quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Luiz Carlos Azedo: Bons e maus acordos

Um velho ditado na política diz que um bom acordo é aquele no qual todos reclamam, mas ninguém pode romper. Esse é o ponto de liga da negociação entre a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do PMDB fechada na noite de segunda-feira com o vice-presidente Michel Temer, mas que ainda provoca muito ranger de dentes na legenda. Os líderes do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (CE), não tiveram os pedidos contemplados e o problema com os dois foi terceirizado: caberia aos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL), acalmar os dois caciques.

Pelo acordo, o senador Vital do Rêgo (PB) assumiria a Secretaria de Portos em vez do Ministério do Turismo, pasta liberada pela volta do deputado Gastão Vieira (MA) para a Câmara. O Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje controlado pelo novo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, serviria para remover a candidatura do senador Eunício Oliveira ao governo do Ceará, mas ele já avisou que não está interessado na proposta. O deputado Eliseu Padilha (RS), que havia sido indicado para a Secretaria de Portos, foi para o espaço, com o Ministério da Integração Nacional, que era pleiteado por Vital do Rêgo, mas já está na cota dos irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros).

Eduardo Cunha está estrilando, mas Eunício é bom cabrito. O PMDB não romperá com o governo por causa disso. O contencioso com Dilma Rousseff e o PT será cozinhado em fogo brando, nas disputas regionais, nas quais o partido costuma dar o troco quando pode. Eunício é candidato ao governo do Ceará e não abre; se não receber o apoio do PT, vai para a disputa como franco-atirador. Cunha apoia a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) à sucessão de Sérgio Cabral (PMDB) no Palácio Guanabara. As negociações com o PMDB no Senado e na Câmara para aprovação das matérias de interesse do Palácio do Planalto ficarão mais difíceis; é o velho toma lá dá cá.

No mais, a reforma ministerial segue o curso chinfrim. Depois de acomodar o PT e o PMDB, e garantir o Ministério da Integração para os irmãos Gomes, a novidade será a entrega do Ministério do Turismo para o presidente do PTB, o ex-deputado Benito Gama. Se houver alguma emoção, será por conta das frituras dos ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, e da Fazenda, Guido Mantega, pela própria bancada do PT.

Pomo da discórdia
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), divulgou ontem as diretrizes de seu programa de governo, elaboradas em comum acordo com Marina Silva, líder da Rede. O ato incorporou o PPS, de Roberto Freire, à coalizão. Ainda não foi dessa vez que a chapa Eduardo Campos–Marina Silva foi anunciada, mas a afinidade política entre os dois passou a ser maior depois do documento. O pomo da discórdia no bloco PSB-Rede-PPS, porém, continua sendo a questão eleitoral de São Paulo. A Rede defende uma candidatura própria, os dirigentes do PSB estão divididos e o PPS apoia a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Jus esperneandis petista
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, expediu ontem o mandado de prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha. De todos os condenados, foi o mais desaforado com o presidente do STF. Pegou 9 anos e 4 meses por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva em regime fechado, porém deverá cumprir inicialmente a pena de 6 anos e 4 meses no semiaberto, que dá direito a trabalho externo durante o dia. Tem um recurso pendente em relação à pena de lavagem, cuja punição é de três anos. Ao contrário de outros parlamentares condenados na Ação Penal 470, João Paulo não pretende renunciar ao mandato. A cassação terá que ser submetida ao voto aberto do plenário da Câmara. O PT ataca duramente Barbosa e cria constrangimentos para a Câmara e o próprio STF.

Outro "apagão"
Faltou energia nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste — Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso Sul — e Tocantins, no Norte do país, ontem. O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, atribuiu o problema a um curto-circuito numa linha de transmissão, e não à queda do nível dos reservatórios das hidrelétricas por falta de chuva. Se tem um assunto no qual a presidente Dilma Rousseff não poderia pisar na bola é energia.

Fonte: Correio Braziliense

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