segunda-feira, 17 de março de 2014

Campos: governo Dilma dá cargos ‘como se estivesse distribuindo bananas ou laranjas’

O pré-candidato do PSB à sucessão presidencial esteve na região agreste de Pernambuco

Letícia Lins

SURUBIM (PE) — Depois de dizer, na semana passada, que o Brasil não aguenta mais quatro anos com Dilma Rousseff, o pré-candidato do PSB à sucessão presidencial, Eduardo Campos (PSB), afirmou no domingo que a presidente "não deu conta de melhorar o Brasil" e acusou o governo de estar "distribuindo cargos como se estivesse distribuindo bananas e laranjas". Ele fez os comentários durante entrevista coletiva e em discurso para cerca de 400 pessoas, em Surubim, na região agreste de Pernambuco. Campos esteve na cidade para cumprir a Agenda 40, como vem sendo chamada a lista de compromissos da chapa majoritária estadual.

- O presidente Lula fez o que pôde fazer. Sequenciou com sabedoria e inteligência as conquistas que encontrou do governo que o antecedeu. E todos nós entregamos à sua excelência, a presidente, a chance para que ela fizesse o Brasil seguir mudando e melhorando. Mas o que aconteceu é que ela não soube fazer o que estava predestinada, encarregada de fazer. E nós não podemos deixar o Brasil derreter na inflação, no populismo, entregando cargos como se estivesse distribuindo bananas ou laranjas - criticou Campos.

Em discurso claro de pré-candidato ele disse não temer o fato de ainda não ser conhecido no Brasil.

- Quem sabe fazer tabuada, sabe fazer a conta. Hoje só 30% do povo brasileiro me conhece.

E o mínimo com que apareço nas pesquisas é com 12%. Façam a regra de três. Daqui até o dia 5 de outubro, 100% vai conhecer (o candidato). Nós vamos bater, onde vocês sabem que devemos bater. Porque posso dizer que a estrada de onde viemos até aqui, foi muito mais difícil do que a estrada onde vamos chegar - afirmou, em alusão à sua primeira campanha para o Palácio do Campo das Princesas, que iniciou com apenas 3% da preferência do eleitorado.

Eduardo Campos ressaltou ainda que o povo brasileiro sabe que quer mudanças, embora ainda desconheça "nomes e ideias", mas acredita que isso não será difícil quando tiver início a "segunda etapa" da campanha, com uso de rádio e TV. Campos participou de compromissos em outros dois municípios (Gravatá e Bonito), mas foi em Surubom que manteve agenda política, voltada para a discussão de prioridades para a sucessão estadual. No local, foi saudado como "presidente" diversas vezes.

No percurso pela rodovia que conduz ao município de Surubim - distante 130 quilômetros da capital - outdoors traziam recados da população e da gestão municipal para o Campos: "Você começou a fazer o necessário, o que era possível e de repente fez até o impossível com o apoio do povo de Pernambuco. Obrigada, Pernambuco te ama e o Brasil te quer", dizia um deles. Em outros, a prefeitura agradecia o Fem (Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal), criado pelo governador, para ajudar a tirar do sufoco municípios, mesmo que estejam inadimplentes. O repasse dispensa a formalidade de convênios.

Apesar das críticas à presidente, ele afirmou não ter nada pessoal contra a petista:

- Todos conhecem a forma que temos de fazer política. Sempre fiz política respeitando as pessoas. Tenho respeito pela presidente enquanto pessoa e enquanto quadro político. Mas tenho o direito, enquanto brasileiro, de colocar minhas opiniões. Eu vejo muita gente do PT, inclusive nas disputas internas, falar mais coisas da Dilma de um jeito muito mais duro do que as críticas que faço. As que faço são calcadas em fatos concretos. Qual fato concreto? Ela recebeu o país das mãos do presidente Lula para melhorar nossa situação e não deu conta de melhorar o Brasil. E nós estamos correndo um sério risco de poder desconstruir conquistas que foram feitas - disse.

Campos declarou ainda que o PT não tem porque repreender as suas críticas.

- Em hora nenhuma, nós colocamos que o debate deles estava errado, que era inadequado.

Em outros momentos, as críticas não foram da forma que estamos fazendo. A gente precisa ter tranquilidade. O país quer um debate sobre o seu futuro. o Brasil deseja preservar conquistas e ir além. O Brasil deseja um ambiente de unidade, em torno de ideias que toquem o povo e que possam melhorar a vida. Isso vai acontecer. Vamos fazer com tranquilidade. E espero que essa mesma tranquilidade acompanhe os outros para que a gente possa fazer debate objetivo, sereno e respeitoso com a sociedade brasileira. Estamos muito animados - garantiu o governador.

Ao ser indagado sobre a previsão feita pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura, segundo o qual o governo vai gastar R$63 bilhões em subsídios para o setor de energia até a eleição, o governador afirmou:

- Ontem (sábado) em atividade no Rio de Janeiro, no seminário programático da Rede-PSB-PPS chamei a atenção que em 2012, para toda a educação - e esta é uma prioridade no discurso de todos, e todos sabem que é estratégica - o Fundeb recebeu da União para todos os municípios, para todos os estados, para a educação fundamental da creche ao ensino técnico, R$10,4 bilhões. Agora se está colocando R$ 63 bilhões nessas contas que vocês acabam de falar. Como brasileiro, como cidadão, eu torço para que pessoas tomem providências que têm que tomar, e não que fiquem jogando os problemas para depois da eleição - disse, referindo-se 'aquela estimativa, levantamento publicado no jornal “Folha de São Paulo” de domingo.

E voltou a insistir em exemplos anteriores, que ele vem citando todas as vezes que cobra providências urgentes para melhorar o desempenho da economia, a exemplo do que havia feito no meio da semana passada.

- O Brasil já viveu esse tipo de situação quando o cruzado foi mantido artificialmente para depois estourar em 1986. Eu vi o câmbio fixo ser mantido até depois da eleição, em 1998. E na sequência da eleição, uma semana depois, o Brasil viveu outra realidade econômica. Acho que nesse momento, em nome do que construímos juntos pelo Brasil, não podemos eleitoralizar esse debate. Não podemos dividir o Brasil em determinadas matérias, em quem é governo e quem é contra, e nós precisamos tomar atitudes que temos que tomar, disse.

E acrescentou:

- Nós não estamos no governo, a quem cabe tomar as atitudes. E espero que o governo não eleitoralize suas decisões e tome decisões 'a altura da responsabilidade que o governo tem com uma nação do tamanho do Brasil. E essas decisões não podem ser postergadas, para que possamos minorar os danos. Eles já estão feitos, e o setor elétrico vive momentos de graves dificuldades, alertou, lembrando que o setores eram um dos mais estruturados do Brasil, inclusive com "muita competência técnica".

Eduardo Campos lembrou que a Petrobras perdeu metade do seu valor patrimonial nos últimos três anos.

- Desejamos que o governo não deixe para depois o que já devia ter sido feito há alguns anos atrás, disse. Ele esteve sempre acompanhado do candidato 'a sucessão estadual, Paulo Câmara. Do candidato ao Senado, Fernando Bezerra Coelho e também do candidato a vice governador, Raul Henry (este do PMDB).

Fonte: O Globo

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