domingo, 23 de março de 2014

O chamado para Tasso voltar às urnas

Por palanque no Ceará e para reduzir força de Dilma no Nordeste, Aécio convoca ex-senador

Débora Bergamasco, - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a urgente necessidade de conseguir um palanque de peso no Nordeste, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência, pressiona o empresário e ex-governador do Ceará Tasso Jereissati a retornar ao mundo político. Apesar de sentir falta da vida pública, o tucano cearense sinaliza não estar disposto a entrar na disputa caso suas chances de vitória não sejam muito altas - e disso dependem os movimentos dos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PROS. Tasso resiste, pois não suportaria outra derrota como a de 2010, quando não foi reeleito senador.

Aécio sabe que não conseguirá vencer a presidente Dilma Rousseff (PT) no Nordeste, mas tem como estratégia não deixar a petista abrir larga vantagem por lá. O Ceará é fundamental na matemática tucana: é o terceiro maior colégio eleitoral da região, atrás da Bahia, onde o PT é governo, e de Pernambuco, do governador e pré-candidato do PSB Eduardo Campos; é o sétimo do País em número de eleitores; e já foi um reduto do PSDB no passado. Tasso comandou o Ceará por três mandatos - o primeiro, nos anos 80, ainda pelo PMDB e os outros dois no PSDB - e ajudou a eleger o primeiro governador tucano no País - por ironia, o hoje aliado de Dilma e do PT Ciro Gomes.

Em 2010, decepcionado após perder a vaga no Senado para Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT), Tasso sumiu do cenário político e mergulhou em seus negócios. Há quatro anos ele representava a Coca-Cola em quatro Estados. Desde então, triplicou esse número e distribui o refrigerante em 12 unidades federativas. Inaugurou e ampliou mais três unidades do Shopping Iguatemi e seu grupo criou uma nova cadeia de centros comerciais chamada Bosque dos Ipês.

Apesar de apoiá-lo em qualquer que seja sua decisão, a família de Tasso, que já teve problemas de coração, não gostaria de vê-lo novamente envolvido com política. O motivo é que, apesar do dia a dia corrido de homem de negócios, hoje ele ainda consegue dedicar-se aos seus como nunca foi possível nos tempos de vida pública. Recentemente, tirou uma semana para levar os netos para a Disney, por exemplo. Foram sete dias andando nos brinquedos do parque como se fosse criança, relata uma pessoa próxima a ele.

Cenários. Se Tasso topar voltar à política, a aliança ideal vislumbrada por Aécio Neves seria ter o correligionário como candidato ao Senado e o peemedebista Eunício Oliveira concorrendo ao governo. Tasso só não topa a dobradinha caso tenha de enfrentar Cid ou Ciro Gomes - e a força dos irmãos, detentores da máquina estadual há oito anos - na disputa pela única vaga de senador em jogo.

Aproveitando a onda de descontentamento do PMDB com o PT e o aparente projeto hegemônico do PROS no Estado, Aécio tem conversado sistematicamente com Eunício para formar chapa com os tucanos. Na semana passada, chegou-se a falar em uma aliança formal. Tasso também sentou para conversar com o peemedebista.

Entretanto, os principais personagens políticos do Ceará estão à espera da definição de Cid sobre seu futuro. Eunício prefere a aliança natural com o PROS, que integra a base aliada de Dilma, e não com o oposicionista PSDB. Mas Cid não quer indicar um concorrente ao Senado na chapa de Eunício - o governador quer alguém de seu próprio partido para suceder-lhe no Executivo cearense.

Em viagem ao Ceará na semana passada, Dilma sinalizou repetidas vezes que torce para que PROS e PMDB fechem o acordo regional, um modo de evitar que os peemedebistas debandem para os tucanos no Estado.

Por isso, Eunício tem dito a pessoas próximas que quer tentar todas as possibilidade de se aliar com um partido da base dilmista. Ele se dá o prazo até abril para desatar o nó e decidir seu destino. Costuma dizer que não ficará sozinho por causa dos irmãos Gomes, que têm histórico de traição política, pois teme ser enrolado até junho, prazo que inviabilizaria sua aliança com outras legendas. E já se baseia no exemplo do senador Delcídio Amaral (PT-MS) que, sem acordo regional, deve acabar se unindo com o PSDB em Mato Grosso do Sul. Caso os desentendimentos entre PMDB e PROS permaneçam no Ceará, o partido de Aécio Neves pode enfraquecer um dos palanques de Dilma.

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