terça-feira, 11 de março de 2014

Bachelet assume Presidência do Chile com meta de reduzir desigualdade e reformar educação

Gabinete será integrado por 23 ministros e subsecretários, dos quais nove serão mulheres

Janaína Figueiredo

BUENOS AIRES. A socialista Michelle Bachelet assumirá nesta terça-feira, pela segunda vez na História do Chile, a Presidência do país com dois objetivos centrais: reduzir a desigualdade social e reformar a educação. Essas serão, segundo admitiu a própria Bachelet em recente entrevista ao “The Washington Post”, suas prioridades, em meio a um clima de forte pressão dos movimentos estudantis e sociais em geral. Durante a campanha de 2013, a nova presidente chilena, eleita no segundo turno de dezembro passado com mais de 60% dos votos, prometeu enviar ao Parlamento um ambicioso projeto de reforma educacional, que inclua a gratuidade, principal bandeira dos estudantes chilenos. Em seu primeiro mandato, entre 2006 e 2010, Bachelet enfrentou a chamada rebelião dos pinguins, quando milhares de estudantes participaram de protestos em todo o país para exigir livre acesso à educação. A reforma não tornou-se realidade por falta de apoio no Parlamento e hoje representa o maior desafio da nova presidente do Chile.

Bachelet também se comprometeu a reformar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), o sistema tributário e de saúde, entre outras iniciativas. “Pinochet fez uma Constituição que deixou muita estagnação, para não mudar nada. Para reformar a educação é preciso ter uma maioria expressiva que é impossível com este sistema (político, previso na Carta Magna)”.

Perguntada, justamente, sobre a necessidade de negociar apoios parlamentares, a nova presidente mostrou-se otimista: “trabalharemos com eles (os opositores) de tal maneira que se estão de acordo, podamos conseguir os votos... os votos requeridos pela Constituição”.

Mas este início de governo não está sendo fácil para a líder socialista. Nas últimas semanas, Bachelet teve de modificar o nome de quatro de seus colaboradores, por críticas internas. Uma das afastadas foi Claudia Peirano, que fora designada como subsecretária de Educação, por resistência dos movimentos estudantis, que a acusaram de estar contra o projeto de gratuidade.

— Quero dizer que Claudia Peirano é uma profissional de excelência reconhecida nacional e internacionalmente, especialista em temas de educação. Esteve participando na construção do programa desde o primeiro dia e compartilha plenamente os princípios da reforma — declarou Bachelet, em fevereiro passado.

Mas os questionamentos foram intensos e Peirano renunciou antes de assumir. A nova presidente perdeu quatro colaboradores, por diferentes motivos. A última em desistir de ocupar um cargo no novo governo foi Carolina Echeverria, que fora escolhida para ser subsecretaria das Forças Armadas.

Organizações de defesa dos direitos humanos acusaram o pai de Echeverria de estar vinculado a casos de violações dos direitos humanos durante a ditadura. Já Miguel Moreno e Hugo Lara, nomeados como subsecretários de Bens Nacionais e Agricultura, respectivamente, foram questionados por problemas judiciais.

O gabinete de Bachelet estará integrado por 23 ministros e subsecretários, dos quais nove serão mulheres. Pela primeira vez, desde o governo de Salvador Allende (1970-1973), um representante do Partido Comunista estará no governo. Será Claudia Pascual, ex-vereadora do PC, que comandará o Serviço Nacional da Mulher.

Nesta terça, Bachelet receberá a faixa presidencial de outra mulher, a senadora socialista Isabel Allende, filha do ex-presidente, escolhida para presidir o Senado do país. A cerimônia contará com a presença dos principais chefes de Estado da região, que aproveitarão o evento para participar de uma reunião da União de Nações Sul-americanas (Unasul), convocada para discutir a crise venezuelana.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, adiou por algumas horas sua chegada a Santiago, que era esperada para a tarde de ontem. O atraso obrigou o Palácio de la Moneda a cancelar uma bilateral entre Maduro e Bachelet.

_ Seremos uma oposição leal, construtiva e pronta para dialogar, buscando sempre acordos que sejam bons para o Chile _ declarou o presidente Sebastián Piñera, que a partir desta terça será um dos líderes da oposição.

Fonte: O Globo

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