domingo, 23 de fevereiro de 2014

Tereza Cruvinel: Marina de vice e outros movimentos

"Depois do carnaval, Marina Silva será oficializada como candidata a vice, permitindo aferir a capacidade de transferir votos para Eduardo Campos"

Os blocos já estão na rua, a vida institucional abre alas para o carnaval passar. Logo depois, devem ocorrer alguns movimentos político-eleitorais que precisam acontecer antes que tudo comece a ser dominado pelo clima de Copa. Um deles será a oficialização da ex-senadora Marina Silva como candidata a vice na chapa de Campos. Na semana passada, ela confidenciou a alguns companheiros da Rede já ter "batido o martelo mental" nesse sentido. Como é sabido, essa possibilidade foi aberta por Eduardo lá atrás, em outubro, quando Marina e seu grupo ingressaram no PSB, no limiar do prazo legal para a filiação partidária de candidatos. O que estava pendente era apenas a decisão pessoal dela, agora já tomada, a não ser que surja algum imponderável, ela ressalvou.

O anúncio não tem data marcada, mas é para breve. A partir dele e das pesquisas, será possível conferir a capacidade de Marina de transferir para Campos as intenções de voto que faziam dela a segunda candidata mais votada. Em setembro, na pesquisa CNT-MDA, por exemplo, Dilma Rousseff era preferida por 36,4% e ela, por 22,4%. Em alguns momentos e cenários, Marina chegou ao empate técnico com a presidente no segundo turno. Com a decisão, diz um articulador da Rede, Marina e seu grupo buscam equilibrar as forças dentro da coalizão informal com o PSB para evitar alianças com setores que consideram nefastos à pregação da "nova política" e conter a aproximação entre Eduardo e o tucano Aécio Neves, que voltaram a se encontrar na sexta-feira, no Recife, quando esboçaram promessas de apoio recíproco no segundo turno. 

Os socialistas, por sua vez, não escondem o esforço para evitar atritos na montagem dos acordos regionais. Afora o veto à aliança com Geraldo Alckmin em São Paulo, a Rede vem se opondo ao apoio do PSB à candidatura da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao governo do Rio Grande do Sul, por conta das ligações dela com o agronegócio. A Rede insiste na candidatura do deputado socialista Beto Albuquerque, que Campos escalou para concorrer à Câmara como puxador de votos para a bancada. Desdobramentos, depois do carnaval.

Dilma e os aliados
Outro que se encontrou com Eduardo Campos na semana passada foi o presidente do PDT, Carlos Lupi. Segundo disse aos pedetistas, apenas para discutir alianças regionais, pois sua disposição, condicionada à aprovação do partido, é de apoiar Dilma. Entretanto, o PDT ressente-se do pouco valor que ela e o PT deram ao apoio pedetista em 2010, e alguns grupos inclinam-se pelo apoio a Campos.

 Em uma coligação todos são importantes, mas, para Dilma, o PMDB é fundamental: é o partido do vice, é hegemônico no Congresso, tem capilaridade nacional e caciques que ainda controlam verdadeiros colégios eleitorais. O bloco "anti-Dilma" de nove partidos governistas que está sendo criado sob a liderança do PMDB é uma contradição nos próprios termos. Como são todos aliados, só podem estar tentando arrancar da presidente concessões fisiológicas a que ela resiste, numa expressão de suas melhores virtudes. Falta-lhe, entretanto, a habilidade de Lula para dizer "não" falando "sim". 

Ainda que o objetivo de tal bloco seja arrancar nacos de poder, ele pode ter desdobramentos eleitorais, com os quais Dilma não deveria brincar. As pesquisas estão mostrando oscilação negativa, ainda que ligeira, na avaliação de seu governo, há trepidações na economia e esse clima de revolta odiosa e difusa, com focos variados, que vão da Copa ao ônibus atrasado.

O topo e a base
Muitas das viagens internas que Dilma tem feito são para participar de formaturas do Pronatec, o programa de capacitação e ensino técnico executado para o governo pelas escolas do Sistema S (Sesi, Senac, Senat) e escolas federais. Pouco se fala, e a oposição presta pouca atenção, ao público alcançado por ele. O alvo principal são jovens que cursam o segundo grau e adultos que já trabalham, mas Dilma reservou 1 milhão de vagas para os beneficiários do Brasil sem Miséria, incluídos aí os do Bolsa Família. A meta devia ser cumprida até o fim deste ano, mas, neste mês de fevereiro, inscritos e formados já somam 950 mil. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, que anteontem estava em Eunápolis (BA) para novas formaturas na cidade, vai requisitar mais vagas para os cursos, que vão de costura, eletricista ou auxiliar de cozinha a inglês básico e informática. As mulheres representam 76% de inscritos ou formados.

O programa responde à cobrança por uma porta de saída para os beneficiários do Bolsa Família, mas a ministra destaca outro aspectos. "A alta demanda pelos cursos é uma indiscutível resposta ao preconceito contra os pobres, especialmente os do Bolsa Família. Desmonta mitologias, como a de que são preguiçosos e não querem trabalhar. Todos esses que buscam se capacitar estão nos dizendo que querem ser incluídos num país cada vez mais produtivo, porém mais justo", diz ela.

As políticas sociais, que incluem ações menos visíveis como essa, é que estão garantindo a Dilma a condição de favorita na disputa presidencial, como demonstrou a pesquisa Ibope/Estadão: ela perde no topo da pirâmide, mas ganha, de longe, entre os de menor renda e escolaridade. A classe média faz mais barulho, mas os pobres são mais numerosos.

A desconfiança sobre favorecimento aos estados e municípios governados pelo PT é óbvia, mas a ministra rebate com dados: o estado com maior número de inscritos é o Rio Grande do Sul, de Tarso Genro, seguido por Minas, governada pelo PSDB. O município campeão é Salvador, governado pelo demista ACM Neto, seguido por Maceió, governado pelo PSDB. Mas seja qual for a cor da terra, a semeadura dá voto. Dilma continuará indo a formaturas.

Fonte: Correio Braziliense

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