

Fonte: Valor Econômico

Na TV, Aécio critica inflação, infraestrutura e educação

Por Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - O programa partidário do PSDB que foi ontem ao ar em rede nacional mostrou o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do partido e pré-candidato à Presidência da República, em viagem por cidades de quatro Estados brasileiros (Paraíba, Ceará, Mato Grosso e São Paulo), nos quais mostra exemplos e conversa informalmente com moradores sobre inflação, desperdício de recursos públicos, falta de infraestrutura para escoamento agrícola e educação.

Nos dez minutos do programa, que não tem efeitos especiais, aponta os problemas e deixa clara a diferença com o PT em relação ao papel do Estado. O recado do tucano é que o Estado tem que dar as condições, mas quem muda a vida do cidadão é o próprio cidadão.

"Estamos conversando com o Brasil real, ouvindo e construindo um projeto para o Brasil", afirma o presidenciável, no início do programa, que é aberto com o título de "O PSDB apresenta: Conversa com os Brasileiros".

Aécio é a única liderança do PSDB a aparecer, o que marca uma diferença em relação ao de maio, quando dividiu a tela com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin e seu antecessor, José Serra.

Em Campina Grande (PB), primeira parada, o senador conversa com a feirante Suênia sobre o aumento dos preços dos alimentos. Ela relata que fornece 150 refeições por dia e teve de aumentar preço porque comprava o quilo do feijão por R$ 3 e agora não encontra por menos de R$ 6 a R$ 7. "O lucro diminui", conta Suênia. "Vejo o governo dizendo que a inflação está sob controle", comenta o senador. No caminho para a próxima cidade, Mauriti (CE), Aécio defende o empreendedorismo, mas diz que as pessoas ficam desestimuladas com o aumento do preço dos alimentos, e conclui: "Governo tem que cuidar da economia, ter tolerância zero com a inflação."

Em Mauriti, Aécio mostra um trecho abandonado da obra da transposição do rio São Francisco e conversa com o agricultor Francisco, que se queixa da seca, diz que a obra está parada há três anos e confessa não ter "fé" de ver a água passando por ali. "Dá uma tristeza danada ver a obra do jeito que ficou", afirma Aécio ao agricultor.

A próxima cidade visita é Sorriso (MT), onde Aécio conversa com produtores rurais. "Aqui, a gente percebe o que é o Brasil hoje: da porteira para dentro, não tem país mais produtivo. O problema começa da porteira pra fora, na hora de escoar a produção", diz.

Os agricultores contam que produzem mais do que esperavam, mas o problema é a falta de infraestrutura para escoar a produção. Relatam que a previsão é que em dez anos a produção de soja, milho e algodão do Mato Grosso seja dobrada e que a estrada é a mesma há 30 anos. "Infelizmente, do ponto de vista de infraestrutura logística, o Brasil parou no tempo. Isso não pode acontecer. Está na hora de inaugurar um tempo onde o setor privado seja estimulado cada vez mais a produzir e o setor público faça a sua parte: utilizar as hidrovias que estão abandonadas, fazer as ferrovias que ficaram pelo meio do caminho e as rodovias essenciais ao desenvolvimento do país", diz Aécio.

O presidenciável termina o programa na capital de São Paulo. Lá, a conversa é com um grupo de jovens e sobre educação e ensino profissionalizante. O senador fala que o Brasil tem dois desafios: voltar a crescer de forma sustentável, para gerar emprego, e investir em educação de qualidade.

Ele cita o programa de ensino técnico do governo Alckmin, que diz considerar extraordinário. Diz que vê dois "Brasis": "Um é esse do paternalismo, do Estado que passa a mão na tua cabeça. Mas, do outro lado, é o Brasil do Henrique [o estudante que aparece], que acorda de manhã, olha no espelho, dá um sorrisão e fala "vou estudar, trabalhar, porque vou construir um tempo melhor pra mim"".

Sentado com um grupo de jovens em uma escadaria da capital, o senador conta que, ao assumir o governo de Minas, definiu a educação como prioridade e estabeleceu metas. Quando uma meta era alcançada, todo mundo que trabalhava no local recebia um salário a mais. Isso, segundo ele, garantiu um "salto de qualidade" na educação de Minas, considerada a melhor do país - segundo o Ministério da Educação, como diz.

Um tema da conversa com o grupo são as manifestações de rua. Ele pergunta o que motivou uma jovem a ir às ruas. Ela responde que decidiu ir atrás dos seus direitos. E Aécio comenta que os protestos não foram contra um partido ou um governante. Foram contra todos que fazem política.

"Está todo mundo cansado de enrolação, das mesmas promessas", diz. Ao ser perguntado por qual razão os jovens deveriam acreditar que um governo do PSDB seria diferente, Aécio dá o recado final. "Eu tenho uma visão diferente daqueles que estão no governo hoje, que acham que o Estado faz tudo pra você. Eu acho que quem muda o Brasil é você."

Fonte: Valor Econômico

Programa do PSDB critica obras paradas e 'paternalismo' do PT

Na TV, Aécio Neves conversa com personagens contrários a Dilma

Vera Magalhães

O programa do PSDB que foi ao ar ontem à noite em rede nacional de TV fez uma crítica à condução da economia, à falta de investimentos em infraestrutura, às obras federais paradas e ao "paternalismo'' dos governos do PT.

Aécio Neves foi o protagonista do programa, o que mostra que o discurso de que o partido poderia fazer prévias para escolher o candidato à Presidência não condiz com a realidade do tucanato.

O mineiro faz um aceno ao governador Geraldo Alckmin (SP), único governante tucano citado como bom gestor.

O programa, dos marqueteiros Renato Pereira e Chico Mendez, da Prole, segue a fórmula usada no primeiro semestre, de "conversa com os brasileiros''. De ônibus, Aécio vai ao interior do Ceará, a Campina Grande, ao interior de Mato Grosso e à capital paulista para falar com personagens que criticam Dilma.

A feirante de Campina Grande reclama do preço dos alimentos. O sertanejo mostra as obras inacabadas da transposição do rio São Francisco e diz que perdeu a esperança de que seus netos vejam uma solução para a seca.

Os agricultores matogrossenses se queixam da dificuldade de escoar a produção. Aécio diz aos ruralistas que "da porteira para dentro'' o Brasil bate recordes de produção, mas da porteira para fora há problemas de logística que travam a agricultura.

"Tenho uma visão menos paternalista que essa que está aí." Para ele, o Estado tem de dar condições' para as pessoas empreenderem, numa crítica indireta ao assistencialismo do Bolsa-Família.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio cita Alckmin em programa por apoio de paulistas na eleição

Pedro Venceslau

Provável candidato à Presidência em 2014, o senador mineiro Aécio Neves dominou sozinho ontem o programa nacional do PSDB na TV. Na condição de presidente nacional do partido, ele gastou a maior parte do tempo criticando o governo federal, mas aproveitou para fazer um gesto de aproximação com o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), o único que foi citado nominalmente. "São Paulo tem um programa extraordinário do PSDB, que é conduzido pelo Alckmin. São as ETECs (Escolas Técnicas Estaduais)".

Em seguida, o programa mostrou o depoimento de um aluno. O principal desafio de Aécio para se viabilizar em 2014 é construir uma base sólida em São Paulo. A relação dele com o governador é cordial no trato pessoal, mas politicamente fria desde 2006. Os tucanos paulistas reclamam que naquele ano, quando Alckmin disputou o Palácio do Planalto, Aécio não se engajou na campanha.

Desafeto do mineiro, o ex-governador José Serra, que pleiteia no PSDB a vaga de candidato presidencial, foi excluído do programa partidário.

O senador mineiro também escolheu São Paulo como pano de fundo para abordar as manifestações de junho.

Sentado em uma escada e cercado de jovens, Aécio bateu "um papo reto" e disse que o alvo das ruas não foi um partido ou governante. "Foram todos que fazem política, e isso me inclui", afirmou o tucano.

Inflação. O tema inflação voltou a servir de mote para críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff. Uma feirante de Campina Grande, na Paraíba, apareceu reclamando do preço dos alimentos e dizendo que seu lucro foi reduzido. Seguindo o formato do site tucano "Conversa com os brasileiros", senador fez grande parte de suas falas dentro de um ônibus em movimento.

"Porteira". A "caravana" passou também pelo interior do Ceará e Mato Grosso antes de chegar à capital paulista. Usando personagens como gancho, o tucano criticou a falta de investimentos em infraestrutura, reclamou das obras federais paradas e atacou o tamanho da máquina estatal. "Da porteira para dentro não existe País no mundo mais produtivo que o Brasil. O problema começa da porteira para fora."

Marqueteiro do PT, João Santana adotou na campanha de Fernando Haddad à prefeitura paulistana em 2012 um slogan padecido - de que a vida das pessoas mudou "da porta de casa para dentro" nos governos do PT, mas precisaria mudar da porta para fora.

Sem citar diretamente o Bolsa Família, o senador disse, ainda, que é preciso "dar condições" para as pessoas empreenderem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sobre votos, embargos e uma frustração suprema - Roberto Freire

Apesar do contínuo processo de degradação das instituições republicanas desde que o PT assumiu o governo, com falcatruas que desmoralizaram o Poder Executivo e o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) parecia imune à descrença generalizada da população. O desfecho do julgamento do mensalão, maior escândalo de corrupção da história da República, com a condenação dos próceres petistas e o desnudamento de uma quadrilha que se emaranhou nas entranhas do Estado para se perpetuar no poder, serviu de alento aos cidadãos.

O Judiciário se mostrava incólume à decomposição moral de uma era e sinalizava o fim da impunidade. Entretanto, para desengano daqueles que esperavam a prisão imediata dos mensaleiros, a Suprema Corte decidiu acolher os chamados embargos infringentes apresentados por 12 dos 25 réus condenados. O voto decisivo proferido pelo ministro Celso de Mello, o decano do STF, em favor dos recursos, levará a uma nova análise do tribunal sobre os crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro especificamente para esses condenados. Os dois novos ministros do STF, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, indicados por Dilma Rousseff e que sequer haviam participado do julgamento, foram determinantes para o resultado que beneficiou os malfeitores.

Ao fraquejar sobre os embargos, o STF vai na contramão de um parâmetro moral estabelecido pela própria Corte: a preocupação fundamental com a afirmação das instituições. O equívoco de Celso de Mello e dos outros cinco ministros que acolheram os recursos também fica caracterizado tecnicamente, pois foi desconsiderada a Lei 8.038, de 1990, que não prevê embargos infringentes nas ações penais originárias em tribunais superiores. Tanto é assim que esses recursos já não existem, por exemplo, no Superior Tribunal de Justiça.

A maioria do STF se apegou ao Artigo 333 do Regimento Interno do tribunal, segundo o qual, no caso de haver quatro votos divergentes, o condenado tem direito ao reexame de seu caso pelo plenário. Mas não se levou em consideração que esse artigo não tem mais força de lei desde a Constituição de 1988. Curiosamente, a própria Corte já havia revogado outro artigo do regimento, o 331, que previa embargos infringentes para Ações Diretas de Inconstitucionalidade, já que a lei posterior acabara por disciplinar a questão sem prever os embargos. Era exatamente o que deveria ter sido feito com o Artigo 333: declará-lo sem efeito, já que regimento interno de tribunal não se sobrepõe às leis do país.

É evidente que o prolongamento indefinido do julgamento abala a credibilidade do STF e reforça no imaginário popular o velho senso comum de que, no Brasil, quem pode pagar bons advogados não vai para a cadeia. Embora a lentidão dos processos judiciais seja, de fato, um dos grandes problemas que concorrem para a impunidade, não podemos deixar que a desesperança nos imobilize.

Não haverá um "novo julgamento" do mensalão, como os áulicos do petismo apregoam. A prisão ainda é o destino certo de todos os mensaleiros, mesmo que alguns deles eventualmente cumpram penas menores ou se livrem do regime fechado. O fato inescapável é que os criminosos que tomaram o Estado de assalto e formaram uma quadrilha para praticar seus delitos estão condenados e serão punidos. Apesar da enorme frustração, não é hora de esmorecer. A luta continua.

Roberto Freire, deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Mimetismos - Marina Silva

Os ruralistas, que representam um setor atrasado do agronegócio, tomam o controle de mais um espaço legislativo: a Comissão Especial da PEC 215, que transfere ao Congresso a demarcação de terras indígenas. Mais poder para quem já dirige as comissões de Agricultura, Desenvolvimento Urbano, Fiscalização Financeira, Integração Regional e Amazônia, além de ter presença e força nas outras. Vai, assim, o grupo mais ativo do Congresso fincando estacas em cada espaço e moldando a legislação aos seus interesses.

Na luta contra a ditadura, o Brasil projetou um futuro com justiça social que superasse a era Casa-Grande e Senzala. A Constituição de 1988 firmou princípios avançados: direito ao ambiente saudável, função social da propriedade, diversidade étnica e cultural. Estas seriam bases de novas políticas públicas numa nova relação entre povo e Estado.

Acuadas com a democracia nascente e a mudança da sociedade, as oligarquias encastelaram-se na política num movimento de obstrução: impediam ou atrasavam a regulamentação que levaria à legislação infraconstitucional as conquistas da lei maior.

Superando essa resistência, nasceram novas leis ambientais, unidades de conservação, quilombos, terras indígenas, assentamentos agrícolas e diversos modos de reforma agrária. Esse avanço lento, porém contínuo, foi possível pela mobilização popular e a contribuição de um partido político moldado na luta social, o PT.

Um velho ditado manda unir-se ao inimigo que não se pode vencer. A estratégia das oligarquias mudou, para eleger uma bancada cada vez maior e assumir o controle das comissões de temas sensíveis aos seus negócios, planejando não só deter o avanço socioambiental em novas leis, mas um retrocesso no que havia sido criado. Cresceram sem evoluir: combatem direitos que também os protegem. Sem biodiversidade não há produtividade, sem paz no campo e na floresta não há segurança para os investimentos.

Esse é um desejo de regressão de quem não aceita limites, num mundo em crise que requer formas sustentáveis de desenvolvimento. Seria derrotado, mesmo com sua força econômica, mas achou apoio na fraqueza política que nasceu onde menos se esperava.

Sim, o PT mudou. Antes reivindicava poder para o povo e suas causas, agora vê nelas obstáculo para seu próprio poder. Dependente do combustível do poder, adaptou-se ao que antes combatia. Nesse obscuro tempo de pragmatismo, a Constituição é derrubada com uma "forcinha" de alguns dos que ajudaram a edificá-la.

O camaleão mimetiza-se no ambiente, para sobreviver. Acordos furta-cores também dão sobrevida a incertas pretensões políticas. Mas, com o uso, o disfarce vira pele, e é visto por 400 milhões de olhos.

Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

Questão de tempo - Merval Pereira

Parece não haver dúvidas de que até o fim do ano é possível que parte considerável dos condenados no processo do mensalão esteja atrás das grades. Mas não é provável, pois há meios de atrasar o acórdão, por exemplo.

Outro ponto sensível é saber quais deles estarão na primeira leva. A questão vai ser decidida, provavelmente em votação no plenário, após a publicação do acórdão com os embargos de declaração.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, havia negado o pedido de prisão imediata feito pelo Ministério Público argumentando que não se pode "presumir de antemão" que as defesas dos réus utilizarão uma série de embargos para retardar a execução das penas. Passada a fase dos embargos de declaração, e aceitos os infringentes, provavelmente advogados apresentarão os "embargos dos embargos" que devem ser rejeitados liminarmente por serem "claramente protelatórios".

Barbosa parece disposto a pedir a prisão dos condenados que não têm mais direito a embargos, declarando para esses o trânsito em julgado do processo. Ele chegou a anunciar que poria em discussão "um tema importante" no fim da sessão de quarta-feira, mas depois decidiu apresentá-lo "no momento oportuno" Para pedir a prisão, não é preciso nem mesmo esperar a apresentação dos embargos infringentes. Mas o STF vai se defrontar com outra daquelas situações polêmicas, em que estará em jogo a liberdade do principal réu, o ex-ministro José Dirceu.

Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello defendem que também os condenados por outros crimes que não têm direito mais a recursos sejam presos, cumprindo aparte da pena que é definitiva. Por exemplo: tirando o crime de formação de quadrilha, pelo qual recebeu a pena de dois anos e 11 meses e iria a novo julgamento, Dirceu ficaria ainda com pena de sete anos e 11 meses por corrupção ativa, para a qual não há mais recursos possíveis. O mesmo aconteceria com outros membros do núcleo político, como Delúbio Soares e José Genoino, que terão novo julgamento por quadrilha, e João Paulo Cunha, que terá a condenação por lavagem de dinheiro reavaliada.

A decisão, no entanto, não é nada fácil, pois do lado oposto há um consenso de que não é possível fazer cumprir uma pena que não se sabe qual será. No caso de o novo plenário do STF confirmar a condenação por formação de quadrilha, Dirceu e outros sairiam do regime semiaberto para cumprir penas no regime fechado, o que seria "uma aberração jurídica" na definição de um advogado.

Luiz Fux e Barbosa estariam inclinados a apoiar a tese mais radical, mas não se sabe a posição dos demais, especialmente a de Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, com exceção de Lewandowski e Dias Toffolli, cujas posições são conhecidas. Barroso, por exemplo, em seu voto sobre embargos infringentes, disse que "as condenações continuariam mantidas em qualquer cenário, e, em relação a parte significativa das penas, a própria execução poderia ter início" Não se sabe, porém, se ele se referiu aos condenados que não têm direito a outros embargos ou também àqueles que terão só parte de suas condenações revisitadas pelo novo plenário do STF.

Ele também se comprometeu a que "os embargos infringentes eventualmente opostos sejam julgados com a máxima celeridade possível, respeitadas as exigências básicas do devido processo legal" como maneira de compensar "a compreensível frustração social pelo adiamento da conclusão definitiva, quanto a essa parcela do julgamento" Esse momento chegará o mais breve possível se depender do novo relator, Fux. Ele anunciou ontem que, assim que as defesas e o MP se pronunciarem sobre o acórdão, porá o processo em votação. Essa parte do novo processo poderá ser feita até o fim do ano, pois há um prazo máximo de dois meses para a publicação do acórdão.

Vamos ver de novo a disputa entre o relator e juízes que atuam para protelar a decisão final do STF.

Os pontos-chave

1. Joaquim Barbosa parece disposto a pedir a prisão dos condenados que não têm mais direito a embargos
2. Gilmar e Marco Aurélio estão defendendo que também os condenados por outros crimes que não têm direito mais a recursos sejam presos, cumprindo a parte da pena que é definitiva
3. Novo relator, Fux anunciou que, assim que as defesas e o MP se pronunciarem sobre o acórdão, colocará o processo em votação

Fonte: O Globo

Acima de qualquer suspeita - Eliane Cantanhêde

Apesar de 12 réus terem direito a esse recurso, os embargos infringentes só têm um alvo na prática: os petistas José Dirceu, João Paulo Cunha e Delúbio Soares.

Não há santo ou embargo capaz de tirar do regime fechado o publicitário Marcos Valério, condenado a mais de 40 anos, nem seus sócios Ramon Hollerbach (mais de 29) e Cristiano Paz (quase 26).

Também não há santo ou embargo capaz de tirar da cadeia a dona e o ex-vice-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello e José Roberto Salgado, que pegaram mais de 16 anos.

No caso desses réus, se acatado o mérito, os embargos podem reduzir dois anos e pouco daqui e dali, mas eles ficarão atrás das grades.

Já no caso dos políticos, a diferença de até três anos trocaria o regime fechado pelo semiaberto. Por isso, há uma enorme ansiedade.

A escolha do ministro Luiz Fux para a relatoria, por sorteio, foi um banho de água fria no ânimo dos réus e de seus advogados, já que Fux é uma figura controvertida, envolvida num disse que disse com José Dirceu e, principalmente, uma espécie de braço direito do presidente Joaquim Barbosa. Logo, tão duro na condenação e na definição de penas quanto ele.

Mais do que o relator, porém, quem chama a atenção são os novos ministros, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, pelo fato óbvio de que todos os demais já se manifestaram oficialmente no julgamento sobre formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, menos eles.

Se todos os que participaram da fase inicial mantiverem o voto e os dois novatos absolverem Dirceu por formação de quadrilha, por exemplo, tudo muda de figura. E estará configurado um golpe de mestre de Dilma, ou melhor, do governo e do PT.

Teori e Barroso não são listados como petistas, como Lewandowski e Toffoli, e foram apoiados por tucanos e independentes. Perfil ideal para legitimar uma decisão final favorável a Dirceu, Delúbio e Cunha. Quem haveria, ou haverá, de questioná-los?

Fonte: Folha de S. Paulo

Cerco ao Nordeste - Denise Rothenburg

A saída do PSB do governo Dilma Rousseff e o consequente aumento da visibilidade sobre a pré-candidatura do governador Eduardo Campos à Presidência da República antecipam movimentos dos demais concorrentes no Nordeste, região que deu uma vitória folgada à petista na eleição de 2010.

Hoje, por exemplo, o presidente do PSDB, Aécio Neves, estará em Salvador. Amanhã, promove um encontro do partido em Maceió, para montar o esboço de um programa de governo para a região. Duas cidades, dois movimentos distintos.

No caso de Salvador, a visita vai além de um simples acarajé com o prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto. Trata-se de uma demonstração de apreço e prestígio a um antigo aliado tucano, o Democratas. O DEM até hoje não conheceu um candidato próprio a presidente da Republica. Seu antecessor, o PFL fez uma incursão nesse campo apenas em 1989. (Naquele ano, depois de fracassada a aliança com o então candidato tucano, Mário Covas, com a saída de Roberto Magalhães da chapa, o PFL lançou Aureliano Chaves).

Aécio Neves não quer ver o aliado lhe escorrer pelos dedos. Sabe que existe um movimento do deputado Ronaldo Caiado, de Goiás, no sentido de levar apoios do partido ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Embora Aécio e Eduardo tenham uma relação cordial e respeitosa, ali vale o ditado "amigos, amigos, eleições à parte". Aécio não ficará quieto vendo o DEM seguir outros caminhos, que não o da aliança com o PSDB. Portanto, essa reaproximação no sentido de minar os gestos de Caiado é o pano de fundo do encontro de hoje entre o senador e ACM Neto. Vale lembrar que, em 2010, ACM Neto queria Aécio como o nome da aliança para concorrer contra a presidente Dilma Rousseff, mas os tucanos escolheram José Serra.

Mais tarde, em Maceió...
Em solo alagoano, Aécio tem outros objetivos. Ali, na cidade administrada por Rui Palmeira, do PSDB, os tucanos querem demonstrar que, assim como Dilma e Eduardo Campos, também têm seus planos para a região, que vão além do Bolsa Família do governo federal. Para isso, o partido começou a mobilizar seus prefeitos, vereadores e também deputados estaduais. "Em 20 anos, reduzimos em 80% os índices de mortalidade infantil, mas não atingimos a média nacional. Se não tivermos uma política diferenciada para o Nordeste, não sairemos do lugar", comenta Rui Palmeira. A ordem deste fim de semana, portanto, será fugir da agenda negativa que tomou conta do noticiário, com a segunda rodada do julgamento do mensalão, e tentar colar no PSDB uma imagem de preocupação com a vida das pessoas, coisa que Dilma também tenta fazer em seu governo.

Enquanto isso, no Palácio do Planalto...
A presidente Dilma e assessores traçaram um plano no sentido de tentar mantê-la anos-luz de distância do julgamento do mensalão. Ontem pela manhã, menos de 24 horas depois da decisão do Supremo de acolher os embargos infringentes e que dá mais uma chance de defesa aos réus, Dilma inaugurava um trecho de rodovia em Mato Grosso. Mostrava assim que o país funciona, sem qualquer interrupção e a vida segue o fluxo normalmente. No governo, há um consenso de que quanto mais longe ela ficar desse processo, melhor. Aliás, vale lembrar que Dilma só foi escolhida por Lula porque não havia nada que pudesse vincular a imagem dela ao esquema. Tanto é que as declarações dela sobre o tema sempre ficaram no óbvio, a Justiça é soberana, e por aí vai.

Nos próximos dias, a presidente vai se dedicar à escolha dos cargos vagos pelo PSB. A maior pressão vem do PMDB e do PT do Nordeste. Afinal, assim como Aécio planeja colocar um pé na região, os petistas não querem perder a preponderância em termos de votos para presidente da República. No rol de prováveis nomes para o Ministério da Integração Nacional pelo PT, por exemplo, aparecem Humberto Costa, de Pernambuco, e Walter Pinheiro, da Bahia. Até ontem no início da tarde, a certeza na cabeça da presidente era a de que o escolhido não poderá concorrer nas eleições do ano que vem. Só aí eliminará meia dúzia de interessados. Mas essa é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

Coragem e muito mais sinceridade - Maria Cristina Fernandes

O discurso do representante do Brasil na abertura da Assembleia Geral da ONU, prerrogativa nacional desde 1966, é a digital brasileira na ordem mundial.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva valeu-se da tradição para receitar o Bolsa Família à fome do mundo. No ano em que o Lehman Brothers deu início à quebradeira planetária, montou o discurso, mantido em sua carreira de palestrante internacional, de que a porta de saída para a crise está na política.

No seu primeiro pronunciamento naquele plenário, a presidente Dilma Rousseff reivindicou a primazia de primeira mulher a abrir a assembleia e evocou duas palavras femininas, coragem e sinceridade, para retomar o tema da regulação das finanças mundiais.

Discurso de Dilma na ONU tem ambição pedregosa

Na próxima semana a presidente volta à ONU para missão igualmente espinhosa. Já anunciou que tratará da espionagem americana. Houve quem advogasse que o discurso, feito nos aposentos do anfitrião, seria uma resposta mais efetiva à bisbilhotagem americana do que o cancelamento da visita de Estado.

Dar o recado num organismo multilateral e aguardar as providências da Casa Branca é uma saída hábil, mas pedregosa.

Dilma cobrou regulação das finanças mundiais num momento em que o Brasil, com o sistema bancário normatizado desde os anos 1990, enfrentava a desindexação da poupança e a redução da Selic. A curva dos juros desde então mostrou o quanto é difícil fazer a lição de casa num bote salva-vidas que navega sem instrumentos.

O tema da espionagem é uma rota ainda mais desconhecida para o Brasil. O governo que deve cobrar controles democráticos mundiais para a circulação de informações no planeta engatinha na gestão dos seus.

Desde o século passado, com a difusão da internet, sabe-se que a guerra do futuro não tem fronteiras e custa a identificar o inimigo. Mas foi apenas em 2010 que o Brasil criou o Centro de Defesa Cibernética. Sob o guarda-chuva do Exército, o centro tem 50 civis e militares dedicados a desenvolver tecnologia capaz de proteger suas redes militares, governamentais e privadas. Ainda não conseguiu convencer nem os governantes brasileiros a usar emails criptografados. Todo código pode ser quebrado. Tudo depende de quanto se possa investir.

Coordenador de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco e ex-assessor do Ministério da Defesa, Gunther Rudzit credita à geração que combateu a ditadura a resistência a políticas de inteligência.

Foi atrás da execução orçamentária do centro de defesa cibernética e descobriu que, dos R$ 90 milhões inicialmente previstos para este ano, apenas R$ 54 milhões foram gastos. Nos Estados Unidos, nas contas de Rudzit, a comunidade de informações reúne 107 mil pessoas e consome por ano R$ 52 bilhoes.

Esse monte de gente e dinheiro não conseguiu impedir que dois boeings fossem arremessados contra as duas torres mais altas do país. E mais gente e dinheiro foram investidos para terminar de romper de uma vez por todas as fronteiras sempre fluidas da informação.

Graças aos refugiados da guerra cibernética, sabe-se que a Agência Nacional de Segurança (NSA) entra sem cerimônia nos dados armazenados pelas empresas de comunicação instaladas no país por onde passam 80% do fluxo de internet do mundo.

A missão espinhosa de Dilma na ONU é parecer convincente na cobrança de que a governança mundial algum dia abra a caixa preta de empresas de comunicação eletrônica e imponha limites ao acesso de agências oficiais de espionagem.

Dez anos atrás a ONU abrigou a primeira cúpula mundial para discutir a sociedade de informações que esbarra até hoje na criação de uma governança global da internet.

As dificuldades de a presidente obter qualquer êxito em congregar interesses com seu discurso não autoriza a interpretação de que faz bravata para eleitor ver.

É óbvio que todo governante que age por mandato precisa ser chancelado em suas ações. Mas a aprovação é decorrência.

No mesmo dia em que se anunciava o cancelamento da visita, o empresário de maior interlocução no governo, Jorge Gerdau Johannpeter dizia que o principal motivo do fracasso no leilão da BR 262 foi o risco político. A imagem do Brasil frente a investidores passa por um momento sensível demais para que uma decisão como o cancelamento da única visita de Estado do ano aos Estados Unidos pudesse ter sido tomada com norte eleitoral.

A questão não é convencer os brasileiros que a Petrobras não pode ser submetida à mesma espionagem que americanos compradores de panela de pressão. Com isso todo mundo concorda.

Mais difícil é convencer uma comunidade internacional que, em maior ou menor grau, se vale de espionagem, que o aumento da segurança nas redes de informação não deve diminuir a dos cidadãos.

O novo ordenamento jurídico que está em curso na comunidade europeia ou o marco civil da internet brasileira serão limitados por suas fronteiras. A internet permitiu a jovens do mundo inteiro construir ágoras virtuais e varrer o mundo com protestos contra a ordem. As empresas que abrigam essas redes expandem seus negócios curvando-se a doutrinas de segurança nacional. Mercados mais regulados vão depender de Estados dispostos a rever suas doutrinas. Vai exigir coragem e muito mais sinceridade.

Veio de um argentino a melhor notícia para a disputa presidencial de 2014, a declaração do papa Francisco de que a igreja é obcecada com gays, aborto e concepção. É um prenúncio muito diverso das trevas que encerraram o segundo turno de 2010 quando Ratzinger fez uma declaração condenatória de candidatos que defendessem a descriminalização do aborto. Candidatos podem até continuar com suas obsessões, mas talvez duvidem da conveniência de comungá-las com o eleitor.

Fonte: Valor Econômico

Estamos preparados para o pré-sal e o gás de xisto? - Washington Novaes

Anuncia-se que em novembro vão a leilão áreas brasileiras onde se pretende explorar o gás de xisto, da mesma forma que estão sendo leiloadas áreas do pré-sal para exploração de petróleo no mar. Deveríamos ser prudentes nas duas direções. No pré-sal, não se conhecem suficientemente possíveis consequências de exploração em áreas profundas. No caso do xisto, em vários países já há proibições de exploração ou restrições, por causa das consequências, na sua volta à superfície, da água e de insumos químicos injetados no solo para ""fraturar" as camadas de rocha onde se encontra o gás a ser liberado. Mas as razões financeiras, em ambos os casos, são muito fortes e estão prevalecendo em vários lugares, principalmente nos Esta dos Unido.

No Brasil, onde a tecnologia para o fraturamento de rochas ainda vai começar a ser utilizada, há um questionamento forte da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências, que, em carta à presidente da República (5/8), manifestaram sua preocupação com esse leilão para campos de gás em bacias sedimentares. Nestas, diz a carta, agências dos EUA divulgaram que o Brasil teria reservas de 7,35 trilhões de metros cúbicos em bacias no Paraná, no Parnaíba, no Solimões, no Amazonas, no Recôncavo Baiano e no São Francisco. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) estima que as reservas podem ser o dobro disso. Mas, segundo a SBPC e a ANP, falta "conhecimento das características petrográficas, estruturais e geomecânicas" consideradas nesses cálculos, que poderão influir "decisivamente na economicidade de sua exploração".

E ainda seria preciso considerar os altos volumes de água no processo de fratura de rochas para liberar gás, "que retomam à superfície poluídos por hidrocarbonetos e por outros compostos", além de metais presentes nas rochas e "dos próprios aditivos químicos utilizados, que exigem caríssimas técnicas de purificação e de descarte dos resíduos finais". A água utilizada precisaria ser confrontada "com outros usos considerados preferenciais", como o abastecimento humano. E lembrar ainda que parte das reservas está "logo abaixo do Aquífero Guarani"; a exploração deveria "ser avaliada com muita cautela, já que há um potencial risco de contaminação das águas deste aquífero".

Diante disso, não deveria haver licitações imediatas, "excluindo a comunidade científica e os próprios órgãos reguladores do país da possibilidade de acesso e discussão das informações", que "poderão ser obtidas por meio de estudos realizados diretamente pelas universidades e institutos de pesquisa". Além do maior conhecimento científico das jazidas, os estudos poderão mostrar "consequências ambientais dessa atividade, que poderão superar amplamente seus eventuais ganhos sociais". E uma argumentação forte, que, em reunião da SBPC no Recife (22 a 27/7), levou a um pedido de que seja sustada a licitação de novembro.

Em muitos outros lugares a polêmica está acesa - como comenta o professor Luiz Fernando Scheibe, da USP, doutor em Mineração e Petrologia (12/9). Como na Grã-Bretanha, onde se argumenta que a tecnologia de fratura, entre muitos outros problemas, pode contribuir até para terremotos. A liberação de metano no processo também pode ser altamente problemática, já que tem efeitos danosos equivalentes a mais de 20 vezes os do dióxido de carbono, embora permaneça menos tempo na atmosfera. E com isso anularia as vantagens do gás de xisto para substituir o uso de carvão mineral. O próprio Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) tem argumentado que o gás de xisto pode, na verdade, aumentar as emissões de poluentes que contribuem para mudanças do clima.

Na França os protestos têm , sido muitos (Le Monde, 16/7) e levado o país a restrições fortes, assim como na Bulgária. Alguns Estados norte-americanos proibiram a tecnologia em seus territórios, mas o governo dos EUA a tem aprovado, principalmente porque o gás de xisto não só é mais barato que o carvão, como reduziu substancialmente as importações de combustíveis fósseis do país, até lhe permitindo exportar carvão excedente. E a Agência Internacional de Energia está prevendo que até 2035 haverá exploração do gás de xisto em mais de 1 milhão de pontos no mundo. Nos EUA, este ano, a produção de gás de xisto estará em cerca de 250 bilhões de metros cúbicos - facilitada pela decisão governamental de liberar a Agência de Proteção Ambiental de examinar possíveis riscos no processo e pela existência de extensa rede de gasodutos (o Brasil só os tem na região leste; gás consumido aqui vem da Bolívia).

Também a China seria potencial usuária do gás, pois 70% de sua energia vem de 3 bilhões de toneladas anuais de carvão (quase 50% do consumo no mundo).Embora tenha 30 trilhões de metros cúbicos de gás de xisto - mais que os EUA -, o problema é que as jazidas se situam em região de montanhas, muito distante dos centros de consumo - o que implicaria um aumento de 50% no custo para o usuário, comparado com o carvão. Por isso mesmo, a China deverá aumentar o consumo do carvão nas próximas décadas (Michael Brooks na New Scientist, 10/8).

E assim vamos, em mais uma questão que sintetiza o dilema algumas vezes já comentado neste espaço: lógica financeira versus lógica "ambiental", da sobrevivência. Com governos, empresas, pessoas diante da opção de renunciar a certas tecnologias e ao uso de certos bens -por causa dos problemas de poluição, clima, consumo insustentável de recursos, etc. -, ou usá-los por causa das vantagens financeiras imediatas, que podem ser muito fortes.

Cada vez mais, será esse o centro das discussões mais fortes em toda parte, inclusive no Brasil - com repercussões amplas nos campos político e social. Preparemo-nos.

*Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dois mundos que não falam entre si - José Roberto de Toledo

No debate político, ideia diferente é descartada.

As redes sociais canalizam as principais polêmicas sobre temas políticos, mas há pouco debate. Prevalece a segregação de ideias. Quem pensa de um jeito tende a citar só quem pensa igual e ignorar a divergência.

Só perfis da chamada velha mídia nas redes conseguem atingir os dois guetos de pensamento, e, mesmo assim, de modo rarefeito. Essa percepção pode ser agora medida e visualizada com a ajuda da tecnologia e do trabalho de pesquisadores como Fabio Malini. O Fla-Flu ideológico é visível nos gráficos produzidos pelo Labic.net (Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo) a pedido do Estadão Dados. Malini coordena a elaboração dos gráficos.

Neles, cada ponto representa um usuário do Twitter, e, cada linha, uma citação ou conversa entre eles. Quanto maior o ponto, mais conexões ele estabeleceu sobre o tema pesquisado: foi muito citado, reproduzido ou dialogou com mais usuários.

A colocação e a cor de cada ponto no gráfico depende também de suas relações. O algoritmo responsável por colorir e plotar os pontos distribui as posições de acordo com a intensidade de suas conexões.

Se o ponto Atem várias ligações com o ponto B, que, por sua vez, se conecta ao ponto C, que também está ligado ao ponto A, eles formam uma rede próxima. Se o mesmo ocorre entre os pontos X, Y e Z, mas nenhum deles se conecta a A, nem a B nem a C, eles formarão uma segunda rede, distante da primeira rede.

É o que se vê no gráfico que ilustra este texto. Nos polos desse mapa do Twitter há duas redes independentes de usuários, uma pintada de verde e outra, de azul. Todos eles usaram a expressão "Celso de Mello" ao longo dos últimos dias em suas publicações. Do mesmo modo que os azuis se citam e se reproduzem com frequência, não citam nem reproduzem os verdes. A recíproca é verdadeira.

O fato de dois grupos de pessoas conviverem numa mesma rede, mas se conectarem de maneira tão segregada não é aleatório. Há um motivo: os azuis tendem a compartilhar um mesmo ponto de vista que, em geral, é diferente do dos verdes, e vice-versa. Os azuis, em geral, eram contra o novo julgamento do mensalão. E os verdes, salvo exceções, defendiam o oposto.

No meio, pintados de vermelho, estão pontos maiores que se conectam tanto aos azuis quanto aos verdes. São de contas administradas por jornais, revistas e redes de TV. Suas reportagens servem de munição para ambos os lados.

Fonte: O Estado de S. Paulo