terça-feira, 25 de março de 2014

Luiz Carlos Azedo: Uma bandeira caída no chão

Uma "faxina" na Petrobras pode ser uma maneira de a presidente Dilma preservar a velha bandeira nacionalista, mas é um jogo de alto risco

Ícone do nacionalismo brasileiro desde 1953, quando foi criada por Getúlio Vargas, a Petrobras é uma espécie de mito intocável da política brasileira, graças à campanha “O petróleo é nosso”, iniciada em 1946, logo após a redemocratização. Esse foi o primeiro grande movimento de massas de caráter suprapartidário do país, liderado pelo general Felicíssimo Cardoso, que encabeçou uma aliança entre comunistas, trabalhistas e militares nacionalistas durante o governo Dutra.

A Petrobras se tornou uma potência econômica, mas manteve-se como bandeira de luta nacionalista, brandida com vigor até hoje, sempre que alguém ameaça os interesses da empresa. Com o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, por US$ 1,19 bilhão, a presidente Dilma Rousseff deixou essa bandeira cair e talvez não consiga empunhá-la novamente nas eleições. O mau negócio ocorreu quando presidia o conselho de administração da empresa. Somam-se ao episódio o leilão do poço de Libra da camada pré-sal, que petroleiros e uma parte da esquerda consideram, com exagero, uma atitude lesa-pátria; e o suposto recebimento de propina por funcionários da empresa na Holanda, que está sendo investigada pelo Congresso, a Polícia Federal e a própria empresa.

Há outros investimentos duvidosos, como a construção da refinaria Abreu e Lima, em parceria com a venezuelana PDVSA, que abandonou a empreitada. Custaria US$ 2,3 bilhões e já está em US$ 20 bilhões. Novas refinarias no Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro não saíram do papel. A refinaria de Nansei, no Japão, que custou US$ 71 milhões, também é considerada um mau negócio, endossado por Dilma Rousseff quando presidia o conselho. Além disso, o governo segura o preço da gasolina para controlar a inflação. Assim, as ações da empresa se desvalorizaram em mais de 50% nos últimos oito anos.

Campanhas eleitorais
Nas eleições de 2002 e de 2006, porém, a Petrobras foi um troféu nas mãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou os tucanos de tentar vender a empresa. O PT criticou duramente a quebra do monopólio estatal e a adoção do regime de concessões para exploração de petróleo, embora o modelo tenha sido muito bem-sucedido do ponto de vista do aumento de investimentos e da produção. A mudança do modelo de exploração para o regime de partilha, por causa do pré-sal, patrocinada por Lula, porém, foi um ponto de inflexão no desempenho do setor, muito embora o discurso nacionalista se mantivesse de pé. Depois do leilão de Libra, que somente não fracassou por que o governo jogou pesado para atrair os chineses e outras empresas que já operam no Brasil, tudo mudou. O que não falta é notícia ruim sobre a Petrobras.

Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o senador Aécio Neves (MG) cita o exemplo da Petrobras para dizer que a presidente Dilma Rousseff não está “capacitada” para governar o país. Aécio pretende mobilizar forças para a abertura de uma CPI no Congresso para investigar a empresa. Com isso, o ex-governador mineiro quer neutralizar um ponto franco dos tucanos nas eleições passadas. Outro que aproveita a oportunidade para atacar Dilma Rousseff é o pré-candidato do PSB à Presidência, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que levantou suspeitas de desvalorização proposital no valor de mercado da empresa.

Há mais coisas entre o continente e as plataformas de petróleo, porém. A presidente Dilma Rousseff admitiu que avalizou a compra da refinaria de Pasadena com base em parecer técnico “falho” para se antecipar à condenação da operação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que considera a compra de Pasadena prejudicial ao Tesouro. E mandou demitir o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, responsável pela operação, do cargo que ocupava na diretoria da BR Distribuidora. Na véspera dessa demissão, o ex-diretor de operações da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso, acusado de envolvimento com lavagem de dinheiro. Ele também participou da compra de Pasadena.

Uma “faxina” na Petrobras pode ser uma maneira de a presidente Dilma preservar a velha bandeira nacionalista, mas é um jogo de alto risco. Envolve políticos aliados e alguns apadrinhados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli. A próxima cabeça a rolar seria a do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, um velho desejo de Dilma Rousseff.

Fonte: Correio Braziliense, 24/3/2014

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