segunda-feira, 28 de abril de 2014

Alberto Goldman: Padilha, não é ignorância, é desonestidade intelectual. Me dá ódio e nojo.

Há um mês li um belo artigo do Alexandre Padilha na pág. 3 da Folha de São Paulo. Fala do seu pai, preso, torturado e exilado no período da ditadura militar. Só veio a conhecê-lo quase aos oito anos de idade. Relata sua infância impactada por essa ausência. Diz, como o Dr. Ulisses Guimarães dizia, que tem ódio e nojo da ditadura. Como eu.

Fui contemporâneo e também vivi esses tempos de tristeza e de tensão. Nunca fui preso, torturado ou exilado. Estava aqui mesmo, no Brasil, usando a trincheira possível lutando pela volta da democracia. Ainda que com caminhos distintos, buscávamos o mesmo objetivo e chegamos lá.

Alexandre é bem mais jovem que eu. Um quadro novo da política nacional. Perdemos muitos quadros políticos, ou por morte, ou por desilusão ou por simplesmente por terem aderido ao jogo do poder pelo poder ou pelo que o poder pode trazer de benefícios pessoais. Mas alguns, como Alexandre, seriam a esperança de recuperar o que se perdeu no período trágico de 20 anos de ditadura e autoritarismo.

O que mais se exige desses novos quadros é, como parte de conduta moral e ética irrepreensível, a honestidade intelectual. Tenho ódio e nojo também da falta dela. É o que eu esperava dele. É o que eu pratico.

Padilha passou a ser o candidato do seu partido, o PT. Sua entrada em cena, no entanto, não condiz com o que se poderia esperar face ao seu histórico pessoal e ao seu artigo na Folha. No programa partidário apresentado na TV ele se submete à falta de escrúpulos de seu partido e dos marqueteiros de sua campanha. Na mesma linha, aliás, de Fernando Haddad, outra novidade da política, que durante a campanha para a prefeitura não teve escrúpulos em fazer propostas e afirmações que sabia serem irreais ou inverídicas.

Padilha se apresentou no vídeo diante da represa Billings, cheia de água, e de uma represa do sistema Cantareira, andando em um chão esturricado, afirmando que isso comprova a falta de planejamento do governo do Estado. Uma represa cheia, a outra vazia. Desonestidade intelectual.

As equipes de Padilha sabem, e ele também – não vou admitir ignorância porque ele não é inocente - que a represa Billings foi construída com o objetivo de fornecer água para mover as turbinas da Usina Henry Borden, em Cubatão, está situada na bacia hidrográfica da Serra do Mar, cujos índices pluviométricos são elevados – e o foram neste último verão – recebe as águas do rio Tietê através do rio Pinheiros e, por isso, tem uma grande parte do seu corpo poluído por esgotos domésticos e industriais, o que a inviabiliza como fornecedora de água, a não ser em alguns de seus braços, que já vêm sendo utilizados para abastecer a metrópole.

Já a represa de Guarapiranga, na mesma bacia hidrográfica, está cheia, é fornecedora de água para parte da região metropolitana e está sendo utilizada no limite de suas possibilidades. Porque Padilha não fez imagens à beira do Guarapiranga?

A situação do Cantareira é distinta. Na sua bacia hidrográfica choveu em novembro metade da média histórica. Em Dezembro, pouco mais de um quarto e em Janeiro e Fevereiro apenas um terço. Abaixo de qualquer índice que se tem conhecimento. Além disso, a média de temperatura nesses meses foi a maior que se conheceu.

Assim não há como se comparar as duas bacias que abastecem as represas. É uma situação absolutamente inesperada, jamais prevista por qualquer instituto de meteorologia. Chuvas intensas em um sistema e seca no outro.

Padilha sabe disso. Não é ignorância. É desonestidade intelectual. O candidato com essa conduta, submetendo-se à falta de escrúpulos de seu partido, entra no rol dos mesmos que transformaram a nossa vida política no que ela é. É frustrante e, mais uma vez, me dá ódio e nojo.

Alberto Goldman, ex- governador de S. Paulo, é vice-presidente nacional do PSDB

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