terça-feira, 18 de março de 2014

Raymundo Costa: Sem "onda vermelha" no horizonte

PT refaz avaliação de crescimento de suas bancadas

O PT fez as contas e concluiu que não tem como se tornar hegemônico no Senado e na Câmara, nas próximas eleições, conforme o temor manifesto da oposição e dos aliados. Só diz isso quem não se deu ao trabalho de fazer os cálculos ou quer tumultuar ainda mais a sucessão presidencial e as relações na base governista, segundo avaliam líderes petistas.

De acordo com levantamentos do PT, o partido no máximo mantém sua atual bancada na Câmara, que é de 87 deputados, e talvez tenha algum crescimento no Senado. A bancada tem 13 senadores, mas o número exato é de 14 - o suplente de Marta Suplicy (SP), que no momento ocupa o Ministério da Cultura, é do PMDB. Marta tem mais quatro anos de mandato e pode voltar em 2015, se não permanecer no novo governo.

Dos atuais senadores petistas, três devem disputar a reeleição. Contando com Marta, o PT já entra em 2015 com 11 senadores. Resumindo: para chegar a 20 senadores - que é o número do PMDB, atualmente a bancada majoritária -, o PT precisa eleger pelo menos nove de seus candidatos. Ocorre que o partido não deve disputar o Senado em cerca de 18 Estados (incluindo o Distrito Federal), número que pode aumentar - para privilegiar alianças regionais - ou diminuir. Nada significativo, para maior ou para menor. Ou seja, para se tornar hegemônico no Senado, o PT precisaria eleger algo em torno de 90% das vagas que disputará nesses Estados.

Hegemônico não é propriamente a palavra correta, porque se eleger nove ou dez senadores, o PT terá uma bancada majoritária, como atualmente é a do PMDB. O partido se tornaria menos vulnerável a barganhas com os pemedebistas e outros aliados, é bem verdade; mas ainda precisaria de uma generosa porção de votos dos aliados para aprovar projetos que têm a marca do PT. Por exemplo, a proposta de regulamentação social da mídia.

Na região Sul, o PT pode ter candidato ao Senado em Santa Catarina. Depende ainda dos acertos locais. Nos quatro Estados do Sudeste, só o senador Eduardo Suplicy, em São Paulo, um dos três senadores petistas que precisam renovar o mandato. O Norte deve ter um candidato, no Pará, em acordo com o PMDB do senador Jader Barbalho, apesar da forte oposição de facções petistas.

No Centro-Oeste om PT não terá candidato em Mato Grosso, nem em Mato Grosso do Sul. Falta uma definição para Goiás. No Distrito Federal, onde o candidato à reeleição é do PT, a vaga para o Senado deve ser usada para negociação.

Se a candidatura do senador Delcídio Amaral ao governo de Mato Grosso do Sul obtiver sucesso, o PT perderá uma cadeira no Senado: o suplente de Delcídio é do PMDB. A maior concentração de candidatos petistas deve ser no Nordeste. Dos nove Estados da região, está certo apenas que o PT não disputará na Bahia, Maranhão, Piauí e Alagoas. Há eventuais candidatos em todos os Estados, mas as decisões serão de cúpula.

Na Câmara o cálculo é mais difícil de ser feito, por se tratar de uma eleição proporcional. A nominata dos Estados, no entanto, leva os líderes da campanha petista a avalizar que a bancada do PT no máximo empata com a atual, e se crescer dificilmente chegará a 130 deputados. São Paulo, por exemplo, tem 14 deputados federais. E há dúvidas se o partido pode repetir o desempenho de 2010.

As dificuldades em São Paulo não são pequenas. De saída, o PT não contará na eleição para federal com nomes bons de votos, em 2010, como João Paulo Cunha, condenado no processo do mensalão, Jilmar Tatto e José de Filipi Júnior, secretários da Prefeitura de São Paulo, nem com nomes novos que certamente seriam bem votados, como Rui Falcão, presidente do PT. Até José Genoino, que terminou a última eleição como suplente mas sempre carrega uma boa expectativa de votos.

Algum dos candidatos em São Paulo pode surpreender, inclusive pelo fato de o PT considerar que entra na eleição para o governo do Estado com uma candidatura competitiva, a do ex-ministro Alexandre Padilha. Mas qualquer projeção, à esta altura, é chute. Até porque há outras variáveis.

O palhaço Tiririca, nas eleições de 2010, segundo o cálculo do PT tirou pelo menos dois deputados do partido. Ele repetirá a caudalosa votação de 2010? Ninguém sabe. Tem ainda o mensalão e a administração de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, por enquanto, mal avaliada pela opinião pública. A melhor projeção de crescimento da bancada do PT é Minas Gerais, onde o partido terá um candidato competitivo a governador: Fernando Pimental, ex-ministro do Desenvolvimento. Um ou dois deputados a mais.

O PT começou os preparativos para a eleição de 2014, de fato, pensando em eleger maioria tanto na Câmara quanto no Senado. O número mágico de 130 deputados frequentou as conversas de seus dirigentes. Com o tempo, o partido precisou adequar os planos à realidade da política de alianças, principalmente depois que a presidente Dilma Rousseff levou um tombo nas pesquisas de junho de 2013.

No início, prioridade era a indicação de candidatos ao Senado nas chapas estaduais. Hoje, o planejamento do PT é vencer a eleição em um ou dois Estados no chamado Triângulo das Bermudas, onde se localizam os maiores colégios eleitorais da República - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O PT é competitivo também na eleição do Paraná. Em seu longo inverno na oposição, esses (à exceção do Rio) foram os Estados que garantiram até agora a sobrevivência do PSDB.

Uma nova "onda vermelha" como a de 2002, evidentemente, será saudada efusivamente pelos dirigentes petistas. Mas nem na cúpula do partido nem no embrião de comitê de campanha de Dilma a previsão hoje é de hegemonia no Congresso ou de um partido com o tamanho e as ramificações do PRI, que reinou por mais de 70 anos na política mexicana. Isso, é claro, para não falar do bolivarismo venezuelano, que é o pano de fundo real das avaliações sobre a suposta hegemonia a ser conquistada pelo PT no Congresso.

Fonte: Valor Econômico

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