domingo, 20 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Sérgio Henriques: esquerda constitucional

Essa surpreendente capacidade de fagocitose se equilibra - de modo eleitoralmente rendoso, mas substantivamente falso - com a seleção "sábia" do inimigo a ser abatido, seja de que maneira for. Um cenário no qual o "neoliberalismo tucano" faz as vezes de cômodo alvo retórico contra o qual se movimenta o sistema de poder do partido hegemônico, com seu séquito de empreiteiras, bancos e o grande negócio agrário, para não falar de todo o leque mais expressivo da velha e atrasada direita política nacional.

Tanto quanto a vista descortina, não seria mesmo possível ir além de variados tipos de compromisso entre as forças de mercado e as razões civilizadoras e emancipadoras da democracia política. Não se poderia cobrar da esquerda hegemônica e muito menos dos setores da esquerda democrática que suprimissem o mercado ou o sistema de empresas, num surto estadocêntrico que, no passado, se revelou insuficiente e até nocivo à ideia de uma sociedade tendencialmente autorregulada.

Poder-se-ia, no entanto, esperar, depois de um quarto de século de vida constitucional, a presença iluminadora de uma esquerda de governo que compreendesse plenamente a sociedade aberta, o Estado Democrático de Direito e a defesa esclarecida da supremacia da esfera pública nesse tipo de Estado. Seria, na verdade, o terceiro passo da construção proposta por Cerroni, um passo que, entre nós, apesar das aparências, ainda não foi dado.

Luiz Sérgio Henriques, “A esquerda que falta”. O Estado de S. Paulo, 13 de outubro de 2013.

O desafio de seduzir 55 milhões de eleitores

Quem quiser subir a rampa do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2015 terá que conquistar votos de um público considerado independente e sofisticado pelos analistas. Essa parcela da população aguardará o desenrolar da corrida presidencial para escolher o candidato que apresente as melhores propostas

Paulo de Tarso Lyra

Um batalhão de 55 milhões de eleitores tira o sono dos candidatos à Presidência da República em 2014 e dos respectivos marqueteiros e estrategistas das campanhas. Esse contingente, maior que as populações da Espanha, do Canadá e da Argentina e quase do tamanho da Itália, corresponde aos 40% de eleitores brasileiros que não estão cristalizados em torno de um partido político ou de um candidato apoiado por grupos específicos. Eles migram de um nome para o outro, ou atrasam a definição sobre quem apoiarão, em busca do candidato que atenderá os anseios e as expectativas particulares.

Os políticos estão aprendendo que classificar esse grupo meramente como “indeciso” é um risco. Pelo contrário, essa parcela da população é considerada mais madura do que os eleitores cativos. “Eles são muito mais exigentes, esperam para ouvir as propostas de cada um e analisam com cuidado tudo o que ouvem. É preciso mais sofisticação para convencê-los”, acredita o secretário-geral do PT, deputado federal Paulo Teixeira (SP).

Alguns fatores concretos podem ajudar a sedimentar o apoio do eleitorado, como, por exemplo, a indicação do candidato por um padrinho famoso. Foi o caso de Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Dilma Rousseff. A composição dos palanques regionais também pesa (veja página 3), ou até mesmo a sugestão de última hora feita por um amigo. Em 2010, por exemplo, 8% dos eleitores confirmaram que escolheram o candidato no momento em que estavam na fila de votação.

A flexibilidade é a marca do voto desse eleitorado. Especialistas em eleições acreditam que esse público estava com Lula em 2006, mas o abandonou após o escândalo dos aloprados (quando petistas foram presos em setembro daquele ano ao comprar um suposto dossiê contra o tucano José Serra), forçando a realização de um segundo turno. Esses mesmo eleitores voltaram a apoiar Lula, mas o petista teve que enfrentar mais um mês de campanha contra o tucano Geraldo Alckmin. Em 2008, os independentes afastaram-se do técnico Márcio Lacerda (PSB) — que concorria à prefeitura de Belo Horizonte — e chegaram a flertar com o principal adversário, Leonardo Quintão (PMDB). Não aprovaram as propostas do peemedebista e voltaram para Lacerda.

Os analistas estão convictos de que esses eleitores independentes definirão o rumo da corrida presidencial de 2014. Em linhas gerais, eles representam cerca de 40% do eleitorado nacional, mais do que tem o PT, que geralmente soma cerca de 30% dos votos das disputas em diversos níveis, e o PSDB — que costuma largar com margem inicial de 25%. Os 5% restantes costumam se dividir entre votos brancos e nulos.

Programas sociais
Embora esses percentuais e estejam espalhados pelos diversos níveis sociais, não é exagero dizer que a votação do PT se concentra nos centros urbanos e nas periferias e também se entranhou nos grotões brasileiros, sobretudo após a multiplicação de programas sociais, como Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o Luz para Todos e o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), destinado aos pequenos produtores rurais. Esses grupos tendem a votar no governo caso não haja grandes mudanças de rumo administrativo, em especial nas políticas de assistência.

O PSDB divide um pouco desse eleitorado com o PT — com uma presença menos forte no interior do país —, mas seus simpatizantes defendem um estado mais liberal, com um perfil de gestão descentralizado e com impostos menores.

Já o grupo considerado independente passa, quase que em sua maioria, pelas pessoas que têm mais informação para escolher os candidatos. Também encontram-se nessa parcela de eleitores, segundo a opinião de especialistas ouvidos pelo Correio, os mais jovens, ainda não influenciados pela polarização entre tucanos e petistas. Esse público ganhou peso ainda maior após as manifestações de junho e terá atenção especial dos marqueteiros durante a fase de campanha em 2014. Os estudantes foram às ruas mobilizados pelas redes sociais — aproximadamente 80% dos 10 milhões de jovens que compareceram a manifestações atenderam a apelos via internet.

Ao menos na teoria, a ex-senadora Marina Silva sai na frente dos rivais em relação a esses eleitores, pois passou a imagem de ter uma forma diferente de fazer política, apesar de ter se filiado ao PSB após a Justiça Eleitoral negar o registro da Rede, no início do mês. “Mas a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves tem estrutura e capacidade de virar esse jogo, ainda favorável à ex-senadora”, disse o diretor de um instituto de pesquisas que preferiu não se identificar.

Para o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, Dilma ainda é pouco influente em relação a esses eleitores independentes. “Quando enfrenta candidatos menos competitivos ou mais desconhecidos, como Eduardo Campos e Aécio Neves, ela tem 42% das intenções de voto. Diante de nomes com maior recall, como José Serra e Marina Silva, esse percentual cai para 37%”, lembra Queiroz.

Fonte: Correio Braziliense

A feira livre da compra de votos

Nada menos do que 46 prefeitos foram cassados este ano por oferecer vantagens a eleitores. Nesse comércio ilegal, dinheiro vivo, cesta básica, bebida, televisor e material de construção são usados como moeda de troca

Alessandra Mello e Alice Maciel

Prática típica dos primeiros anos da República brasileira, a compra de votos atravessa séculos e continua em vigor até hoje no país, apesar das leis e da maior fiscalização por parte das autoridades e da sociedade civil. De norte a sul do Brasil, votos são comprados com uma extensa lista de benesses, em que o dinheiro vivo e às vezes até cheque são a principal moeda utilizada. São usados também material de construção, cesta básica, gasolina, comida e bebida, passagem de ônibus, pneus, televisão e até mesmo redução de carga horária no serviço público. Levantamento feito pela reportagem com base nas cassações em segunda instância publicadas pelos tribunais regionais eleitorais (TREs) de todo o país mostra que de janeiro a outubro foram cassados 112 prefeitos eleitos. Desse total, 46 perderam os cargos por “captação ilícita de sufrágio”, nome dado à compra de voto.

Minas Gerais é, até agora, o estado recordista em cassações por denúncias de abuso de pode econômico e político, compra de votos e enquadramentos na Lei da Ficha Limpa. No estado, perderam o cargo 19 prefeitos eleitos no ano passado. Desse total, 16 ofereceram benefícios aos eleitores em troca do votos. Em cinco municípios, já foram realizadas novas eleições e outras três estão agendadas para dezembro. Em sete cidades mineiras, o segundo colocado assumiu. Outras quatro esperam decisão sobre quem vai assumir, ou seja, se haverá nova disputa ou o segundo colocado será empossado. Além disso, existem outros 36 processos que ainda estão pendentes na Corte do TRE ou na Justiça local. Atrás de Minas Gerais está São Paulo, com 16 perdas de mandato, cinco delas por compra de voto e outros crimes.

Corrupção
Para o juiz eleitoral Márlon Reis, coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e um dos autores do projeto popular de reforma política que vem sendo defendido pela organização e também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a compra de votos não é a causa da corrupção no Brasil, mas apenas uma das faces da mercantilização da política brasileira. “As pessoas votam em troca de alguma coisa: os políticos votam nos parlamentos em troca de emendas ou cargos, as lideranças políticas vendem apoio em troca de dinheiro. Isso está na matriz da nossa cultura política”, afirma.

Segundo o juiz eleitoral, isso só vai melhorar com uma reforma que fortaleça o sistema político partidário e amplie a participação popular. O coordenador do MCCE defende também o fim do financiamento privado para conter o “dinheiro fácil que circula nas campanhas”. A compra de votos foi transformada em crime sujeito à cassação e decretação de inelegibilidade por causa de uma lei de iniciativa popular que completou 16 anos de vigência em 2013, lembra Márlon Reis. Segundo ele, além de punir essa prática, a lei também tornou mais rigoroso o combate à corrupção eleitoral.

112
Prefeitos cassados entre janeiro e outubro deste ano. Desse total, 46 perderam o mandato por compra de votos

Fonte: Correio Braziliense

Pacote de costuras regionais

Na disputa pela Presidência, partidos buscam se fortalecer em estados que consideram estratégicos, seja pela alta concentração de eleitores, seja para manter antigos feudos

Paulo de Tarso Lyra

BRASÍLIA – Passado o prazo de filiações, os partidos que dão sustentação aos principais postulantes ao Palácio do Planalto em 2014 começam a definir quais são os palanques estratégicos nos estados. Os principais continuam sendo os da Região Sudeste, onde se concentra o maior número de eleitores. Mas nessa conta entram outras particularidades, como a manutenção de feudos locais ou a permanência nos governos que já comandam.

Os planos são ambiciosos, mas nem todos têm fôlego para resolver essas equações. O PSDB, por exemplo, encontra-se em situação confortável em São Paulo e em Minas Gerais, mas no Rio de Janeiro, não tem, por enquanto, sequer um candidato. "A disputa no Rio é uma das mais abertas. Quatro candidatos têm entre 20% e 12%", disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). Os tucanos ainda alimentam a esperança de lançar o técnico da seleção masculina de vôlei, Bernardinho, para o governo fluminense. Em São Paulo e em Minas Gerais, os tucanos sabem que precisam confirmar sua hegemonia, especialmente porque a eleição tende a ser um confronto direto com o PT.

O PSB, do governador pernambucano, Eduardo Campos, precisa de maior penetração no Sudeste e solidificar a presença no Nordeste. Em Pernambuco, é fundamental eleger o sucessor de Campos. No Ceará, o partido ainda precisa recompor a perda com o desembarque dos irmãos Gomes rumo ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS).

A situação se torna ainda mais dramática porque nos quatro principais colégios eleitorais brasileiros – Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia – o partido não tem candidatos definidos. E não sabe se terá nomes fortes para a disputa ou precisará se unir a outras legendas, correndo o risco de se ver obrigada a palanques duplos. "Qualquer especulação sobre palanques, neste momento, é palpite. Essas negociações acontecerão entre o carnaval e junho", disse o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira.

Apostas Já o PT quer permanecer nos governos de Rio Grande do Sul, Acre e Distrito Federal. O Paraná também se tornou importante, porque a candidata é a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e um resultado ruim poderia passar uma imagem negativa da gestão dela à frente da pasta. Os petistas também estão entusiasmados com a possibilidade de desbancar o PSDB do governo de São Paulo, Geraldo Alckmin. Quer adiar a desincompatibilização do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e lançou o programa Mais Médicos para impulsionar a candidatura de Dilma Rousseff e do próprio ministro em 2014.

O PMDB também tem suas preferências. Principal aliado do PT no plano nacional, o partido escolheu, como palanques estratégicos, Rio de Janeiro (único estado que governa), Ceará, Amazonas, Pará e Alagoas. A opção por esses estados é clara: quatro caciques do partido devem concorrer aos governos locais no ano que vem ou apoiar afilhados: Eunício Oliveira (CE), Eduardo Braga (AM), Helder Barbalho (filho de Jader Barbalho, no Pará) e Renan Calheiros (AL). Sem o apoio do PMDB nesses estados, fica impossível o grupo que apoia a presidente Dilma Rousseff sair vitorioso na convenção. "É a nossa disputa do momento. Sob a sucessão no estado, só conversarei com o governador Cid Gomes em 2014", disse Eunício.

Os palanques prioritários
Confira as unidades da Federação estratégicas para os prováveis protagonistas da corrida presidencial de 2014

Dilma Rousseff
São Paulo – O candidato petista será o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O PT quer desbancar uma hegemonia de 20 anos do PSDB no estado
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Rio de Janeiro –O petista Lindbergh Farias disputará o governo contra o indicado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), o atual vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Distrito Federal – A capital da República serve como vitrine para os programas petistas e o governador Agnelo Queiroz (PT) concorrerá à reeleição.

Rio Grande do Sul – O governador Tarso Genro (PT) concorre à reeleição. O PMDB deve ter candidato próprio, mas a preocupação é com a senadora Ana Amélia (PP).

Paraná – A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann será a candidata do PT contra a tentativa de reeleição do tucano Beto Richa. O peemedebista Roberto Requião também pretende concorrer.

Minas Gerais – O candidato será o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. O estado é estratégico porque é dominado pelo senador Aécio Neves (PSDB).

Bahia – Quarto maior colégio eleitoral do país, é governado pelo PT depois de uma longa hegemonia do carlismo.

Acre – Tião Viana (PT) concorrerá à reeleição. A vitória significará uma hegemonia de cinco mandatos consecutivos.

Aécio Neves
São Paulo – Geraldo Alckmin será o candidato à reeleição. Os tucanos estão no governo desde 1994 e sabem que precisam proteger o governo das investidas do PT.

Minas Gerais – No reduto eleitoral do presidenciável Aécio Neves, os tucanos sabem que uma derrota caseira colocará em xeque a pretensão nacional do partido.

Rio de Janeiro – No terceiro maior colégio eleitoral, os tucanos sofrem com a falta de um nome forte para concorrer ao governo.

Rio Grande do Sul – Desgastado pela má gestão da tucana Yeda Crusius, que chefiou o governo entre 2007 e 2010, o partido deve apoiar a senadora Ana Amélia (PP).

Bahia – Os tucanos reeditarão parceria estratégica com o DEM, comandado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto.

Pernambuco – O PSDB quer fincar bandeira no Nordeste, dividido entre o PT de Dilma Rousseff e o PSB de Eduardo Campos.

Ceará – Os tucanos lideram com folga a corrida pelo Senado, com Tasso Jereissatti, e não descarta uma aliança com o PMDB de Eunício Oliveira.

Eduardo Campos/Marina Silva

São Paulo – O PSB, tradicionalmente, é aliado do PSDB, mas a Rede quer lançar o nome do deputado Walter Feldmann, que deixou os tucanos para se filiar ao partido socialista.

Rio de Janeiro – Não há uma candidatura definida, mas o grupo quer aproveitar o alto índice de votos de Marina nas eleições de 2010.

Minas Gerais – Um dos principais colégios eleitorais brasileiros, socialistas e sonháticos lutam para buscar um nome e fugir da polarização PT-PSDB. O prefeito de BH, Marcio Lacerda, é uma opção, mas ele se mostra resistente a se candidatar ao governo.

Espírito Santo – Renato Casagrande (PSB) é candidato à reeleição e o partido vai marchar sem o apoio do PT, que sempre deu suporte ao governador socialista.

Bahia – Quarto maior colégio eleitoral do país, PSB e Rede também buscam um nome ou uma coligação forte. O peemedebista Geddel Vieira Lima simpatiza com Eduardo Campos.

Pernambuco – Vale a mesma regra de Minas em relação a Aécio. Se não fizer o sucessor, Eduardo Campos perde fôlego na corrida nacional.

Piauí – Ao eleger o governador do estado, Wilson Martins, o PSB interrompeu o comando petista no estado

Ceará – O PSB precisa encontrar uma alternativa após o desembarque de Cid Gomes (governador do Estado) e Roberto Cláudio (prefeito de Fortaleza), que se filiaram ao PROS.

Fonte: Estado de Minas

Os obstáculos da terceira via

Juliana Bublitz

A menos de um ano das eleições presidenciais, o debate sobre a polarização PT-PSDB volta à tona. Desde 1998, o Brasil acompanha o surgimento de candidaturas alternativas que não decolaram. Confira os erros cometidos no passado e as perspectivas para Eduardo Campos e Marina Silva, as novas expressões da terceira via.

Nas últimas quatro eleições presidenciais disputadas no Brasil, todas as candidaturas montadas com o objetivo de romper com a polarização entre PT e PSDB naufragaram.

Em 2014, uma nova opção – com o PSB de Eduardo Campos e Marina Silva à frente – apresenta-se ao eleitorado brasileiro e dá os primeiros passos no difícil, mas nem por isso impossível, caminho da "terceira via". A tentativa de minar a hegemonia de petistas e tucanos impõe a seus adversários alguns desafios. Entre eles, identificar os erros do passado e não repeti-los.

Como conceito, o termo "terceira via" não é novo. Ganhou fama na Inglaterra, a partir da década de 1990, em um momento de perplexidade da esquerda e de ascensão do conservadorismo neoliberal de Margaret Thatcher (1925-2013). Foi o meio-termo encontrado para renovar a social-democracia em crise – nem tão à esquerda, nem tão à direita – e teve entre seus principais defensores o ex-premiê britânico Tony Blair, inspirado nas ideias do sociólogo Anthony Giddens. Conquistou espaço e admiradores, mas, desde que Blair saiu de cena, o conceito perdeu muito de seu apelo político e intelectual.

No Brasil, a ideia assumiu uma acepção diferente – como alternativa à polarização – e segue mais viva do que nunca com a dobradinha Campos-Marina. Isso não significa que esteja livre de polêmica.

– A questão é a seguinte: o que essa terceira via está querendo dizer? Quais são as propostas? Qual é a sua agenda? É importante o eleitor não levar gato por lebre. Às vezes, é apenas uma expressão que, politicamente, não significa nada – diz o cientista político Fabiano Santos, da Universidade Estadual do Rio (Uerj).

A crítica encontra eco nas eleições presidenciais de 1998 e 2002. As derrotas de Ciro Gomes (então no PPS e hoje no PROS) e Anthony Garotinho (então no PSB e hoje no PR) são atribuídas, em parte, à falta de estrutura partidária e de consistência das propostas.

– O problema é que, em geral, os partidos vivem muito da lógica eleitoral. Não apostam na construção de um projeto de longo prazo e não conseguem criar estruturas nacionais. Além disso, há muito pouca diferença entre as 32 legendas existentes – avalia o cientista político Francisco Fonseca, da FGV-SP.

Candidato à Presidência em 2006, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) reconhece, hoje, que não tinha a menor chance ao competir com Lula e Geraldo Alckmin. De um lado, havia a força do lulismo – baseada na distribuição de renda e redução das desigualdades – e, de outro, o PSDB – cacifado pela conquista da estabilidade econômica e pela trajetória de vitórias em São Paulo.
– Hoje, o cenário é outro. Esse modelo está se esgotando, e a democracia passa por uma crise profunda. Agora, há um pedido por mudança. Há mais espaço para alternativas – avalia Cristovam.

Rigotto criou fórmula contra favoritismo de adversários

A eleição de 2002, no Rio Grande do Sul, demonstrou que há formas de romper polarizações. Germano Rigotto (PMDB) venceu a corrida ao Palácio Piratini e pode ser considerado um exemplo de terceira via que deu certo.

Com um discurso moderado, um partido bem estruturado e um programa cujo mote foi a abertura ao diálogo, o caxiense conquistou o público cansado do embate ideológico entre Antônio Britto (então no PPS) e o PT, cujo cabeça de chapa era Tarso Genro. Com menos de 3% das intenções de voto no início da campanha, Rigotto correu por fora e surpreendeu.

O sonho de Campos e Marina para 2014 é repetir o feito de Rigotto, mas os dois terão de convencer o eleitorado de que não são "mais do mesmo".

– O que falta é saber se essa aliança realmente vai trazer o novo. Esse é o grande desafio – projeta Buarque.

As razões dos tropeços 
Por que as tentativas de terceira via não vingaram nas últimas eleições

1) Os candidatos não conseguiram formar coligações consistentes, com estrutura partidária forte o bastante para competir com PT e PSDB.

2) Ficaram atrás na briga por tempo de rádio e TV e tiveram menos visibilidade do que as duas siglas
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3) Falharam na tentativa de apresentar propostas realmente novas e, ao mesmo tempo, consistentes e factíveis.

4) Não tinham líderes de porte nacional e tiveram dificuldade para se apresentar como alternativas viáveis.

5) As últimas campanhas tiveram caráter personalista forte, com nomes como Lula, FH e José Serra. Os adversários não conseguiram fazer frente a essas figuras.

6) As tentativas de terceira via não se sustentaram a longo prazo, parecendo apenas projetos pessoais.

Fonte: Zero Hora (RS)

Simon, Erundina e Jarbas viram estrelas na vitrine do PSB-Rede

Trio é apresentado como símbolo do combate ao toma lá dá cá na política

Maria Lima

BRASÍLIA - Não se pode dizer que são caras novas na política. Na verdade os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) estão no cenário político há décadas. Mas foram alçados agora pela dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede) à condição de símbolos da resistência à velha política do toma lá dá cá, da corrupção, do descalabro administrativo e da barganha política em troca de poder.

Integrados à nova coligação que está revirando o quadro eleitoral de 2014, os três estão a todo vapor participando de articulações políticas e serão peças importantes na vitrine da coligação que tem como mote o fim da velha política. — Erundina, Jarbas e Simon representam uma geração de políticos que souberam resistir aos encantos da política tradicional. Têm mandatos reconhecidos por servirem à sociedade. Servem também para que a sociedade não perca a crença nas instituições — disse Eduardo Campos ao GLOBO.

Erundina e a ex-ministra Marina Silva têm uma história muito parecida: as duas ajudaram na criação do PT no início dos anos 80, tiveram atuação expressiva no partido e, depois de dificuldades internas, foram obrigadas a deixar a legenda. Com quatro eleições consecutivas para a Câmara Federal desde 1998, pelo PSB, agora, com a reaproximação da ex-companheira Marina Silva, Erundina diz estar vivendo um novo recomeço. —

O jogo começa agora, o quadro está mudando, e se respira isso por onde se caminha. Há um novo cenário de não se aceitar o que já estava dado como decidido (a reeleição da presidente Dilma). Eu nunca perdi o ânimo. Em muitos momentos me senti como se estivesse numa luta de resistência. Como Marina, eu tinha duas alternativas: sair da política e continuar filiada ao PT, ou sair do PT e continuar na política. Optei por continuar fazendo política, sempre — disse uma entusiasmada Erundina na sexta-feira.

Fonte: O Globo

Candidatura de Campos entusiasma veteranos

Peemedebistas históricos, senadores veem chance de derrotar PT em 2014

BRASÍLIA - Alijado da cúpula do PMDB, partido que ajudou a fundar, mas sempre brigando dentro do partido, ao contrário de Luiza Erundina e Marina Silva, o senador Jarbas Vasconcelos (PE) é um dos mais ácidos críticos da administração e da política da presidente Dilma Rousseff e da atuação do PT no Congresso. Confessa que, antes da reviravolta de Marina com o PSB, estava desanimado e “ressabiado” com os rumos da disputa eleitoral de 2014.

Jarbas diz que há pouco tempo “O pau estava comendo” em cima das oposições e que as candidaturas alternativas ao PT, por sua vez, continuavam desorganizadas. O senador pernambucano se reaproximou do governador Eduardo Campos (PSB) na eleição municipal do ano passado e, desde então, tem sido um entusiasta da candidatura presidencial do socialista. — Às vezes eu tenho a impressão de estar falando para o vento. Não me levam a sério.

Mas eu, Simon e Erundina temos em comum essa procura de fazer e lutar para que as coisas sejam feitas da maneira certa. Agora estou animado e quero ajudar dentro dessa nova realidade. Sem perder a cabeça, temos que continuar batendo e tendo a ética como marca desta nova aliança — disse Jarbas Vasconcelos.

Simon mantém articulação

O terceiro ético da vitrine de Eduardo Campos é outro que está bastante entusiasmado. Já com a aposentadoria anunciada várias vezes, o gaúcho Pedro Simon não para de articular, participar de atos políticos ao lado de Marina, que chama de “minha filha e de Eduardo. Além dos notórios discursos no plenário do Senado.

Ele esteve ao lado de Marina em todos os momentos difíceis dela na luta pela criação da Rede Sustentabilidade nos tribunais em Brasília e participou também da reunião do Diretório Nacional do PSB, quarta-feira, quando a cúpula da Rede foi apresentada à do PSB. Simon foi também uma das pontes que levaram Marina a aderir ao PSB e à chapa de Eduardo Campos como provável candidata a vice. Além da proximidade com Marina, construída durante sua passagem pelo Senado, Simon foi muito próximo do avô do pré-candidato Eduardo Campos.

Ele e Miguel Arraes militaram juntos e construíram uma sólida amizade no antigo “MDB’ como ele chama o PMDB até hoje. Para Campos, os três políticos experientes podem renovar sua campanha: — Eles podem estar há muito tempo na política, mas se mantêm sintonizados com a renovação.

Fonte: O Globo

Brecha na lei fortalece palanque duplo nos Estados

A articulação nos Estados de coligações formadas por partidos adversários no plano nacional expôs brecha jurídica que já preocupa os futuros candidatos à Presidência. Como a regra do TSE não é clara sobre os limites da campanha casada, dirigentes regionais se articulam, o que pode gerar situações inusitadas. PSB e PSDB podem estar juntos em 9 Estados. O PMDB pode enfrentar o PT em até 15.

Zona cinzenta de regra eleitoral sobre uso da imagem já mobiliza partidos

Pedro Venceslau, Ricardo Chapola

A polêmica sobre a articulação de palanques duplos nos Estados, formados por partidos que serão adversários no plano nacional, mas aliados no local, expõe uma zona cinzenta da regra eleitoral que já preocupa os futuros candidatos à Presidência em 2014.

Como a regra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que está em vigor não é clara sobre os limites da campanha casada e pode ser derrubada a qualquer momento, dirigentes regionais estão se articulando à revelia de orientações dadas pelos prováveis candidatos à Presidência.

O último acórdão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que trata do assunto, de 12 de agosto de 2010, estipula que "é permitido ao candidato da eleição majoritária presidencial ou militante de partido político participar de propaganda eleitoral gratuita de candidato em âmbito estadual, desde que estejam coligados no plano nacional".

O redator do acórdão, feito a partir de consulta do então senador Marconi Perillo (PSDB), foi o ministro Ricardo Lewandowski, que na época atuava no TSE.

No caso de Dilma Rousseff, seu principal aliado na campanha pela reeleição, o PMDB, pode enfrentar o PT em até 15 Estados. Em todos eles, segundo a regra vigente na Justiça Eleitoral desde 2010, os candidatos peemedebistas à governador podem usar livremente a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma na TV em suas campanhas de TV e rádio, mesmo que o PT conte com um postulante na disputa.

"Nós aceitamos o palanque duplo no Rio justamente por isso. Essa brecha joga contra a noção de aliança e é mais um argumento para justificar nossa posição", afirmou o deputado federal carioca Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara. Em seu Estado, o PMDB lançará o vice-governador Luiz Pezão e o PT o senador Lindbergh Farias.

"Confuso". "Não ligamos se Dilma subir em três ou quatro palanques, mas se ela puder aparecer no programa eleitoral do PMDB na TV o negócio complica. Temos que refletir sobre isso, pois o eleitor ficaria confuso", admitiu o presidente do PT fluminense, Jorge Florêncio.

Há 10 dias, o presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão, afirmou que a presidente Dilma poderá subir em três palanques ou em nenhum, dependendo da realidade regional, mas disse que a imagem de Dilma na TV só poderá ser usada pelos candidatos petistas.

Prioridade. "É melhor liberar a imagem da Dilma e do Lula. Sempre haverá reclamação, mas nossa prioridade é a eleição nacional", ponderou o deputado André Vargas, membro do diretório nacional do PT, instância que vai deliberar sobre o uso das imagens. Ele afirmou que no Paraná, por exemplo, o senador Roberto Requião (PMDB) vai usar a imagem de Lula e Dilma em seus materiais de campanha. Ou seja: a candidata do PT, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hofmann, não terá exclusividade de contar com os maiores puxadores de votos de seu partido.

Nos nove Estados onde PSB e PSDB poderão estar juntos, a imagem do governador Eduardo Campos, provável candidato à Presidência, não poderá aparecer na TV ao lado de tucanos, já que não há coligação nacional.

Reviravolta. Provocada pela reportagem do Estado, a assessoria técnica do TSE admitiu que a regra atual é "omissa" em relação ao uso da imagem dos candidatos majoritários no material de campanha (santinhos, folders, entre outros). O mais provável, segundo técnicos do TSE, é que o entendimento sobre o palanque eletrônico se estenda a esses casos. A possibilidade de uma nova consulta sobre o assunto já é esperada pelo tribunal. O resultado pode alterar totalmente a interpretação atual, já que cinco dos ministros que votaram na consulta de 2010 : não integram mais a corte.

"O governador Geraldo Alckmin tem que abrir o palanque para o Eduardo Campos em São Paulo e liberar a imagem dele nos nossos materiais de campanha se quiser o apoio do PSB", afirmou Wilson Pedro da Silva, 1° secretário do PSB paulista. "Sou contra o uso da imagem do Geraldo. Não vamos permitir isso. Nosso candidato é o Aécio", respondeu o deputado tucano Pedro Tobias, ex-presidente estadual do PSDB.

Para o deputado federal Antonio Carlos Mendes Thame, secretário-geral do PSDB nacional, essa discussão é fruto de uma previsível "animosidade" entre Eduardo Campos e Aécio Neves na campanha. "O PT já tem uma vaga no segundo turno", disse (veja entrevista abaixo).

Verticalização. "Com a quebra da verticalização, essa questão ficou aberta e confusa. Lamentavelmente, a lei não é clara", reconheceu o advogado Alberto Rollo, especialista em direito eleitoral ouvido pelo Estado. Ele afirmou ainda que as consultas feitas ao TSE orientam, mas não vinculam. "O Tribunal Superior Eleitoral pode julgar em outra direção".

Para entender

TSE derrubou verticalização

A verticalização da propaganda eleitoral foi instituída em junho de 2010 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e proibia o uso da imagem e da voz de candidatos nos programas de TV de aliados regionais que não participassem das coligações nacionais. Foi criada após consulta feita pelo PPS, que sugeria limites de participação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas campanhas de aliados nos Estados.

Dois meses depois, o TSE derrubou a decisão com base num novo questionamento feito pelo então senador Marconi Perillo (PSDB-GO). Em nova votação, a proposta de verticalização caiu por terra, com 4 votos contra e 3 a favor.

Para lembrar

Tema também gerou polêmica no pleito de 2010

Em 2010, o então candidato do PMDB ao governo da Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, usou imagens de Lula (foto) e Dilma na campanha estadual contra o petista Jaques Wagner.

No mesmo ano, na disputa estadual de Pernambuco, então candidato do PMDB Jarbas Vasconcelos fez toda a campanha ao lado do tucano José Serra, mas seu partido fechou com Dilma.

Outro que fez campanha com Serra em 2010, embora fizesse parte da base de apoio de Lula, foi o então candidato ao governo de Mato Grosso do Sul André Piccineli (PMDB-MS).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Cúpulas tucana e do DEM definem linhas de atuação

Prioridades são propostas claras, atrair setores identificados com Marina e aumentar presença de Aécio na mídia

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Diante da aceleração da campanha eleitoral de 2014, um grupo restrito das cúpulas do PSDB e do DEM reuniu-se na noite de quarta-feira, em um jantar em Brasília, e delineou três linhas de atuação da oposição nos próximos meses: a montagem de uma equipe para formatar um conjunto de propostas claras para o país; a busca por um maior diálogo com setores da sociedade que se identificavam com a candidatura de Marina Silva; e uma presença maior do presidenciável Aécio Neves na mídia, atuando em todos os debates importantes do noticiário político.

— A Dilma trabalha diariamente com orientação de marketing. Por isso, a partir de agora, o Aécio precisa estar mais opinativo no dia a dia — explicou um dos comensais. O jantar ocorreu no apartamento de Aécio e teve como participantes, além do presidenciável, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), o presidente do DEM, José Agripino Maia (RN), e os líderes do PSDB na Câmara e no Senado, Carlos Sampaio (SP) e Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Segundo relatos, o clima do encontro foi de ânimo, inclusive com as pesquisas recentes, pelo fato de Aécio ter crescido mais que Eduardo Campos, apesar de o pré-candidato do PSB ter tido enorme exposição de mídia na semana anterior

Fonte: O Globo

Entrevista: Mendes Thame, presidente do PSDB de São Paulo

"É complicado. Isso vai embaçar a visão do eleitor"

Pedro Venceslau

O deputado federal Antonio Carlos Mendes Thame foi escolhido para ser secretário-geral do PSDB na cota do ex-ministro José Serra, mas logo se aproximou do presidente do partido, Aécio Neves. Ele foi uma dos articuladores dos 27 diretórios estaduais tucanos em torno da candidatura presidencial do senador
mineiro. Nesta entrevista, Thame reconhece que a situação dos palanques duplos é sui generis.

* Como avalia a possibilidade palanques duplos entre PSB e PSDB nos Estados?

Essa situação é sui generis. O palanque duplo está invertido agora em relação às eleições anteriores.
Quando, por exemplo, Mário Covas e Paulo Maluf apoiaram o Fernando Henrique Cardoso (a presidente), era um palanque duplo com "v" invertido. Agora estamos falando de dois candidatos à Presidência apoiando um candidato a governador com sua base dividida, É complicado. Isso ajuda embaçar a visão do eleitor.

* O PSDB nacional deve impor limites para as campanhas casadas entre PSB e PSDB?

Essa discussão é fruto de uma situação nova que foi criada, que é a possibilidade objetiva de segundo turno. Ou o PSDB ou o PSB estarão lá.

* Então o clima cordial entre Aécio e Campos deve acabar?

É previsível que haja uma certa animosidade.

* Os palanques duplos podem prejudicar o Aécio?

Isso é imprevisível. Mas isso pode afetar o resultado das eleições.

* O PSDB vai proibir o uso da imagem de seus governadores nas campanhas do PSB?

Não sei se chegaremos a esse ponto, mas não acredito que o Geraldo Alckmin subirá em dois palanques. Ele não vai em um comício do Eduardo Campos. Essa questão muda completamente a tônica eleição.

* O sr. defende essa aliança (PSDB-PSB) nos Estados?

Acho difícil negar essa reciprocidade para eles, já que o PSB apoiou o PSDB em várias cidades em 2012. Para o Geraldo, o ganho de se aliar com o PSB é tempo de TV. Você acha, por exemplo, que a Luiza Erundina faria campanha para o governador? De jeito nenhum.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT conta com Skaf em SP para tirar votos de Alckmin

PMDB reafirmou a candidatura do presidente da Fiesp ao governo paulista

O vice-presidente, Michel Temer, agiu para impedir a reedição da parceria de sua sigla com o PSDB no Estado

Diógenes Campanha, Marina Dias

SÃO PAULO - O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), reafirmou ontem a intenção do partido de lançar a candidatura do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, ao governo paulista.

Aliado do PMDB no plano federal, o PT já trabalha com a possibilidade de ter o empresário como rival na eleição do ano que vem.

A investida peemedebista, porém, é vista por petistas como uma chance de levar a disputa contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para a segundo turno.

O PMDB tem 88 prefeituras no Estado e 2min18s de tempo de TV no horário eleitoral --mais do que o 1min39s de que dispõe o PSDB. Na última pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo, em julho, Skaf atingiu 19% das intenções de voto e aparecia em segundo lugar em três dos quatro cenários investigados.

Além de acreditarem que Skaf possa tirar votos de Alckmin, os petistas consideram uma vitória o fato de o PMDB paulista não ter se aliado aos tucanos, como ocorreu em 2010 --quando o partido ainda era comandado pelo ex-governador Orestes Quércia.

Há alguns meses, o PSDB trabalhou nos bastidores junto aos peemedebistas Marcelo Barbieri, prefeito de Araraquara, e Baleia Rossi, presidente da legenda em São Paulo, oferecendo o cargo de vice na chapa de Alckmin.

Diante dessa movimentação, Temer agiu para impedir a parceria. Uma aliança com o PSDB em seu próprio Estado seria uma derrota para o vice-presidente.

Ontem, no congresso regional do PMDB, em Tatuí (140 km de São Paulo), o partido referendou Skaf como pré-candidato.

"É muito importante para o nosso partido tentar chegar ao governo do Estado. Assim como também é muito importante tentarmos eleger uma grande bancada de deputados federais e estaduais", disse Temer.

Baleia Rossi nega ter negociado com os tucanos. "Não seremos escada para PT nem PSDB. Sempre defendi a candidatura própria. Mesmo quando 90% do partido era Chalita, eu era Skaf", disse.

Assim como Skaf, o deputado Gabriel Chalita migrou do PSB para o PMDB em 2011. Após ter ficado em quarto na eleição para prefeito de São Paulo, em 2012, era apontado como potencial candidato ao governo, mas perdeu espaço após ser acusado de receber favores de empresas quando foi secretário da Educação de Alckmin.

Chalita não participou do evento de ontem para promover Skaf. Sua assessoria disse que ele tinha uma palestra em Salvador. O PMDB diz que Skaf é o único nome para o Palácio dos Bandeirantes.

Terceira via
Diante da avaliação de que o PMDB manteria Skaf no páreo, o PT buscou reforçar o palanque do ministro Alexandre Padilha (Saúde), seu candidato em São Paulo, com outros partidos da base do governo federal.

Com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT estimulou a filiação do usineiro Maurilio Biagi Filho ao PR para que ele seja o vice.

Petistas lembram que, na última vez que a eleição paulista teve segundo turno, em 2002, havia uma terceira candidatura competitiva.

Naquele ano, José Genoino (PT) passou para a segunda etapa contra Alckmin com 32% dos votos válidos. O terceiro colocado, Paulo Maluf (PP), teve 21%.

Em 2006 e 2010, o petista Aloizio Mercadante teve, respectivamente, 31% e 35% dos votos. Nas duas ocasiões, com os pleitos polarizados entre PT e PSDB, os candidatos tucanos --José Serra e Alckmin-- levaram no primeiro turno, mantendo o partido no governo desde 1995.

Fonte: Folha de S. Paulo

PT corre para renovar votos de casamentos

Apesar de integrar atual base do governo, partidos adiam sua decisão sobre apoio à reeleição de Dilma

Fernanda Krakovics

BRASÍLIA - Com o crescimento do pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, nas pesquisas de intenção de voto, o comando da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff tenta amarrar desde já os apoios de partidos médios, como PP, PR e PDT. Apesar de terem cargos no governo federal, essas siglas, no papel de “noivas”, empurram a decisão para o ano que vem, tanto para valorizar seu passe quanto para avaliar melhor o cenário eleitoral.

Isso ocorre num momento em que o PT depende ainda mais de seu aliado preferencial, O PMDB, e a relação entre os dois partidos vai de mal a pior. Apesar de a prioridade do PT ser a reeleição de Duma, o partido resiste em apoiar peemedebistas nas eleições para governador em seis estados : Rio de Janeiro, Maranhão, Bahia, Ceará, Pará e Mato Grosso do Sul. Posição que tem potencial de causar grandes danos aos petistas na convenção nacional do PMDB que decidirá sobre os rumos da sigla na disputa pelo Palácio do Planalto o presidente do PT, Rui Falcão, e o ministro Aloizio Mercadante (Educação), que é o principal articulador político do governo, fizeram uma rodada de reuniões na semana passada com PMDB, PR, PP e PDT para tentar aparar arestas e garantir o apoio à reeleição de Dilma.

Mas não avançou muito. Após a reunião, o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que a tendência é apoiar Dilma, até por uma questão de coerência, já que o partido comanda o Ministério do Trabalho desde o governo Lula, mas afirmou que a decisão não está tomada: — Vocês adoram me chamar de caudilho, mas eu sou um caudilho democrático. Tenho que ouvir todo mundo. Estou consultando os estados (diretórios regionais do PDT) — disse Lupi, cuja sigla deve ter direito a cerca de 50 segundos de propaganda na principal moeda em urna campanha eleitoral.

O PP, por sua vez, que comanda o Ministério das Cidades, está pleiteando o Ministério da Integração Nacional em meio às negociações para apoiar a reeleição de Dilma. Em 2010 o partido ficou neutro. A sigla deve ter cerca de lm50s de tempo de TV no horário eleitoral gratuito. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), que defende o apoio à Dilma nas eleições do ano que vem, disse não haver constrangimento em ocupar um ministério e eventualmente ficar neutro na disputa.

Segundo ele, a participação do partido no governo é “administrativa”, e não “eleitoreira”. Já o PR, que comanda o Ministério dos Transportes e deve ter em torno de dois minutos de tempo de TV na propaganda eleitoral, vai na mesma linha e ainda não se comprometeu em apoiar a recondução de Dilma. Depois de conversar com o presidente da sigla, senador Alfredo Nascimento (AM), e com o senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), o presidente do PT, Rui Falcão, procurou o líder do PR na Câmara, deputado Anthony Garotinho (RJ), pré-candidato a governador do Rio, para tentar assegurar seu palanque para Dilma.

Ele havia ameaçado dividi-lo com Campos e com o pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Falcão está certo de que esses partidos, PP e PR, apoiarão a reeleição de Dilma. Pelo Brasil, há alianças de todo tipo. O PP no Rio Grande do Sul negocia com Campos, já em Minas e no Paraná ficará com Aécio. Até o PCdoB, aliado mais fiel do PT, está ameaçando ceder seu palanque no Maranhão, onde lançará Flávio Dino para governador, ao pré-candidato do PSB ao Planalto.

No Maranhão, Dilma quer apoiar Dino, mas o ex-presidente Lula defende a aliança com o PMDB do clã Sarney, com quem tem uma dívida de gratidão. Chegou-se a propor como saída apoiar o candidato do PCdoB ao governo e a atual governadora Roseana Sarney (PMDB) para o Senado, mas o acordo não foi aceito pela família. Diante da irritação de Sarney, tanto Dilma quanto Lula telefonaram para o senador, semana passada, negando que houvesse decisão tomada quanto ao apoio a Dino.

No momento em que há um clima de rebelião no PMDB, a última coisa que o Planalto e o PT querem é comprar uma briga com um cacique do partido. o PMDB é o caso mais espinhoso a ser administrado pelo comitê informal da campanha à reeleição de Dilma. O PMDB é um partido composto por caciques regionais e a política nos estados tem mais peso para a sigla do que o projeto nacional.

A força do partido nos estados e municípios costuma lhe garantir uma grande representação no Congresso — possui atualmente a maior bancada do Senado e a segunda maior da Câmara. Assim, independentemente da posição adotada pelo PMDB na campanha presidencial, invariavelmente o Palácio do Planalto fica refém do partido..

Fonte: O Globo

Atração de eleitorado de Marina será cautelosa

PSDB quer evitar novos atritos com Campos, aliado à líder da Rede

BRASÍLIA - A avaliação do grupo de tucanos e do DEM é que o eleitorado de Marina não se transferirá automaticamente para Campos pela filiação da ex-senadora ao PSB. Por isso, os presentes ao jantar defenderam que Aécio busque formas de constituir um discurso para conquistar parte desse eleitorado. — A Marina cumpre fundamentalmente o papel de antipolítica. Na medida em que migra para um projeto claramente político, seu eleitorado fica solto.

A ideia é buscar formas de se conectar com ele, de oferecer espaço para esse grupo na campanha — contou outro participante do jantar. A tática de buscar votos dos eleitores da ex-senadora será feita na medida para evitar novos atritos com o governador Eduardo Campos, como os da semana passada sobre os palanques duplos. Aécio e Campos conversaram na sexta-feira e concordaram que, neste momento, a disputa entre os dois só interessa à presidente Dilma e ao PT.

Uma das decisões do grupo de tucanos e aliados do DEM, que já havia sido defendida na manhã de quarta-feira, durante reunião de Aécio com toda a bancada de deputados, é que seja montada uma equipe para elaborar as linhas básicas de um programa de governo do PSDB para o país. Segundo tucanos, a ideia é preparar cerca de 10 grandes propostas para áreas diversas, a começar pela economia e pelas políticas sociais.

A presença de dois dos mais importantes dirigentes do DEM no encontro deixa claro que, apesar das rusgas com os tucanos, a tendência mais forte hoje ainda é que haja uma aliança formal entre as siglas — a despeito do ensaio de uma candidatura presidencial do deputado Ronaldo Caiado (GO), alimentado pela bancada ruralista.

Além da consolidação do acordo com o DEM e com o recém-criado Solidariedade, os tucanos também conversaram sobre a necessidade de também garantir nos próximos meses uma aliança com PPS e PV. No campo prático e imediato, além de falar mais sobre os assuntos em pauta, Aécio Neves deve retomar esta semana suas viagens pelo país, mantendo como grande prioridade visitas ao interior de São Paulo. A expectativa é que nos próximos dias ele vá a duas cidades do interior do estado.

Até o fim de novembro, Aécio participará de três grandes encontros do PSDB: um evento estadual do diretório gaúcho, em São Leopoldo, e dois encontros regionais que o partido está organizando para reunir seus filiados. O primeiro será o da Região Norte, marcado para o início de novembro, em Manaus, e o outro será o da Região Centro-Oeste, no fim do mesmo mês, em Goiânia (GO).

Fonte: O Globo

Violência - Celso Lafer

O século 20, que se prolonga no 21, foi qualificado como era dos extremos. Uma característica do seu extremismo é a generalizada presença e a propagação da violência, cujos efeitos visualizamos no impacto de sua repercussão globalmente difundida pelos meios de comunicação e multiplicada pelo efeito irradiador da era digital. Confrontamo-nos com a onipresença da violência ao tomar conhecimento do que se passa em escala larga e letal na Síria ou, de modo mais circunscrito, com os black blocs, que a inseriram em manifestações de rua até então pacíficas em cidades do Brasil, este ano.

Violência é palavra que provém do latim, tem a sua origem em vis, força, na acepção de tratar com força alguém, ou seja, coagi-lo, configurando uma agressão e um abuso, donde o sentido de violentar. No mundo contemporâneo a extensão da força viu-se multiplicada pela técnica, que a instrumentaliza de maneira extraordinária. Armas de destruição em massa, drones, armamentos mais ou menos sofisticados na ação de criminosos e suas redes - como o Primeiro Comando da Capital (PCC) - ou terroristas de várias vertentes são exemplos de como os implementos da violência estendem seus efeitos.

São múltiplas as proteiformes manifestações de violência, de que são exemplos a racial, a sexual, a xenófoba, a urbana e a rural, a tortura, a proveniente de fundamentalismos religiosos e políticos. Há a violência passional, impulsiva, mobilizada por medo ou ódio; e a violência calculadora, alimentada pela hostilidade, mas que racionaliza a ação para torná-la mais eficaz. É por esse motivo, dada a presença da violência no correr da História, que existem distintas reflexões que buscam explicá-la como sendo fruto da natureza humana, da ignorância, da luta de classes, do rancor, da revolta contra a injustiça, a corrupção, a hipocrisia.

A generalização da violência na era dos extremos converge com visões e perspectivas que a glorificam e a justificam como liberadora e regeneradora. O fascismo, ao se contrapor à democracia e ao papel do diálogo na vida política, exaltou-a e sustentou os méritos do belicismo. Na esquerda, a clássica diferença entre reformistas e revolucionários é a de que aqueles se norteiam pela mudança por meios pacíficos e estes se guiam pela aceitação e afirmação da violência revolucionária como caminho para mudanças, tendo em vista, na lição de Marx, que a violência é a parteira da História.

A violência, individual ou coletiva, no seu exercício estabelece, como aponta Sergio Cotta, uma diferença radical entre o violento e os outros, que se tornam objeto de uma despersonalização impeditiva da coexistência, cabendo apontar que é da natureza da violência não se sujeitar aos parâmetros das normas e da proporcionalidade que caracterizam o Estado de Direito. Com efeito, a violência, por princípio, decepa qualquer possibilidade de diálogo e se contrapõe às regras do Direito que pressupõem a igualdade perante a lei e a imparcialidade do julgamento. Por isso a prática da violência fere a dignidade da pessoa humana e se opõe à democracia, que postula a importância da comunicação e dos debates que fazem a mediação das diferenças na busca de um curso comum da ação.

A crítica implacável da democracia, de suas normas e seus valores caracteriza a obra de Carl Schmitt, pensador e jurista alemão de indiscutível, porém controvertida originalidade, que foi um dos coveiros da República de Weimar e integrou os quadros do nazismo. Ele se dedicou a rejeitar o papel das normas jurídicas e éticas na compreensão do que é a política. Postulou a sua autonomia, afirmando que a sua singularidade é dada pela clareza da distinção amigo/inimigo. O inimigo, para Schmitt, uma noção pública, é quem nega, na situação concreta, o modo de vida do seu oponente. Por isso deve ser repelido e combatido. A identificação do inimigo é uma decisão existencial não balizada por normas e sempre comporta na sua prática a possibilidade de sua eliminação física, que é inerente à lógica do combate configurado, na obra de Schmitt, pela absolutização da dicotomia amigo/inimigo.

Esse entendimento dicotômico e excludente da autonomia da política estimula a justificação da violência e merece registro porque a obra de Schmitt, com seu brilho satânico, continua fascinando não apenas a direita, mas significativas correntes da esquerda. Essas correntes encontram nos seus argumentos, como aponta Richard Bernstein em livro recente (Violence, 2013), elementos para questionar os méritos do normativismo de inspiração kantiana e do potencial para a convivência coletiva da democracia deliberativa e participativa e o papel da razão na tomada de decisões políticas, defendida, por exemplo, por Habermas.

A reflexão de Hannah Arendt e a diferença que ela estabelece entre poder e violência representam uma válida denegação da postura de Schmitt. É, para ela, um equívoco conceitual e prático fundir poder e violência. A violência não cria poder, destrói poder. Basta ver o que ocorre na Síria.

O poder resulta da capacidade humana de agir em conjunto e do concordar de muitos com um curso comum de ação, o que requer persuasão, palavra e debate, e não a intransitividade despersonalizada da violência. O poder, nesse sentido, é um conceito horizontal sustentado pela liberdade de associação e manifestação, cujo potencial se amplia na era digital por meio das redes e que enseja o empoderamento da cidadania. As instituições políticas são materializações do poder gerado pela ação conjunta, que se deteriora quando perde o lastro do apoio popular.

É por essa razão que a violência não só destrói o poder das instituições, como compromete a geração de poder, o que ocorre quando ela se insere, por exemplo, pela ação destrutiva dos black blocs na dinâmica das manifestações.

*Professor emérito do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

Fonte: O Estado de S. Paulo

A magia da imagem - Ferreira Gullar

O vínculo entre a imagem e a realidade deu origem às artes visuais, que nasceram com o homem das cavernas

Quando o homem do Paleolítico encontrou um pedaço de sílex, que parecia a cabeça de um bisão, pensou que aquele era um outro modo de o animal existir. E esse vínculo, para ele, entre a imagem e a realidade, parecia-lhe tão forte que, se atingisse a imagem do animal, atingiria o próprio animal.

Essa será possivelmente a razão pela qual o corpo dos bisões pintados nas cavernas esteja cravejado de setas. É que isso asseguraria o êxito da caçada. Essa crença sobrevive até hoje no que se conhece como "magia simpática", praticada por feiticeiros. No Brasil mesmo, é conhecida essa prática, que consiste em fazer o boneco da pessoa e espetá-lo no coração, na certeza de que, desse modo, levará à morte a pessoa ali representada.

Esse vínculo entre a imagem e a realidade deu origem às artes visuais, que nasceram precisamente com o homem das cavernas e se mantêm até hoje como um dos principais meios de que dispomos para inventar o nosso mundo humano.

Como se viu, desde o primeiro momento, a imagem já não é mera representação do real, mas um meio de transformá-lo: a arte existe porque a realidade não nos basta.

E, não por acaso, após milênios, a arte das imagens acompanha a aventura do homem, seja como expressão de seus desejos e representação de seus valores, seja como a criação de momentos de beleza e deslumbramento. Das paredes de Lascaux a dos mosteiros medievais, das primeiras telas renascentistas às imagens fotográficas de hoje, das xilogravuras quinhentistas à litografia e aos processos eletrônicos de agora, o universo imagístico tornou-se parte essencial da história humana, a ponto de ser impossível separarmos imagem e realidade.

Esse universo de significações, no entanto, não se contenta com a expressão visual das formas, das imagens. Ele necessita decifrá-las, entendê-las, traduzi-las na linguagem das palavras. Mas, como disse Ernst Cassirer, as linguagens são intraduzíveis entre si, ou seja, o que a imagem diz, a palavra não consegue dizer.

É que os significados só existem nas linguagens e são, portanto, criações delas. Certamente, podemos, com palavras, referirmo-nos, por exemplo, a uma gravura de Oswaldo Goeldi, em que vemos, na noite escura, um homem com um guarda-chuva vermelho. Podemos, mesmo, não apenas descrevê-la --os elementos figurativos que a compõem-- como tentar evocar a atmosfera de solidão ali presente. Não obstante, essa será sempre uma formulação verbal que jamais equivalerá, nem muito menos substituirá, a expressão que a imagem visual nos proporciona.

Isso não significa, porém, que a expressão vocabular seja um exercício descabido e inútil. Pelo contrário, por ser também uma linguagem autônoma, a palavra cria significações --leituras-- que se somam à expressão visual das imagens. Nesse sentido, o texto crítico, analítico ou poético sobre uma obra de arte pode de certo modo incorporar-se a ela, não como tradução da obra, mas como interpretação que a enriquece. Exemplo disso é o soneto de Rainer Maria Rilke sobre o torso de Apolo, traduzido para o português por Manuel Bandeira e que termina com este verso: "Força é mudares de vida".

E isso não apenas com respeito à arte. Na verdade, a realidade em que vivemos é, de fato, inventada por nós. Não simplesmente a realidade material --os instrumentos, as casas, os veículos etc.-- como também a realidade espiritual, constituída pelos valores éticos, estéticos, religiosos, científico.

Essa relação entre imagem e a palavra, no mundo da arte, ganha um significado muito peculiar, já que, neste campo, a interatividade das duas linguagens contribui para o enriquecimento de ambas, que assim descobrem novas possibilidades de reinventar-se.

Acredito que estas considerações evidenciam a importância que a criação artística desempenha na permanente reinvenção de nossa realidade. Refiro-me à realidade do homem como ser cultural. A permanência das obras de arte, criadas há séculos e mesmo há milênios, é a demonstração cabal do que a arte significa para o homem. É que se de fato, como creio, a vida é inventada, nada a torna mais fascinante do que a arte.

Fonte: Folha de S. Paulo / Ilustrada

A ordem fora da lei - José de Souza Martins

O PCC criou sociedade paralela, com regras que parecem as nossas, mas funcionam ao contrário

A ousadia do PCC, demonstrada nos telefonemas que o Ministério Público Estadual ouviu, analisou e divulgou recentemente, mostra que a força do crime organizado em parte está na sociedade desorganizada em que floresce e prospera. Sem dispor do mesmo aparato institucional dos poderes da República, tem ele, no entanto, a força da clandestinidade. Dirigentes presos continuam comandando ações criminosas, ameaçam autoridades e a realização de eventos públicos, ditam regras, até as relativas a sua própria prisão. A situação lembra, invertido, O Alienista, de Machado de Assis: o preso é que está livre e quem se pensa livre é que está confinado numa prisão invisível.

Da cadeia, o crime organizado administra empresarialmente não só a atividade fim, que nesse caso é o tráfico de drogas, como as atividades paralelas, que vão do suborno a assassinatos. Se o MPE levou três anos de investigações para descobrir sua estrutura de comando, sua organização e suas conexões na própria polícia, pode-se compreender facilmente que a organização tenha um poder de ocultação que não é pequeno. Até a cadeia é parte da organização criminosa, é seu instrumento de proteção e poder.

O principal trunfo do crime organizado é o de que se abriga na proteção da lei. E não há como ser diferente sem lesar os direitos de quem é inocente. O principal dirigente do PCC declarou há algum tempo que pode matar quem quiser. Os que o prendem, julgam e custodiam nada podem fazer contra ele. Está protegido pela prisão e pelo direito, e eles estão desprotegidos pela liberdade e pelo dever.

O PCC criou uma sociedade e um poder paralelos, com regras que parecem as nossas, mas funcionam ao contrário. É um caso sociológico de invenção social cuja eficácia maior decorre de sua ampla infiltração na sociedade. Os clientes das drogas traficadas são pessoas que não estão no crime. Compram, pagam e alimentam o volumoso dinheiro da economia do tráfico. Protegem a identidade dos fornecedores. São cúmplices da criminalidade.

O Estado é lento e pesado em assimilar tecnologias materiais e tecnologias sociais de contenção da criminalidade e de proteção aos direitos do cidadão. O Estado não se assume como Estado. Não temos, no Brasil, propriamente, as chamadas razões de Estado. O agente do Estado teme e vacila no cumprimento da lei, que existe no papel, mas não na vocação dos que governam e administram; a lei diz e o agente da lei desdiz, relativiza, ameniza, protela. A própria Justiça, não raro, em nome da defesa da lei, interpreta legislando, desfazendo a lei no fingimento de que a cumpre.

Dentro e fora da cadeia vai se gestando uma sociedade que, na incerteza quanto à força da lei e de quem a cumpre, cria as próprias regras, e para sustentá-las não tem alternativa senão a violência privada, na cadeia e na rua. A difusão dos aparelhos de comunicação rápida, como o telefone celular, viabilizou e acentuou o funcionamento em rede do crime organizado e aumentou-lhe o poder de comunicação e ação. Mas, como mostra a investigação agora concluída, a moderna comunicação o expôs completamente. É o efeito bumerangue dos meios modernos de relacionamento.

O crime organizado pode ser rastreado, ouvido, monitorado, identificado, localizado. Ganhou força e ficou fraco. A sociedade também se defende, com os mesmos recursos. O vigilante de moto que foi abordado por bandido de arma em punho na zona leste filmou toda a ação, a cara dos criminosos bem nítida, em close, com a microcâmera instalada na alça do queixo de seu capacete. Não só um dos bandidos levou tiros de policial que vira a cena, mas o que fugiu já foi identificado. Câmeras de segurança de lojas e bancos filmam bandidos agindo. Cada imagem dessas contém mais que o aparentemente inútil retrato de uma face mascarada.

A investigação recente do MPE, ao descobrir os nexos, a estrutura da delinquência organizada, o empreendedorismo dos criminosos, sua competência empresarial, indica que a criminalidade se moderniza, torna-se gerencial. O delinquente isolado e amador vai se tornando coisa do passado. O crime organizado até proclama que vai botando ordem na bagunça. Tornou o crime uma atividade racional, como a de um banco ou uma fábrica. Foi mais longe. Adotou a forma semirreligiosa da Cosa Nostra. Os membros da quadrilha se chamam de irmãos e, não raro, são mais irmãos que os da família convencional. São uma família porque são uma irmandade.

Os vínculos de lealdade não são formais, são os da palavra. Diferente do que ocorre no interior do aparelho estatal e da relação entre o Estado e a sociedade, os vínculos ali não são os do contrato, são os do trato, os da honra. Desrespeitar a lei é um divertimento; desrespeitar a palavra dada a um “irmão” é uma vergonha e um risco. As descobertas do MPE revelam os valores, regras e conexões do crime organizado e seu fundamento. Revelam as regras rígidas de sua moral peculiar, a alma de sua força que é a fonte de sua vulnerabilidade.

José de Souza Martins é sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, publicou A sociologia como aventura (Editora Contexto)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

As ruas e a democracia – Luiz Werneck Vianna

Este As ruas e a Democracia nos chega em uma boa hora, vindo da reflexão do cientista social Marco Aurélio Nogueira sobre o movimento de junho, que rompeu com fúria a aparente calmaria da superfície da política e pôs por terra a ilusão de que estávamos no limiar do fim da história do Brasil. A política do conservar-mudando, insígnia da revolução passiva, em nome de um pragmatismo sem princípios, manteve, até então, a sociedade imobilizada politicamente, desde as elites empresariais aos sindicatos de trabalhadores, dos intelectuais à vida popular, por uma política de contínua cooptação de seus quadros, lideranças e movimentos sociais, trazendo para o interior da máquina estatal a tudo e todos, dando partida a mais um surto de modernização “por cima”.

Foi essa política regressiva – embora retoricamente, apontasse em direção à mudança – que levou o PT a “mergulhar fundo no sistema”, segundo o autor, a quem ficamos devendo a exploração dos fundamentos da crise que nos ronda, que não necessariamente está fadada a conhecer um final feliz. O diagnóstico ponderado e cuidadoso que o leitor tem em mãos, não tergiversa em sua conclusão: “o PT tornou-se parte da crise”.

Mas sua análise evita o viés idiossincrático: nela está presente o reconhecimento de que “a sociedade brasileira mudou em profundidade” nessas ultimas décadas de modernização, tornando-se “mais dinâmica e mais diferenciada, com mais mobilidade social, novas culturas e novas expectativas”. Os êxitos daí derivados, contudo, longe de legitimar a política dominante, teriam conduzido, em suas palavras, tal como se constata a partir dos acontecimentos de junho, a ultrapassagem do sistema político pela sociedade.

Nesse novo cenário, podem prosperar “visões especializadas”, éticas de convicção, mas não uma política que descubra a saída desse labirinto de ruas em que nos metemos. Com método, largueza de propósitos e equilíbrio, marcas registradas do autor, aí está o mapa que pode nos servir de guia para nos safarmos dele.

Luiz Werneck Vianna, Professor/pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ)

As Ruas e a Democracia
Autor: Marco Aurélio Nogueira
Fundação Astrojildo Pereira / Contraponto
227 páginas

Sobre o autor:
É cientista social, professor titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista – UNESP, em São Paulo

Visões para o futuro - Merval Pereira

O presidente a ser eleito em 2014 já pode contar com um roteiro básico sobre os caminhos a serem percorridos para que o país volte a ter desenvolvimento econômico sustentado, focado em políticas voltadas para a produtividade e a competitividade, para retomar uma expansão anual ao ritmo de 4%. Os economistas Fabio Giambiagi (BNDES) e Claudio Porto (consultoria Macroplan) organizaram o livro “Propostas para o Governo 2015-2018 — Agenda para um País Próspero e Competitivo” (editora Elsevier), com análises e sugestões de políticas e iniciativas de interesse público de 40 especialistas.

Embora apontando os riscos para a economia, os coordenadores evitaram o pessimismo, substituindo-o pela indicação de saídas para situações que persistem no país, em busca de caminhos que possam reforçar a estabilidade macroeconômica: condução mais firme da política fiscal e do aprimoramento do combate à inflação; aumento de investimentos em infraestrutura; elevação da poupança doméstica — com destaque para a poupança pública — e melhoria acelerada de qualidade da educação.

O principal desafio do futuro governo no campo da economia está em elevar a produtividade, segundo os organizadores, que têm um consenso: será fundamental haver liderança política e melhoria da qualidade e solidez das instituições: “Quando conduzido por lideranças com visão de futuro e suportado por instituições confiáveis, os consensos são consolidados na sociedade, e os problemas podem ser superados conclui Claudio Porto.

O livro parte da visão de que o Brasil apenas “flertou” com o desenvolvimento sustentado, mas não deu o passo decisivo, suficiente para conduzir o país a um patamar mais elevado. Fez também menos que o mínimo necessário para se preparar para uma melhor inserção em um mundo crescentemente competitivo. Fabio Giambiagi — em coautoria com Marcelo Kfoury Muinhos — destaca em seu artigo a visão que turva algumas das análises sobre o país: o mito de que o Brasil seguirá crescendo nos mesmos patamares da última década, quando o cenário internacional foi generosamente favorável ao país.

E sublinha que, mais recentemente, o Brasil vem colecionando uma galeria de más notícias, como baixas taxas de investimento e poupança doméstica, investimento público insuficiente, forte crescimento do gasto de custeio público, elevada carga tributária e crescimento do produto potencial inferior às necessidades de cresci-mento mais intenso.

O economista Claudio Porto, que assina outro artigo do livro em coautoria com Adriana Fontes, alerta que, nas condições atuais, o conceito de desenvolvimento não pode mais estar restrito ao crescimento econômico puro e simples. A qualidade do desenvolvimento, segundo ele, tornou-se proeminente e deve ser medida por critérios abrangentes, incorporando aspectos sociais (como a qualidade de vida da população, os níveis de inclusão e distribuição de renda) e a preservação ambiental (com destaque para o uso e a preservação adequada dos recursos da natureza).

Os sinais de gargalos e desequilíbrio que acendem a luz amarela para o Brasil são listados pelos organizadores e extravasam as razões da crise internacional. Partem da inflação, elevada para padrões mundiais, e da baixa produtividade do trabalho, cerca de 20% do americano. Também destacam o grau de abertura do Brasil, um dos menores do mundo: a soma das exportações e importações de bens é da ordem de grandeza de 20 % do PIE, enquanto na China é 70% e no Chile, 80%.

Os autores alertam ainda que o país já se ressente da ausência de um maior esforço e atenção em Educação ao longo de várias décadas. A qualidade do ensino ainda está em um patamar inaceitavelmente baixo. Entre nações emergentes, o Brasil é um dos piores na proporção da população adulta com educação secundária.

O governo a ser eleito em 2014 terá ainda que solucionar um dos mais urgentes temas atuais: a escassez de mão de obra qualificada. A taxa de graduados em engenharia no Brasil é de somente dois por dez mil habitantes, metade da taxa do Chile. E mais: a taxa de crescimento da população em idade ativa está em declínio, e daqui a 20 anos o contingente absoluto desse grupo etário começará a encolher, o que se tornará um constrangimento sério para o crescimento econômico futuro.

PS: Dou uma folga aos leitores. A coluna volta a ser publicada em 5 de novembro.

Fonte: O Globo

Dois bombeiros - Tereza Cruvinel

Lula e Temer não querem uma reprise das escaramuças de 1998 e de 2002 nas convenções do PMDB

Na alianças e nas disputas, quando as coisas se complicam, alguém apela: “Segure os seus radicais que eu vou segurar os meus”. Foi o que combinaram, em almoço na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer, constatando a necessidade de uma freada de arrumação nas escaramuças pré-eleitorais entre petistas e peemedebistas. Acertaram na sobremesa a criação de um grupo de trabalho com três ou quatro de cada lado para coordenar os arranjos nos estados. Quando não for mesmo possível a composição, serão estabelecidas algumas bases e limites da disputa no estado para preservar a aliança nacional.

O que Lula e Temer sabem é que não basta, para a candidatura da presidente Dilma, ter o apoio da maioria das bancadas ou das seções estaduais do PMDB. A aliança terá que ser aprovada em convenção e nenhum deles gostaria de ver a reedição das escaramuças do passado. Em 1998, o partido dividiu-se entre os que queriam apoiar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e os que preferiam Lula ou Ciro Gomes. O ex-presidente Itamar Franco apresentou-se como candidato e foi derrotado, mas a convenção não conseguiu formalizar apoio a ninguém. Em 2002, foi parar no STF a briga para anular a convenção que oficializara o apoio ao tucano José Serra, contra a candidatura do senador Roberto Requião. O apoio formal a Serra garantiu-lhe a vice, Rita Camata, e o tempo de tevê, mas as seções regionais mais importantes apoiaram Lula.

O líder petista escalou-se para fazer a costura que Dilma tem evitado por inapetência, e o PT porque ainda está zonzo com a jogada de Eduardo Campos-Marina Silva. Sabe que Dilma precisa das duas coisas, do apoio formal e do engajamento do partido nos Brasis remotos. O gongo soou diante da ameaça do PMDB do Rio — que controla 15% dos convencionais — de arregimentar forças contra a aprovação da aliança se o PT mantiver a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) a governador, contra o candidato do governador Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, ambos peemedebistas. O Rio é o nervo exposto, mas a fervura está alta também no Maranhão e no Ceará, afora estados onde nem se cogita composição, como Bahia e Rio Grande do Sul. Esta semana, Lula e Dilma ligaram para o ex-presidente José Sarney depois de notícias dando conta de que o PT maranhense já decidira apoiar o candidato do PCdoB, Flávio Dino. Nada resolvido, garantiram os dois, acalmando o leal e indignado aliado. No Ceará, depois que os irmãos Gomes deixaram o PSB para ficar com Dilma, o PT enfrenta a tentação de jogar ao mar a candidatura do líder peemedebista no Senado, Eunício Oliveira. Se essas três seções, ressentidas com a rejeição petista, forem à guerra na convenção, podem fazer estrago.

Enquanto isso, o presidente do PSDB e senador por Minas Gerais, Aécio Neves, percorre o país criticando a política econômica para levar o tema ao debate eleitoral, e a coligação PSB/Rede diverte a plateia fingindo que Marina Silva poderá ser candidata.

Duas viagens audiovisuais
A coprodução da série de documentários O Dia que durou 21 anos foi um dos projetos mais caros e significativos para os que estiveram comigo na presidência inaugural da EBC/TVBrasil (2007-2010). Concebido e dirigido por Camilo Tavares e ancorado na experiência e na consultoria de seu pai, o jornalista, ex-preso político e exilado Flávio Tavares, a obra resgata, com imagens, áudios e depoimentos inéditos, a gênese do golpe de 1964 e a participação dos Estados Unidos na queda do Brasil na ditadura. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff promoveu a obra para um público restrito no Palácio da Alvorada, valorizando a restauração da memória, que ela instituiu criando a Comissão da Verdade, e também graças à capacidade realizadora dos documentaristas e o papel da televisão pública em iniciativas educativo-culturais.

O documentário mostra as articulações golpistas de políticos, empresários e militares brasileiros e os laços com a Casa Branca, que tinha como principal operador o embaixador no Brasil, Lincoln Gordon. Ainda em 1962, o então presidente John F. Kennedy, num áudio obtido pelos produtores, dá-lhe o sinal verde para apoiar ações contra o presidente João Goulart. Os dólares correm em apoio à eleição de candidatos da oposição e outras ações desestabilizadoras. Morto Kennedy, o presidente em 1964 era Lyndon Johnson. Em conversa telefônica gravada com o subsecretário de Estado, George Ball, ele autoriza o envio de uma força naval para a costa brasileira, em apoio ao golpe. Não precisou ser usada. Foi a Operação Brother Sam.

Essas e outras provas foram obtidas com a abertura dos documentos relativos às presidências Kennedy/Johnson, entre outras fontes. A poderosa memória jornalística de Flávio Tavares vai pontuando o “antes” e o “depois”. Camilo, que nasceu no México, quis resgatar o que viveu e não compreendeu numa infância atribulada, mas serve essencialmente à verdade.

Vozes D"África
Para encurtar as distâncias com a África, não basta ao Brasil ajudar seus povos ou estimular investimentos. O Brasil precisa também conhecer melhor o continente que forneceu importantes pilares étnicos, econômicos e culturais de sua formação. A TV Bandeirantes estreou ontem Presidentes africanos, série de entrevistas conduzidas por Franklin Martins, em sua volta ao vídeo como repórter e entrevistador, sob a direção de Carlos Nascimbeni e Carlos Alberto Junior. A produção é do Cine Group, única produtora brasileira com filial na África, onde atua há seis anos. Na primeira fase, serão exibidos episódios com José Eduardo dos Santos (Angola), Jacob Zuma (África do Sul), Armando Guebuza (Moçambique), Goodluck Jonathan (Nigéria) e Joseph Kabila (República do Congo). Desse primeiro conjunto (pois o projeto pretende cobrir todos os países), jorram informações sobre as mudanças que vêm acontecendo numa África que cresce a taxas elevadas, ampliando a democracia e despertando cobiças russas e chineses. Nas passagens, Franklin leva o telespectador para a viagem, com mapas, gráficos, imagens do passado e as belas paisagens africanas.

Fonte: Correio Braziliense