segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Por mais tempo na TV, Campos atua para tirar PP da base de Dilma

Murillo Camarotto e Cristiano Zaia

RECIFE e BRASÍLIA - No intuito de reforçar sua candidatura presidencial nos Estados e, se possível, aumentar seu tempo no programa eleitoral de rádio e televisão, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), está trabalhando para tirar o PP da base de sustentação do Palácio do Planalto. Campos e o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), têm conversado com frequência e jantaram no mês passado no município de São Lourenço da Mata, onde foi construído o estádio que receberá os jogos da Copa do Mundo em Pernambuco.

O encontro foi intermediado pelo prefeito da cidade, Ettore Labanca (PSB), que tem livre acesso a Campos e é amigo do deputado federal Eduardo da Fonte, eleito em 2010 com a maior votação de Pernambuco e líder do PP na Câmara. Parte das negociações envolviam a indicação do parlamentar para a disputa pelo Senado na chapa que será encabeçada pelo PSB em Pernambuco. A vaga, no entanto, acabou ficando com o ex-ministro Fernando Bezerra (PSB).

Isso não quer dizer que as negociações estejam encerradas. Outras alianças estaduais, como no Rio Grande do Sul, estão apalavradas, e um eventual acordo nacional ainda está na pauta. Ocupante do Ministério das Cidades, o PP segue por enquanto ao lado da presidente Dilma Rousseff, mas Eduardo da Fonte tem um encontro marcado para a segunda quinzena de março com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem espera ouvir qual será o espaço dedicado ao PP na coligação nacional.

Segundo informou uma fonte que preferiu não ter seu nome publicado, o presidente nacional do PP disse recentemente ao governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), que a vontade de apoiar Campos estava "no corpo todo", mas que as circunstâncias o impediam. Ciro Nogueira indicou a esposa, a deputada federal Iracema Portela (PP-PI), para candidata a vice-governadora do senador Wellington Dias (PT), que vai tentar voltar ao governo do Piauí.

Paralelamente à negociação nacional, PSB e PP trabalham em acordos estaduais. No sábado, em Porto Alegre, Campos participou do seminário regional da coligação de seu partido com o Rede Sustentabilidade e o PPS, mas, em uma agenda paralela, reforçou o apoio à candidatura da senadora Ana Amélia (PP-RS) ao governo gaúcho.

O PSB oferece o nome do deputado federal José Stedile (RS), irmão do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, para candidato a vice de Ana Amélia. Em troca, o PP apoiaria candidaturas do PSB à Câmara, como a do atual vice-governador do Rio Grande do Sul, Beto Grill.

A costura vem sendo feita há meses pelo deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos principais estrategistas da candidatura presidencial de Campos. "Estamos conversando com o PP onde há afinidades e queremos essa coligação nos Estados", afirma o parlamentar.

Ana Amélia, por sua vez, se limita a dizer que as conversas têm sido cada vez mais frequentes, apesar de admitir que o PP gaúcho também foi procurado pelo PSDB para apoiar a candidatura presidencial do senador mineiro Aécio Neves. "No cenário gaúcho, a posição é não apoiar a presidente Dilma [Rousseff], e o acordo com o PSB, neste e em outros palanques, não está descartado", disse Ciro Nogueira.

Apesar do alinhamento nacional com o PT, o presidente do PP liberou as negociações estaduais. No Piauí, onde Nogueira é mais conhecido, o entendimento é que ele pode comandar a operação de abandono do barco petista a qualquer momento. "Basta ele ver que começou a entrar água e pula fora", disse uma pessoa com trânsito no meio político piauiense.

Excluído da chapa majoritária em Pernambuco, o PP deve lançar a vereadora do Recife Michele Collins, ligada à comunidade evangélica, para o governo estadual, em uma aliança com o Pros. Eduardo da Fonte vai disputar novamente a Câmara, no intuito de obter uma votação expressiva o suficiente para carregar outros parlamentares do partido. O PP quer eleger 55 deputados federais. Hoje são 40.

A aproximação com o PP encontra resistência entre os atuais aliados de Campos (Rede e PPS). Em uma campanha publicitária recente, por exemplo, Ciro Nogueira disse que o PP assumia publicamente o caráter conservador da legenda.

Repercutiu mal entre os militantes do Rede Sustentabilidade um vídeo no qual o deputado federal gaúcho Luís Carlos Heinze (PP) diz a produtores rurais que quilombolas e índios representam "tudo que não presta". Dirigentes do PPS veem com ressalva o fato de o PP ter em seus quadros lideranças identificadas com a extrema direita, como o deputado Jair Bolsonaro (RJ). (Colaborou Fabio Brant, de Brasília)

Fonte: Valor Econômico

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