quinta-feira, 6 de março de 2014

Greve de servidores no Rio ameaça mais adesões

Guilherme Serodio

RIO - Com seis dias de duração e um saldo de toneladas de lixo acumulado nas ruas, a greve de garis deve permanecer no Rio graças à falta de diálogo entre os trabalhadores e a Comlurb - a companhia municipal de limpeza urbana - e a prefeitura. A paralisação respinga no prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), criticado por garis e políticos da oposição por omissão e por demissões de grevistas. Depois de evitar comentar o problema durante todo o Carnaval, ontem o prefeito negou que a cidade esteja vivendo uma greve.

Os trabalhadores da Comlurb guardaram suas vassouras no sábado, em pleno Carnaval. Eles reivindicam reajuste salarial dos atuais R$ 800 para R$ 1.200 e o pagamento de horas extras no fim de semana. Abandonados pelo sindicato - ligado à UGT -, que aceitou a proposta de reajuste de 9% após uma reunião a portas fechadas com a Comlurb, no sábado, os garis permanecem nas ruas de braços cruzados.

De acordo com a Comlurb, o acordo assinado eleva o piso para R$ 874,79 e prevê 40% de adicional por insalubridade, subindo o contracheque inicial para R$ 1.224,70.

"O sindicato anunciou que aceitava os 9% de reajuste sem fazer uma assembleia. Esse 9% não é um aumento, é o IPCA [reposição da inflação]. Eles pensam que o gari é bobo", afirmou André da Conceição, que participou ontem de protesto em frente à Comlurb com cerca de 400 garis. Eles receberam a proposta de encerrar a greve em troca da readmissão de 300 grevistas demitidos.

A cidade permanece com as ruas tomadas de lixo. Os grevistas tentam impedir colegas de trabalhar na limpeza do lixo acumulado e afirmam que entre 70% e 80% da classe estão parados. Eles negam influência política e criticam a ação do sindicato.

"O sindicato não é do gari, é da Comlurb. Não me representa", criticou o gari Márcio Mendes. "A greve não tem ninguém de partido, aqui não tem política. Política tem dentro da Comlurb, onde botam quem querem pela janela", disse.

Nos próximos dias, a greve deve afetar também escolas municipais. Agentes de preparo de alimentos - cozinheiros que fazem a merenda escolar - representados pelo mesmo sindicato, dizem que não receberam reajuste de igual valor, mas de só 5,6%. Os cozinheiros prometem greve a partir de segunda-feira, fim do recesso escolar.

Esta é a segunda paralisação de grandes proporções de uma categoria em seis meses. A greve expõe Paes, que não teve sucesso em dialogar com professores na greve de 77 dias em 2013. Na época, o prefeito acusou o sindicato dos professores de representar interesses políticos. Ontem, depois de reunir-se a defensoria pública, Paes afirmou que "a absoluta maioria dos garis está indo ao seu local de trabalho". "Não estamos vivendo uma greve. A Comlurb está trabalhando. Temos o motim de um grupo e ainda quero entender os motivos", disse. O prefeito afirmou que há casos de violência na ação dos grevistas e disse que os cerca de 300 caminhões de coleta de lixo serão escoltados por empresas de segurança privada. "A absoluta maioria está vindo trabalhar e vai ter que trabalhar escoltada para se proteger de gente mal intencionada e estranhamente bem estruturada".

Paes disse que a polícia prendeu ontem quatro pessoas que estariam envolvidas em atos para pressionar garis que estavam trabalhando e afirmou que os funcionários que voltarem hoje ao trabalho terão as demissões suspensas. Segundo o prefeito, os garis "estão sendo coagidos" para não trabalhar. "Quem coage não pode ser chamado de outra coisa que não delinquente".

A postura de Paes foi criticada pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL). No Facebook, Alencar disseque a greve impõe a revisão "do jeito de a prefeitura lidar com a categoria (sempre desrespeitoso)". Seu correligionário, o vereador Renato Cinco (PSOL) afirmou que o prefeito "age de forma autoritária e truculenta".

Ontem, decisão da Justiça do Trabalho subiu para R$ 50 mil a multa por cada dia de paralisação. A decisão pune o sindicato que terá que arcar com a multa. Nenhum representante do sindicato foi encontrado pelo Valor para comentar a crítica.

Fonte: Valor

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