sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A ‘guerra psicológica’ de Dilma: Balança comercial fecha 2013 com o pior saldo em treze anos

Saldo de exportações e importações ficou positivo em US$ 2,5 bilhões no ano passado

Manobra contábil do governo evita déficit de US$ 5 bilhões

Martha Beck, Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA - A balança comercial brasileira encerrou 2013 com um superávit de apenas US$ 2,561 bilhões, pior resultado desde o ano 2000 e 86% inferior ao saldo de US$ 16,4 bilhões do ano anterior. O fraco desempenho se deve à combinação de uma queda da produção nacional de petróleo e derivados e do aumento do consumo de combustíveis no país, o que reduziu as exportações e elevou as importações desses produtos. Assim, a chamada conta petróleo registrou um déficit recorde de US$ 20,3 bilhões.

O resultado da conta petróleo só não foi pior por causa de uma manobra contábil do governo também no setor de petróleo. Na conta das exportações, que fecharam 2013 em US$ 242,178 bilhões, foram incluídas as vendas de sete plataformas de petróleo, que somaram US$ 7,736 bilhões. Embora tenham sido construídas no Brasil, foram vendidas a empresas estrangeiras (algumas subsidiárias da Petrobras) e depois alugadas pela própria estatal. Mesmo não envolvendo uma saída efetiva de mercadorias do país, as operações são contabilizadas como exportações.

Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, os dados mostram que o Brasil continua fortemente dependente das exportações de commodities, o que deve se repetir em 2014. Ele estima que a balança terá superávit de US$ 7 bilhões este ano, mas o resultado dependerá de uma eventual alta nas exportações de petróleo:

— Algumas das plataformas que ficaram paradas em 2013 já voltaram a produzir, o que vai aumentar a oferta e as vendas ao mercado externo. Isso deve ajudar na balança.

O economista Armando Castelar, professor da FGV e da UFRJ, afirma que, sem a “exportação de papel” das plataformas de petróleo, o ano teria déficit de uns US$ 5 bilhões. Por outro lado, diz, o resultado foi prejudicado pelo registro, em 2013, de quase US$ 5 bilhões em importações de petróleo e derivados, feitas em 2012.

— Uma das coisas que me preocupa é o déficit da conta petróleo, que passou de US$ 20 bilhões. O preço da gasolina está subsidiado, e as pessoas continuam consumindo de forma excessiva. Ao menos até as eleições, a gasolina tende a subir menos que a inflação e que a correção dos salários — diz, lembrando que o preço dos produtos brasileiros caiu 12%, em dólar, nos últimos dois anos.

Apesar do fraco desempenho da balança, o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, comemorou. Segundo ele, foi positivo o fato de o país ter conseguido registrar exportações elevadas e ter aumentando as importações de itens como bens de capital, bens intermediários e insumos em geral. Em 2013, as compras de outros mercados atingiram US$ 239,617 bilhões, com alta de 6,5% sobre 2012.

— Houve um aumento de importações utilizadas nos investimentos no país. Somos contra importações desleais, ilegais. Mas temos que comemorar esse resultado de importações de insumos

— disse, destacando a corrente de comércio do país, que ficou em US$ 481,795 bilhões.

Secretário: resultado é conjuntural
Godinho disse que o saldo comercial nesse montante é conjuntural e tem todos os elementos para se recuperar:

— Sempre buscamos saldos comerciais elevados, mas eles são incompatíveis com a forte retomada dos investimentos. Importações assim são importantes.

Para 2014, o secretário preferiu não falar em números, alegando incertezas. Segundo ele, embora haja uma expectativa de aumento da produção nacional de petróleo e grãos e de um câmbio mais favorável às exportações, existem dúvidas sobre o nível de recuperação das economias americana e europeias, além de uma tendência de menor crescimento da China. Além disso, o mercado espera uma queda nos preços de commodities agrícolas. Ele disse que as exportações devem se manter em patamar próximo ao dos últimos três anos e que o saldo comercial deve ser positivo:

— Se eu pudesse apostar, apostaria em superávit (para 2014).

Os dados divulgados mostram que, embora as exportações tenham recuado 1% em relação a 2012, houve recorde nas vendas externas de vários produtos, como automóveis, cujas vendas somaram US$ 5,48 bilhões, com alta de 46,1% no mesmo período. Segundo o ministério, essa alta se deve ao aumento das exportações para a Argentina. Também bateram recorde as vendas de produtos básicos, de soja em grão (US$ 22,8 bilhões), farelo de soja (US$ 6,78 bilhões), carne bovina (US$ 6,66 bilhões) e milho (US$ 6,3 bilhões).

Isolamento nacional
O fraco desempenho das exportações brasileiras, com impacto no saldo comercial de 2013, evidencia o isolamento do país no comércio global. Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada, o país está pagando o preço de estar associado ao Mercosul e, assim, não ter realizado novos tratados comerciais. Ele lembra que a situação argentina é um dos pontos que mais preocupa os exportadores brasileiros.

— Sofremos com os problemas de grandes parceiros tradicionais, como a Argentina e a União Europeia e, sem acordos, não estamos conquistando novos mercados para nossos produtos — disse ele, lembrando que, sem a artimanha das exportações “de papel” de plataformas de petróleo da Petrobras para subsidiárias no exterior, o Brasil teria registrado déficit no ano passado.
Mas ele espera um resultado um pouco melhor este ano:

— Esperamos para 2014 um superávit de US$ 8,2 bilhões, obtidos com exportações de US$ 248,4 bilhões e importações de US$ 240,3 bilhões, em patamar muito próximo ao deste ano. A alta do dólar deve frear o aumento das importações, mas não tende a alavancar tanto as exportações, que sofrem com a falta de competitividade do país — diz o especialista.

Fonte:O Globo

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